VACINAS: PROGRESSOS E NOVOS DESAFIOS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS IMUNOPREVENÍVEIS
Vacunas: progresos y nuevos retos para el control de enfermedades prevenibles
Vaccines: Progress and Challenges for the Control of Preventable Diseases
EDUARDO FONSECA PINTO1, Ph. D.; NUBIA ESTELA MATTA2, Ph. D.; ALDA MARIA DA-CRUZ1, Ph. D. 1 Lab Interdisciplinar de Pesquisas Médicas, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. 2 Departamento de Biologia, Faculdad de Ciencias, Universidad Nacional de Colombia, Sede Bogotá, Colombia. Correspondencia: Eduardo Fonseca Pinto. eduardo@ioc.fiocruz.br
Presentado 8 de marzo de 2011, aceptado 28 de junio de 2011, correcciones 1 de julio de 2011.
RESUMO
Há mais de 200 anos a vacinação tem sido uma ferramenta muito efetiva na prevenção de doenças infecciosas e juntamente com o saneamento básico, o efeito prático da vacinação pode ser considerado o maior benefício à saúde pública do século XX. No entanto, o desenvolvimento de vacinas permanece um objetivo importante no campo da imunologia e na última década observa-se uma mudança em direção a uma abordagem mais racional, baseada em uma compreensão molecular da patogenicidade microbiana, na utilização de novas tecnologias recombinantes e no desenvolvimento de sistemas de liberação de vacinas mais efetivos. Este trabalho descreve o progresso no desenvolvimento de vacinas a partir dos primeiros relatos das práticas de vacinação, passando pelo estado atual de desenvolvimento de vacinas, pelas novas estratégias vacinais e pelo impacto da vacinação no controle das doenças imunopreveníveis.
Palavras chave: doenças imunopreveníveis, novas estratégias, vacinas.
RESUMEN
Desde hace más de 200 años la vacunación ha sido una herramienta efectiva en la prevención de enfermedades infecciosas junto con el saneamiento ambiental. El efecto práctico de la vacunación puede ser considerado como el mayor beneficio para la salud pública del siglo XX. Sin embargo, el desarrollo de vacunas sigue siendo un objetivo importante en inmunología y en la última década ha habido un cambio hacia un enfoque más racional, basada en los hallazgos moleculares de patogenia microbiana, el uso de nuevas tecnologías recombinantes y el desarrollo de sistemas de suministro de las vacunas más eficaces. En este trabajo se describen los progresos en el desarrollo de vacunas, partiendo de los primeros informes de prácticas de vacunación, hasta el estado actual del desarrollo de vacunas, las nuevas estrategias de vacunas y el impacto de la vacunación en el control de enfermedades prevenibles.
Palabras clave: enfermedades prevenibles, nuevas estrategias, vacunas.
ABSTRACT
For over 200 years, vaccination has been a very effective tool to prevent infectious diseases along with sanitation. In practical terms, it can be considered the greatest public health benefit of the twentieth century. However, vaccine development remains as a developing domain in the field of immunology and in the last decade there has been a shift towards a more rational approach in vaccination design, based on a molecular understanding of microbial pathogenesis, the use of new recombinant technologies and the development of more effective delivery systems for vaccines. This paper describes the progress in vaccine development from the first reports of vaccination practices, through the current state of vaccine development, the new vaccine strategies and the impact of vaccination in the control of preventable diseases.
Key words: New strategies, preventables diseases, vaccines.
INTRODUÇÃO
Uma estratégia inicial para se obter imunidade a um agente infeccioso era causar deliberadamente uma infecção leve com o patógeno não-modificado e esta infecção era seguida por uma proteção duradoura contra a reinfecção. Com base nestes relatos que existiam desde a antiguidade e que culminaram nos trabalhos de Jenner, o objetivo da vacinação de populações, a erradicação de doenças, foi conseguido em relação a varíola. A poliomielite é o próximo alvo e doenças como tétano, rubéola e difteria já são raras em alguns países. Assim, o efeito prático da vacinação, juntamente com o saneamento básico, pode ser considerado o maior benefício à saúde pública do século XX (van Ginkel et al., 2000).
O desenvolvimento de vacinas permanece um objetivo importante no campo da Imunologia e, desde o final do século XX, observa-se uma mudança em direção a uma abordagem mais racional, baseada no uso dos recursos da bioinformática, na utilização de novos recursos tecnológicos para obtenção e purificação de candidatos vacinais e no desenvolvimento de sistemas de liberação de vacinas mais efetivos (Daar et al., 2002).
Algumas das doenças infecciosas presentes na rotina diária das classes populares latino americanas, como a diarréia, verminoses intestinais, catapora, otites e pneumonia, são evitáveis através de medidas simples, como por exemplo, a lavagem apropriada das mãos, cuidados com o consumo de água, descarte adequado de lixo; ou através de vacinas, as doenças chamadas de imunopreveníveis. Este trabalho descreve o progresso no desenvolvimento de vacinas a partir dos primeiros relatos, passando pelo estado atual de desenvolvimento, as novas estratégias e o impacto da vacinação no controle das doenças infecciosas imunopreveníveis.
1. HISTÓRICO
Havia a observação, já há vários séculos, que algumas doenças infecciosas, como as chamadas viroses comuns da infância (caxumba, rubéola, sarampo, varicela) e mesmo a varíola, causavam doença uma única vez nas pessoas, pois os sobreviventes a uma primeira infecção se tornavam resistentes (imunes) àquela doença. Segundo relato atribuído a Tucídides (um grande historiador da Guerra do Peloponeso -ano 430 a.C.), esse conhecimento fazia com que os sobreviventes da praga que assolou Atenas fossem chamados para cuidar das pessoas infectadas (Gross e Sepkowitz, 1998; Cunha, 2004). Ao redor do ano 1000 d.C. começou a ser usado na China um método que consistia na inalação de pó feito à partir de crostas de lesões de indivíduos infectados pelo vírus da varíola e também na inalação de algodão embebido com o conteúdo das lesões. Há indícios também de que havia, em diferentes partes do mundo, a prática de se fazer pequenas incisões na pele de pessoas saudáveis, para inocular, com uma fina haste, material líquido proveniente das pústulas de doentes de varíola. Esses procedimentos conferiam imunidade contra a varíola humana (Gross e Sepkowitz, 1998).
Este procedimento denominado de variolização foi praticado na África, Índia e China por muito tempo antes de sua introdução na Europa no século XVIII. A inoculação do material contaminado proveniente de pústulas de um indivíduo infectado no tecido subcutâneo de indivíduos que nunca entraram em contato com a doença fazia com que a pessoa inoculada, na maioria dos casos, desenvolvesse uma doença branda e se curasse espontaneamente adquirindo imunidade. Apesar do procedimento apresentar uma mortalidade entre 1 e 3%, muito alta para os padrões atuais, e poder transmitir muitas outras doenças, como a sífilis, ele tinha grande vantagem quando comparado com a mortalidade de 20 a 40% que ocorria com a transmissão natural do vírus (Gross e Sepkowitz, 1998; Daniel-Ribeiro e Martins, 2009).
No século XVIII, a variolização chegou a Inglaterra graças aos esforços de Lady Mary Wortley Montagu (1689-1762), esposa do embaixador britânico na Turquia e ganhou força maior com o exemplo dado pelo príncipe e pela princesa de Gales em 1722, que permitiram que seus próprios filhos fossem inoculados. Um conhecimento comum na Inglaterra era que ordenhadeiras infectadas pelo vírus da varíola bovina (cowpox) desenvolviam uma doença branda e se tornavam imunes à varíola humana (smallpox). Há indícios que Benjamin Jesty (1737-1816) vacinou sua mulher e filhos para varíola humana inoculando material de pústulas provenientes de vacas infectadas com varíola bovina em 1774, sendo a primeira pessoa registrada na história que utilizou racionalmente a vacinação (Pead, 2003).
Estas observações abriram caminho para os trabalhos pioneiros do médico inglês Edward Jenner (1749-1823) que lançou as bases da vacinologia. Para provar a hipótese de que a infecção por varíola bovina conferia imunidade específica contra varíola humana, em 14 de maio de 1796, Jenner inoculou o garoto James Phipps, na época com oito anos de idade, com o fluido obtido das lesões presentes nas mãos da ordenhadeira Sarah Nelmes que havia sido infectada pelo vírus da varíola bovina. Em 01 de julho de 1796, Jenner inoculou o menino com o vírus da varíola humana e ele não desenvolveu nenhum sinal da doença, conforme Jenner previa. O trabalho de Jenner é considerado como o fundador da Imunologia como ciência e foi sua pesquisa e devoção ao procedimento que o popularizou na Inglaterra e, posteriormente, no mundo.
Posteriormente coube ao químico francês Louis Pasteur (1822-1895) lançar as bases metodológicas do preparo de vacinas. A partir dos experimentos com a bactéria causadora da cólera aviária e dos experimentos de cultivo e passagem do vírus da raiva em cérebro de coelho, Pasteur estabeleceu o princípio da atenuação para o desenvolvimento de vacinas. Sucessivamente, vários novos produtos foram sendo descritos, como a vacina contra cólera aviária, raiva e carbúnculo, pelo próprio Pasteur, e a vacina contra a difteria, por Roux e Yersin, esta última utilizando não a bactéria total, mas sim a toxina por ela produzida, e que em laboratório era tornada nãopatogênica por ação de agentes químicos como o formol. No final do século dezenove, foram obtidas ainda as vacinas contra a febre tifóide, peste e cólera.
2. BASES CONCEITUAIS EM VACINOLOGIA
As vacinas são preparações imunogênicas compostas por um grupo de substâncias (antígeno, adjuvante, preservativo veículo, etc.) que ao serem administradas a indivíduos imunocompetentes induzem um estado específico de proteção contra os efeitos nocivos do agente relacionado.
O termo adjuvante é utilizado para designar uma substância que, usada em combinação com um antígeno, resulta em resposta imune maior do que aquela produzida pelo antígeno administrado isoladamente. Entretanto, os efeitos dos adjuvantes não se restringem apenas ao aumento da imunogenicidade já que também podem promover a diminuição do período necessário para a indução da resposta imune, o aumento da duração da resposta de memória imunológica; a indução de imunidade em mucosas e a modulação da resposta imune, tanto celular como humoral (Simões e Ferreira, 2001). No desenvolvimento de uma vacina bem sucedida, o objetivo é alcançar uma formulação ideal que seja segura, que atue em dose única, produza imunidade protetora em uma proporção muito alta dos indivíduos, gere memória imunológica prolongada, tenha baixo custo por dose, tenha estabilidade biológica e seja de fácil administração.
Dentre os fatores que contribuem para relevância da pesquisa em vacinas estão: o desbalanço entre a velocidade do aparecimento de resistência microbiana aos novos antibióticos e o tempo para o desenvolvimento destes, a dificuldade no controle de vetores, o surgimento de novas ferramentas para o estudo dos patógenos (engenharia genética, uso de anticorpos monoclonais , genômica e proteômica), o aparecimento de doenças emergentes e reemergentes, a globalização e a facilidade de deslocamento das pessoas, as mudanças climáticas, ecológicas e sociais e o risco aumentado de epidemias e pandemias, o relato de sucessos crescentes da imunoterapia , o crescente conhecimento científico acerca do sistema imune e seu controle e o aumento do mercado relacionado as vacinas.
3. TIPOS DE VACINAS
O desenvolvimento de vacinas no inicio do século XX seguiu dois caminhos empíricos: primeiro, o uso de microorganismos atenuados, ou seja, com virulência reduzida; segundo, o desenvolvimento de vacinas baseadas em microorganismo morto ou inativado e terceiro, as vacinas baseadas em componentes purificados dos microorganismos.
4. VIAS DE IMUNIZAÇÃO
A maioria das vacinas utilizadas hoje em dia é administrada por via parenteral com seringa e agulha. Essa via tem duas desvantagens, a primeira de ordem prática, e a segunda imunológica. As injeções são dolorosas e caras, requerendo agulhas, seringas e um profissional treinado. O problema imunológico é que a injeção não é via usual de entrada da maioria dos patógenos contra os quais a vacinação é dirigida. Várias são as doenças causadas por patógenos que entram no organismo através de uma superfície mucosa como o trato gastro-intestinal ou respiratório e entre elas estão as meningites bacterianas e virais; a tuberculose, diarréias infecciosas, febre tifóide e a poliomielite. As mucosas têm associado a elas um sistema imunológico grande e complexo, anatômica e funcionalmente distinto daqueles encontrados em outras regiões do corpo no que se refere a processos especializados para captação, transporte, processamento e apresentação de antígenos, bem como mecanismos imunes efetores especializados, como a produção local de IgA secretória.
Grande parte das vacinas convencionais são eficazes na prevenção de doenças infecciosas que necessitam de anticorpos séricos circulantes (por exemplo, o tétano, a difteria e a coqueluche, assim como algumas doenças virais como febre amarela, hepatite A e B e caxumba). Entretanto, essas vacinas são incapazes de gerar resposta imune local, isto é, a produção de sIgA em mucosas, o que explica, em parte, a dificuldade de se desenvolver vacinas eficazes contra a AIDS e doenças entéricas. Para que uma resposta imune local seja gerada, a vacina deve ser administrada preferencialmente no sistema imune de mucosas e deve ser preparada de preferência com microrganismos atenuados capazes de se replicarem nos tecidos do hospedeiro. A vacina oral contra a pólio (Sabin) é um exemplo bem sucedido de vacina de mucosas. Atualmente, além da vacina contra pólio também são administradas por via oral as vacinas para febre tifóide, cólera e rotavírus (Simões e Ferreira, 2001). Além disso, vacinas de mucosas também são capazes de ativar respostas imunológicas sistêmicas, o que as tornam instrumentos valiosos para a proteção imunológica contra inúmeros patógenos.
Como exemplo do uso experimental das vias de mucosas na ativação de resposta imune sistêmica e eficaz contra uma doença por protozoário, resultados no modelo murino demonstraram que o lisado total de promastigotas de Leishmania amazonensis (LaAg) sem adjuvantes quando administrado pela via oral (Pinto et al., 2003) e também pela via nasal (Pinto et al., 2004) é capaz de induzir proteção em camundongos BALB/c infectados com a mesma espécie do parasito. Além do candidato vacinal LaAg, também foi observado no modelo murino a eficácia da vacinação nasal com DNA plasmidial codificando o antígeno denominado LACK (LACK-DNA) na leishmaniose cutânea (Pinto et al., 2004) e visceral (Gomes et al., 2007). Embora as vacinas orais ou nasais apresentem uma série de vantagens em relação às vacinas de administração parenteral, o número de vacinas de mucosas atualmente disponíveis ainda é muito limitado.
5. NOVAS ESTRATÉGIAS DE VACINAÇÃO
Na última década, os avanços no desenvolvimento de vacinas permitiram a introdução de novas estratégias para a obtenção e produção de antígenos, assim como foram desenvolvidas vias alternativas de administração e apresentação desses antígenos para as células do sistema imune (Illum et al., 2001).
O desenvolvimento de vacinas seguiu em direção a uma abordagem mais racional, baseada em uma compreensão molecular detalhada da patogenicidade microbiana, na utilização de novas tecnologias recombinantes e no desenvolvimento de sistemas de liberação de vacinas mais efetivos (Daar et al., 2002).
Dentre as novas estratégias no desenvolvimento de vacinas estão: a vacinologia reversa, as vacinas gênicas, as vacinas comestíveis, o desenvolvimento de sistemas de liberação controlada de vacinas e as vacinas imunoterapêuticas (Fig. 1; Rappuoli, 2004).
6. SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS IMUNOPREVENÍVEIS
O programa expandido de imunização (EPI) foi estabelecido em 1974 com o objetivo de expandir os serviços de imunização para as crianças de países em desenvolvimento. Seis vacinas para doenças imunopreveníveis foram incluídas no EPI: difteria, sarampo, coqueluche, poliomielite, tétano e tuberculose. Durante os anos 90 outras duas vacinas foram incluídas, contra febre amarela em países em risco e hepatite B. Todas as vacinas do EPI podem ser administradas simultaneamente, isto simplifica a rotina de imunização (Galazka, 1991). Para as doenças imunopreveníveis, as estimativas de mortalidade indicam o número de mortes que poderiam ser evitadas se as vacinas existentes fossem utilizadas em seu pleno potencial. Estas estimativas podem ser utilizadas para priorizar as intervenções de saúde pública.
Em 2002, entre as doenças para as quais as vacinas são universalmente recomendadas, a Organização Mundial da Saúde estimou que 1.000 crianças menores de 5 anos morreram de poliomielite, 4.000 crianças morreram de difteria; 15.000 crianças morreram de febre amarela, 198 mil crianças morreram de tétano, 294 mil crianças morreram de coqueluche; 386 mil crianças morreram de doenças relacionadas ao Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e 540 mil crianças morreram de sarampo (Fig. 2; CDC, 2006). Em relação a outras doenças que podem ser prevenidas por vacinas mas que não são universalmente recomendadas pela OMS, o maior número de mortes entre crianças menores de 5 anos foram atribuídos à doença pneumocócica (716.000) e a infecção por rotavírus (402.000; Fig. 2). No mesmo ano foi estimado que de 10,5 milhões de mortes de crianças menores que 5 anos em todo o mundo, cerca de 2,5 milhões foram por doenças imunopreveníveis e cerca de 1,9 milhões (76%) destas mortes ocorreu na África ou no sudeste da Ásia (CDC, 2006).
7. O IMPACTO DA VACINAÇÃO NAS DOENÇAS IMUNOPREVENÍVEIS NO BRASIL
O acesso universal e gratuito a vacinas eficazes, seguras e de qualidade vem permitindo importante impacto sobre doenças imunopreveníveis, resultando em mudanças no padrão de adoecimento e morte da população brasileira, especialmente a população infantil, com destaque para a queda da mortalidade por doenças infecciosas, refletindo de forma bastante positiva nos índices de mortalidade infantil (Ministério da Saúde, 2006).
O Brasil tem apresentado êxitos significativos na redução de grande número de doenças transmissíveis para as quais dispõe de instrumentos eficazes de prevenção e controle, motivo pelo qual as mesmas estão em flanco declínio. A poliomielite foi erradicada em 1989; a transmissão do sarampo foi interrompida desde o final de 2000 e a difteria e a coqueluche são outras doenças transmissíveis com tendência ao declínio. Tem-se também observado significativa redução na ocorrência da meningite causada por H. influenzae tipo B (Tabela. 1; WHO, 2010).
Um programa de vacinação efetivo fornece imunidade grupal. Com a redução do número de membros suscetíveis de uma população, o reservatório natural de indivíduos infectados diminui, reduzindo a probabilidade de transmissão da infecção. Assim, mesmo os membros não-vacinados de uma população podem ser protegidos da infecção, se a maioria for vacinada. O programa adotado no Brasil, denominado Programa Nacional de Imunizações (PNI), constitui peça importante no controle das doenças transmissíveis que podem ser prevenidas mediante vacinação. O modelo tecnológico adotado no controle dessas doenças combina uma série de elementos: a vacinação de rotina, os dias nacionais de vacinação, as campanhas periódicas e a vigilância epidemiológica (Ministério da Saúde, 2006).
A vacinação de rotina consiste no estabelecimento de um calendário nacional de vacinações que deve ser aplicado a cada indivíduo a partir de seu nascimento, visando garantir, no âmbito individual, a prevenção específica das doenças imunopreveníveis; e, no âmbito coletivo, a indução da imunidade de massa, responsável pela interrupção da transmissão. A vigilância epidemiológica constitui estratégia complementar para o controle dessas doenças, uma vez que, a partir de um caso suspeito, serão desencadeadas ações com o objetivo de impedir o aparecimento de novos casos -ou seja, interromper a cadeia de transmissão.
CONCLUSÕES
Com o progresso conseguido desde os primeiros relatos das práticas de vacinação até as novas estratégias vacinais e o impacto da vacinação na redução do número de casos de doenças imunopreveníveis durante os anos, espera-se que o controle ou até a erradicação de várias doenças possa estar perto de ser alcançado em um futuro próximo.
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