A importância da orizicultura na constituição do espaço geográfico: evolução e dinâmica da produção de arroz no período de 1930 a 2010 em Ituiutaba (Minas Gerais - MG, Brasil) e a inserção de novas culturas
La importancia del cultivo de arroz en la construcción del espacio geográfico: evolución y dinámica de la producción de arroz en el periodo de 1930 a 2010 en Ituiutaba (Minas Gerais - MG, Brasil) y la inserción de nuevas culturas
The Importance of Rice Production in the Construction of Geographical Space: Evolution and Dynamics of Rice Production and the Insertion of New Crops in Ituiutaba (Minas Gerais - MG, Brasil) between 1930 and 2010
Roberto Barboza Castanho*
Thales Silveira Souto**
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Minas Gerais - Brasil
*Professor Doutor na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Curso de Geografia, Coordenador do Laboratório de Geotecnologias -LAGEOTEC; desenvolve pesquisas nas linhas de geotecnologias, espaço agrário, meio ambiente entre outras.
Endereço postal: Universidade Federal de Uberlândia (UFU) / Campus Pontal, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP), Curso de Geografia, Laboratório de Geotecnologias (LAGEOTEC), Rua 20 n.° 1600 - Bairro Tupã, sala A312, 2° Andar. Ituiutaba - Minas Gerais, Brasil.
Correio eletrônico: rbcastanho@gmail.com
**Discente na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Curso de Geografia, desenvolve pesquisas no Laboratório de Geotecnologias -LAGEOTEC e atua nas áreas de geotecnologias, espaço agrário, meio ambiente entre outras.
Correio eletrônico: thales.souto@hotmail.com
RECEBIDO: 27 DE AGOSTO DE 2012. ACEITO: 29 DE JANEIRO DE 2013.
Artigo fruto das pesquisas realizadas no Laboratório de Geotecnologias (LAGEOTEC) da Universidade Federal de Uberlândia, da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (UFU/FACIP), que visa aos estudos do espaço geográfico, principalmente na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.
DOI: 10.15446/rcdg.v23n1.32465
Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar a evolução e a dinâmica da produção agrícola no município de Ituiutaba (MG) ressaltando a importância do cultivo do arroz no período de 1930 a 2010 e as condições para a incorporação de outros plantios. Metodologicamente é inclui uma exploração teórica, uma trabalho de campo, a coleta e tabulação dos dados censitários e, finalmente, é desenvolvido gráficos mostrando a evolução da produção agrícola. Como resultado nos permitiu avaliar da produção agrícola de Ituiutaba, o que proporcionou uma visualização da importância do cultivo de arroz em outros momentos e a compreensão da atual realidade do espaço agrário.
Palavras-chave: arroz, desenvolvimento, Ituiutaba (MG), produção agropecuária.
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo analizar la evolución y la dinámica de la producción agrícola en el municipio de Ituiutaba (MG), resaltando la importancia del cultivo del arroz en el periodo de 1930 a 2010 y las condiciones para la incorporación de otros plantíos. Metodológicamente se incluye una exploración teórica, el trabajo de campo, la recolección y tabulación de datos censales y, finalmente, se desarrollaron gráficos que muestran la evolución de la producción agrícola. El resultado de este trabajo nos permitió evaluar la producción agrícola de Ituiutaba, lo que ha proporcionado una visualización de la importancia del cultivo de arroz en otros momentos y la comprensión de la actual realidad del espacio agrario.
Palabras clave: arroz, desarrollo, Ituiutaba (MG), producción agropecuaria.
Abstract
The objective of this study was to analyze the evolution and dynamics of agricultural production in the municipality of Ituiutaba (MG), highlighting the importance of rice cultivation between 1930 and 2010 and the main conditions for the insertion of new crops. The work carried out involved the design of a theoretical framework, including fieldwork, collection and tabulation of census data, and charting the evolution of agricultural production on graphs. The results of the study made it possible to evaluate the agricultural production trends in Ituiutaba, thus making it possible to visualize the importance of rice crops at certain times and understand the current reality of agrarian space.
Keywords: rice, development, Ituiutaba (MG), agricultural production.
Introdução
A constituição do espaço geográfico ocorre por diversas maneiras, que podem ser organizadas de acordo com o uso, ocupação e apropriação do homem a ele. Esta pode ser relacionada à produção agropecuária, extração vegetal, mineração, utilização dos recursos hídricos, potenciais turísticos, assim como também devido a sua localização.
Ao considerar o município de Ituiutaba-Minas Gerais (MG)— Brasil (figura 1), destaca-se que a produção agropecuária, especificamente relacionada ao cultivo do arroz, possuiu primordial importância para o seu desenvolvimento. A orizicultura permaneceu forte entre as décadas de 1930 a 1970, porém este trabalho apresenta com maior ênfase a produção agrícola a partir da década de 1950.
A produção de arroz influenciou em variados aspectos, no que tangem a evolução do espaço urbano, ao inserir empresas que subsidiavam esta atividade, juntamente com a territorialização de indústrias de beneficiamento de arroz. Consequentemente houve um acréscimo na economia, o que proporcionou melhorias na infraestrutura urbana por meio da construção de vias com paralelepípedos e melhoramento da iluminação, dentre outros avanços. Faz-se importante destacar alguns fatores que proporcionaram a expansão do cultivo do arroz, como: as propriedades do solo, aliado aos fatores climáticos da região, a facilidade de produção deste, juntamente com as necessidades desta cultura na época tanto para o abastecimento do município quanto para a demanda da região e do país.
Para melhor compreensão e apresentação da área pesquisada, destaca-se que o município de Ituiutaba localiza-se na região Sudeste do Brasil (de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — doravante IBGE, o território brasileiro é dividido em 5 regiões, que são: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste). Em cada região existem as unidades federativas, que são os estados (26 estados mais o Distrito Federal), nestes há uma subdivisão entre Mesorregiões Geográficas — doravante MSG1, sendo que no estado de Minas Gerais, há um total de 12. O município de Ituiutaba é pertencente à Mesorregião do Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba (figura 2), localizada a Oeste de Minas Gerais. Em cada MSG existe a divisão por Microrregiões Geográficas — doravante MRG2.
Ituiutaba é sede de uma MRG, neste sentido possui alguns fatores que caracterizam esta função, que é a importância econômica, de prestação de serviços (comércio, educação, saúde, segurança, entre outros) aos municípios limítrofes, que são: Cachoeira Dourada, Capinópolis, Gurinhatã, Ipiaçú, Santa Vitória e Ituiutaba, o município polo. Esta função foi atribuída a Ituiutaba devido aos fatores supracitados os quais são relativos ao momento em que a agricultura era importante para a economia do município.
A produção de arroz em Ituiutaba teve suas variações de acordo com a atuação do mercado e alguns outros motivos, sendo esses relacionados à necessidade e a inserção de novos tipos de produções agroindustriais, políticas de desenvolvimento desta área e também por meio da busca de melhores rendimentos econômicos pelos grandes produtores rurais. Houve a inserção de outras culturas, reduzindo a área plantada de arroz em hectares (ha) no município.
Evidencia-se que ocorreu a redução na área plantada (ha) de arroz em casca, após a década de 1970. E para melhor representação deste fato, buscou-se no site do IBGE —Sistema de Recuperação Automática— doravante SIDRA dados que mostram a redução na área plantada de arroz, o que possibilitou a observação do crescimento da área plantada de milho, algodão, soja, e nas duas últimas décadas da cana-de-açúcar.
A expansão da produção de outras culturas ocorreu a partir do início da modernização da agricultura (década de 1970), sobretudo da soja. Ressalta-se também a facilidade bancária que os grandes produtores rurais possuíram como o crédito, o incentivo fiscal, dentre outros, aliado às políticas de desenvolvimento desta região.
Ao ocorrer impactos em Ituiutaba e na região a partir do uso e ocupação para as novas monoculturas, aconteceu a redução de propriedades rurais de produção familiar, pois esses não conseguiram competir com os latifundiários, faltando crédito, incentivos fiscais para o desenvolvimento das atividades de subsistência, e para atender a demanda do espaço urbano. Os grandes produtores, por sua vez, ocuparam as áreas onde se produzia outros alimentos importantes para o consumo diário, além das áreas nativas do Cerrado3.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi apresentar a importância da produção de arroz no município outrora, a identificação da evolução econômica sob os efeitos desta cultura e a amostragem da produção de arroz na atualidade e demais produções agrícolas.
Permitiu avaliar por meio da realização desta pesquisa a valorização do cultivo de arroz para a economia local e a redução da produção deste, devido à inserção de outras culturas e atividades agropecuárias, identificando a importância que o uso do solo possui para Ituiutaba e região.
Este trabalho estrutura-se na apresentação da transformação do espaço geográfico de Ituiutaba a partir da expansão da orizicultura; em seguida há uma discussão sobre a redução da produção de arroz, sendo que isto ocorreu devido ao desenvolvimento de políticas de evolução desta região, que são alicerçadas nos programas para ampliar a produção agrícola no Cerrado; retrata também a realidade da produção de arroz após a inserção de outras atividades agropecuárias; outro aspecto trabalhado é em relação a atual configuração da produção agrícola neste município, e os novos atores que estão proporcionando o crescimento de algumas culturas nesta área.
A mudança no espaço geográfico por meio da produção de arroz
Por volta dos anos de 1930, ocorreu o garimpo de diamantes no município de Ituiutaba no Rio Tijuco, rio este que intitulou a cidade e a população, pois o primeiro nome deste lugar foi: Arraial de São José do Tijuco. A exuberância, a necessidade deste rio para abastecer a população urbana e rural, além da importância do mesmo na história proporciona até os dias atuais a denominação dos moradores deste lugar, como: "tijucano".
A realização do garimpo proporcionou a migração de garimpeiros de outros lugares. Porém, esta atividade durou cerca de 10 anos, pois não teve destaque na extração de pedras preciosas. Com o fim desta, teve-se um ocioso número de pessoas desempregadas.
Os trabalhadores que permaneceram na cidade forneceram mão de obra para as fazendas produtoras de arroz, pois, justamente nesta época, a orizicultura estava em crescimento na região, isto em meados dos anos de 1940 (Chaves 1985). O "[...] fluxo populacional foi bem aceito pelos moradores de Ituiutaba, pois significa trabalho e capital investidos no comércio e na cidade [...]" (Oliveira 2003, 60).
O cultivo de arroz neste município e na sua microrregião foi essencial, pois de acordo com Ramos, a mineração possui limite, diferenciando da agricultura, sendo esta uma atividade considerada reprodutiva,
Como se sabe, a atividade agropecuária pode ser considerada uma parte do que se convencionou chamar de "setor primário" de uma economia. A outra parte era a atividade extrativa ou a mineração. A diferença básica entre elas é óbvia: enquanto a agropecuária —composta da produção vegetal e da produção animal— é reprodutiva, ou seja, pode-se afirmar que sua capacidade de oferta é inesgotável, já que depende fundamentalmente do trabalho humano, a atividade extrativa é não reprodutível, pois a obtenção de bens minerais encontra seu limite no estoque disponível, o qual é passível de exaustão. (Ramos 2007, 19)
No cenário produtivo tanto do Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba quanto do estado de Minas Gerais, Ituiutaba destacou-se devido à alta produção de arroz entre as décadas de 1950 a 1970, podendo até considerar que ocorreu um "divisor de água" para o município, existindo o antes da expansão da produção deste cereal, o durante e o depois.
A orizicultura proporcionou a Ituiutaba a evolução urbana, relacionando-se a oferta de infraestrutura, abertura de estradas, territorialização de empresas relacionadas às atividades de beneficiamento e armazenagem deste grão, além do crescimento da oferta de serviços, como armazéns, revendedoras de implementos agrícolas, revendedoras de automóveis, dentre outros. Congruentemente a evolução do espaço urbano, houve a transformação do espaço rural, sendo esta caracterizada pela devastação das áreas de Cerrado, e o crescimento na cultura de arroz. Neste sentido, de acordo com Oliveira,
Se no início do século XX, o café foi o "ouro negro" para o Brasil, gerando divisas que vieram materializar-se mediante fixos e fluxos voltados para o transporte, comunicação, indústria e pela própria urbanização, semelhantemente, o arroz também foi "ouro" para Ituiutaba, tornando-se a base do desenvolvimento e da divisão intra-regional do trabalho, nos setores urbano e rural da Microrregião de Ituiutaba. (Oliveira 2003, 16)
Ressalta-se que as mudanças ocorridas pela produção de arroz em Ituiutaba proporcionaram o desenvolvimento nos setores relacionados ao espaço agrário e o incremento do espaço geográfico como um todo, no qual possibilitou o desenvolvimento deste município por meio desta produção agrícola.
Nesse sentido, percebe-se que para uma boa produção, necessita-se dos fatores físico-químicos, no qual se relacionam com o clima, solo, luz, água, temperatura, dentre outras necessidades, sendo estes preponderantes para que haja resultados favoráveis à agricultura. É importante apresentar a contribuição de Ramos no qual se destaca
[...] a importância da terra como "fator de produção", seja quanto à sua fertilidade, seja quanto à sua localização, o que faz dela um "bem" que pode ser apropriado por um grupo restrito de pessoas. Suas atividades podem fornecer uma ampla gama de bens, sejam alimentos, sejam insumos diversos. Pode-se destacar nesse conjunto o mercado de bens para alimentação humana, mas cabe lembrar os bens que são matérias-primas industriais e os que se destinam ao consumo animal. (Ramos 2007, 19-20)
Considera-se que as terras deste município eram propícias para este tipo de produção, além do clima, sendo este relacionado às características naturais daquelas. Até porque,
O arroz é cultivado numa faixa de grande amplitude, desde as regiões tropicais até as temperadas. A cultura do arroz se adapta aos mais variados climas, tendo como fatores climáticos de maior importância a temperatura, a radiação e o fotoperíodo. (Neves 2007, 5)
Outro importante fator que é aliado para o desenvolvimento desta região, é a localização geográfica, pois este se localiza entre importantes estados brasileiros, como Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Os estados que fazem divisa com os seus limites territoriais são de grande importância econômica, política, e possuem forte produção agrícola. Deve-se considerar também a fala de Melo, pois ressalta que
[...] o marco decisivo para a economia do Triângulo Mineiro foi a construção de Brasília: a região passou a estar localizada estrategicamente entre a principal área econômica do País – São Paulo – e a administração central – Brasília. Para a história do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, a construção da capital federal e do sistema rodoviário que ligou a nova capital ao núcleo dinâmico do País promoveu uma expansão agrícola mais vigorosa nas áreas dos cerrados, [...]. (Melo 2005, 36)
Devido a estas características supracitadas, principalmente quando considerado a aproximação com o estado de São Paulo, há maior facilidade para a distribuição produtiva por meio da abertura de estradas, além da existência das linhas férreas ligando o Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba, aos principais centros consumidores. Fatores imprescindíveis para o crescimento na produção agroindustrial desta área.
Ao longo do período em que o cultivo do arroz permeou como o mais importante para esta área, foi-se expandindo e valorizando cada vez mais esta cultura, até chegar à fama do município como sendo a "Capital do Arroz no Brasil". Dessa forma, esta cidade obteve grande desenvolvimento, influenciado a este momento de circulação econômica, possibilitando a instalação de grupos empresariais e alguns ramos industriais, sobretudo relacionados ao beneficiamento do arroz.
A partir da valorização desta produção, houve significativo aumento no produto interno do município, tendo como reflexo o desenvolvimento da cidade, relacionado à urbanização. No espaço urbano central, iniciou a implantação de variadas empresas e galpões que faziam o armazenamento e o beneficiamento da produção agrícola, e para atender a necessidade da supracitada produção, houve também a instalação de empresas revendedoras de maquinários e implementos, além de bancos e dos comércios que subsidiavam o consumo tanto dos fazendeiros quanto dos trabalhadores rurais, caracterizando-se em armazéns para a compra de mercadorias de utilidade no dia-a-dia da população. Destacando também a construção de um grande cinema que representou este momento de crescimento econômico do município.
A diminuição da produção do arroz: resultado da inserção de novas culturas
A orizicultura até a década de 1970 proporcionou a Ituiutaba e à sua Microrregião crescimento populacional e econômico valorizando a importância desta produção agrícola para a região. Porém, deve-se lembrar de que a agricultura possui alguns fatores que delimitam a produção, neste sentido, percebe-se que a ocorrência da redução da área plantada de arroz deve-se a alguns motivos, Mazoyer e Roudart destacam alguns aspectos para este fato, enfocando que
Esse formidável avanço de uma certa forma de agricultura moderna não continha em si mesmo nenhuma razão para prejudicar o desenvolvimento das outras formas de agricultura. Mas, paralelamente à revolução agrícola, a revolução dos transportes expandiu e colocou em concorrência todas as agriculturas do mundo. (Mazoyer e Roudart 2008, 492)
Com isso, destaca-se que tanto os aspectos naturais, relacionando os componentes e atributos do solo, clima, dentre outros, quanto os de delimitação propriamente de responsabilidade humana, ou seja, as políticas, determinaram o redirecionamento da produção agrícola em Ituiutaba.
Além da redução no plantio de arroz, também ocorreu um redirecionamento das empresas que prestavam serviços e que subsidiavam as necessidades desta cultura. Resultando a mudança dos setores de prestação de serviços, e até mesmo a falência das empresas que não se adaptaram às novas exigências, provindas dos novos usos do solo.
Como consequência deste fato, alguns produtores deste cereal tiveram problemas financeiros, porém houve alguns produtores que se adaptaram aos novos segmentos, como a produção de algodão, milho, soja, cana-de-açúcar, além da pecuária de leite e de corte. Até porque de acordo com Oliveira,
Após a década se 1970/80, os municípios da Microrregião de Ituiutaba passaram a investir numa economia voltada ao setor leiteiro e de carnes; serviços foram adaptados em função desse novo rural; técnicos e instituições de pesquisa ganharam relevância, tais como Embrapa, Emater, Universidade do Estado de Minas Gerais-UEMG, entre outros. (Oliveira 2003, 96)
O crescimento de outras atividades em Ituiutaba alicerçou-se na valorização dada pelo mercado e na implantação de instituições de pesquisa, dentre outros. E para absorver melhor este mercado em rotação, além das propriedades rurais terem de se adaptar às novas exigências e aos novos modelos de produções, os setores prestadores de serviços também tiveram que evoluir como tal ao considerar a redução na cultura do arroz, a inserção e aumento da produção de outros cultivos. Surgindo novas demandas, Mazoyer e Roudart descrevem que,
Hoje os estabelecimentos são, na maioria das vezes, inteiramente especializados num número muito reduzido de produções particularmente rentáveis. São equipadas com tratores pesados e grandes máquinas, fazem maciçamente apelo aos adubos minerais, aos produtos fitossanitários, aos alimentos do gado, a variedades de plantas e raças de animais altamente selecionados. Esses estabelecimentos vendem a quase totalidade de seus produtos nos mercados multirregionais e multinacionais e compram a maior parte de seus meios de produção, sendo que o autoconsumo e o autoabastecimento ocupam somente um lugar limitado. (Mazoyer e Roudart 2008, 425)
Ressalta-se que nos dias atuais, as produções vigentes estão induzidas à monocultura, e cada vez aumenta as exigências do mercado, fato que faz com que ocorra alta produtividade e com qualidade.
A inserção de novos tipos de cultivos na região foi alicerçada às políticas adotadas, como a ocupação e o desenvolvimento das áreas de Cerrado. Faz-se importante expor a fala de Carvalho e Cleps Junior, pois eles consideram que houve o desenvolvimento do Pontal do Triângulo Mineiro4, a partir da modernização da agricultura, por volta da década de 1970,
Esse cenário perdurou durante décadas até que mudou após a implantação de programas de expansão das atividades agrícolas no cerrado, pós 1975, aliado a mudança de estruturas e técnicas para o preparo do solo, minimizando os empecilhos agrícolas, [...]. É notório também destacar que a migração para a região de agricultores com poder aquisitivo elevado, vindos do sul do país, foi fator chave para essa reestruturação. Dessa forma, o cultivo de grãos a partir da década de 1970 foi responsável pela maior modificação que ocorreu no Pontal do Triângulo alterando as estruturas tradicionais de produção que se mantiam até então. (Carvalho e Cleps Junior 2008, 2)
É notório que além das políticas de ocupação e de desenvolvimento desta área, teve-se também o desenvolvimento de técnicas e tecnologias para melhor aproveitamento deste lugar, para a exigência do mercado interno, e principalmente ao mercado externo.
Por meio do incentivo ao desenvolvimento das áreas compreendidas por este bioma a partir da década de 1970, teve-se a criação de programas, como: Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO); Programa de Crédito Integrado e Incorporação dos Cerrados (PCI); Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP); Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER); aliada a estes programas, esta área possui alguns pontos importantes, que são: localização entre São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul; construção da Capital Federal Brasília no Centro-Oeste (na década de 1960); implantação de ferrovias interligando e distribuindo a produção para todo o Sudeste e Centro-Oeste brasileiro.
Posteriormente à década de 1970, juntamente com todos os fatores supracitados, houve a dinamização da produção agrícola fazendo com que as antigas produções como a orizicultura no município de Ituiutaba, que não se adaptou a este momento de inserção de tecnologia no campo, reduzissem a sua área plantada.
A partir da criação de políticas públicas principalmente no Cerrado5, têm-se prioridade da exportação da produção agropecuária, exigindo assim maior potencial tecnológico. O resultado da implantação de técnicas, manejos e melhoramento genético, dentre outras, é verificado na alta produção e na qualidade do produto final.
O reflexo desta priorização da exportação dos produtos agropecuários e a redução de incentivos no cultivo de alimentos primários (que possuem maior importância para a população brasileira) é a importação dele.
O arroz é um grão que ainda é cultivado no Brasil, mas devido ao grande consumo pelos brasileiros, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (Alonço et ál. 2005) "O consumo médio de arroz no Brasil varia de 74 a 76 Kg/habitante/ano", ainda segundo a EMBRAPA (Alonço et ál. 2005), necessita-se na atualidade importá-lo para consumo, pois,
O Brasil durante muitos anos foi exportador de arroz. Na década de 80 passou a importar pequenas quantidades (5% da demanda total) e, a partir de 1989/90, se tornou um dos principais importadores deste cereal, chegando a 2 milhões de toneladas, em 1997/98, quando atingiu, uma média superior a 10% da demanda interna. A lacuna entre a produção e o consumo anual de arroz irrigado, à partir da década de 90, passou a ser suprida, principalmente pelo Uruguai e Argentina, que responderam por cerca de 85 a 90% das importações brasileiras. (Alonço et ál. 2005)
Esta realidade é visível no espaço agrário de grande parte do território brasileiro, até porque, tanto a cana-de-açúcar que é produzida nas regiões: Sudeste, Centro-oeste e Nordeste; quanto à soja, produzida no: Sul, Sudeste e Centro-Oeste, não são consumidos em grande escala pelos brasileiros, diferentemente de outros grãos e demais culturas, como: arroz, feijão, milho, batata inglesa, entre outros. Assim, observa-se a importância que é dada ao mercado externo.
A produção de arroz após a inserção de novas culturas agrícolas
O arroz ainda na atualidade faz-se presente no campo brasileiro, de acordo com o Ministério da Agricultura (2012) "O Brasil é o nono maior produtor mundial e colheu 11,26 milhões de toneladas na safra 2009/2010. A produção está distribuída nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso".
Em Minas Gerais e principalmente na área pesquisada, sua área plantada reduziu-se, e isto ocorreu com maior ênfase nas últimas quatro décadas, pois se observa que houve o crescimento no cultivo de outros produtos.
Por meio das políticas de desenvolvimento de outras atividades agrícolas, incluindo nestes, a monocultura da soja e o número cada vez maior de arrendamento das fazendas às usinas sucroalcooleiras multinacionais produtoras de açúcar e álcool (para etanol), houve a queda nas culturas tradicionais desta região. Na fala de Mazoyer e Roudart é possível compreender os efeitos do aumento na produção de certas culturas e a inserção de novos tipos de uso do solo, enfatizando que,
É claro que entre essas agriculturas, as mais prejudicadas e as menos produtivas são inevitavelmente marginalizadas, mergulham na crise e são eliminadas pela concorrência das agriculturas mais poderosas. Mas aquelas que têm os meios para subsistir e progredir, revelam uma criatividade imensa e continuam a desenvolver-se segundo seus próprios caminhos. (Mazoyer e Roudart 2008, 42)
Considera-se que as políticas adotadas pelo governo e a facilidade de crédito para determinados tipos de produções, como a soja e a cana-de-açúcar na área estudada, sendo essas culturas permeadas pelas necessidades do mercado interno e externo, além dos fatores naturais fizeram com que a cultura do arroz neste município e na sua MRG diminuísse. Os produtores deste cereal não conseguiram adaptar-se às novas necessidades de desenvolvimento de técnicas para melhor rendimento, sendo assim, diminuíram a produção dele e alguns até deixaram de cultivá-lo, mesmo sendo este um dos principais alimentos presentes na mesa da população brasileira.
Dessa forma, valoriza-se dizer que para existir bons resultados e qualidade prioriza-se a produção de culturas que são relativas às necessidades do momento (incentivos políticos, rendimento econômico, entre outros), além das questões físicas e naturais. Em Ituiutaba, por meio dos fatores físico-químicos e econômicos tanto a soja quanto a cana-de-açúcar, entre outros, foram valorizadas nas últimas quatro décadas.
A produção agrícola na atualidade
A produção agrícola no atual cenário econômico brasileiro é discutida por vários autores, pois, cada vez mais se têm a incessante busca por melhores técnicas, manejo e maior produção resultando em melhores retornos econômicos aos empresários rurais.
Neste sentido, devido à modernização da agricultura no Brasil, Yeganiantz, descreve que
No bojo do processo de desenvolvimento econômico ocorrido no Brasil, nas últimas décadas, a agricultura também se desenvolveu e se modernizou, embora com defasagem e as taxas mais modestas. Com exceção de alguns bolsões de miséria, particularmente no Nordeste, a agricultura de subsistência perdeu importância. A agricultura moderna baseada na ciência e integrada ao mercado, teve um grande impulso. O mercado interno, ampliado pela urbanização, tornou-se o novo foco de dinamismo da demanda por produtos agrícolas, [...]. (Yeganiantz 1998, 315)
A evolução da agricultura em todo território nacional propiciou o crescimento na produção agroindustrial, com isso, a monocultura possui representativo índice de produção no Brasil. Esta alta produção ocorre para suportar as necessidades internas, assim como também as necessidades do mercado externo.
O arroz é um dos cereais mais consumidos pelo brasileiro, e ao haver a diminuição na sua produção em hectares (ha) para outros tipos de culturas, avalia-se que está ocorrendo o desenvolvimento de novos usos do solo para novas necessidades, como pode ser observado na tabela 1.
Ao considerar o desenvolvimento da produção e a sua modernização, que se alicerça na tecnologia e na alta produtividade, é importante refletir o que Peretti diz, pois
[...] a agricultura moderna, que maximiza a produção e o lucro, é insustentável e não pode continuar a produzir comida suficiente para a população do planeta a longo prazo porque deteriora as condições que a tornam possível, retirando excessivamente e degradando os recursos naturais dos quais depende, como as reservas de água, a diversidade genética natural e, especialmente, o solo. (Peretti 2006, 134)
Ressalta-se que em longo prazo, este tipo de agricultura moderna poderá ser prejudicial devido ao intenso uso de agrotóxicos para maximizar a produção agrícola, uso de maquinários pesados, entre outros meios, podendo posteriormente, ocorrer alguns danos ao meio ambiente.
Aportes metodológicos
Este trabalho desenvolveu-se por meio de etapas fundamentais, essas consolidaram o conhecimento e descrição da evolução deste recorte espacial, no qual tange a expansão da orizicultura, o progresso econômico, assim como também a redução da cultura do arroz, e por último o aumento de algumas produções agrícolas (soja, cana-de-açúcar).
A primeira etapa caracterizou-se pela pesquisa bibliográfica, esta foi primordial para o entendimento das relações pertinentes à realidade econômica encontrada no município de Ituiutaba. Por meio da realização dos estudos científicos, sejam estes em: livros, artigos científicos, dissertações, teses, entre outros.
Em relação à segunda etapa, fez-se a busca de dados, tabelas do site do IBGE-SIDRA, para que assim, pudesse fazer a mensuração correta, quanto à área plantada de arroz e de outros cultivares no município abordado entre as décadas de 1950 a 2011. A partir da coleta de dados do IBGE, pudemos conhecer a configuração do espaço agrário de outrora, assim como compreender a atual composição e configuração do espaço urbano.
A etapa posterior consolidou na realização de trabalhos de campo para a constatação empírica das produções vigentes na região, conversas informais com a população da cidade permitiu a observação do desenvolvimento da produção agrícola do município de Ituiutaba, por meio do olhar das pessoas que viveram o momento considerado como o auge econômico deste município.
A quarta e última etapa consolidou-se no desenvolvimento dos gráficos referentes à produção de arroz e demais produções agrícolas no município de Ituiutaba para a conclusão deste.
Resultados e discussões
A orizicultura possuiu sublime importância para o município de Ituiutaba, e isso foi possível de visualizar devido à busca de dados em alguns institutos e órgãos, como do IBGE-SIDRA, no qual se verificou a grande área que foi utilizada para esta produção, possibilitou também visualizar as diferenciações ocorridas na história deste recorte espacial por meio da produção agrícola.
Para melhor compreensão da área plantada de arroz em Ituiutaba, produziu-se a tabela 2, nesta é possível visualizar as culturas agrícolas no ano de 1955, podendo observar a diferença entre o arroz e as demais culturas.
Na tabela 2 foi possível apresentar a área plantada em hectares, a produção, e até mesmo o valor de algumas culturas do ano de 1955, neste sentido, fica clara a grande diferença de produção entre a orizicultura e as demais produções agrícolas neste município.
Para possibilitar melhor visualização e comparação com os demais cultivos em Ituiutaba produziu-se a figura 3, sendo esta referente aos anos de 1950, 1960 e 1970, entre essas décadas o arroz deteve grande quantidade de área plantada dentre todas as outras culturas expostas neste gráfico.
Devido à alta produção de arroz, este foi valorizado, proporcionando o crescimento de Ituiutaba. É possível compreender esta fala na visualização da área central urbana. Assim nas figuras 4 e 5 fica visível a diferença entre a quantidade de construções prediais no ano de 1938 (figura 4) e na década de 1970 (figura 5), com a diferença de cerca de três décadas, pode-se destacar a importância do cenário agrícola para esta evolução.
Por meio da figura 4 datada do ano de 1938, observa-se a principal área do centro urbano. Nesta figura é possível visualizar algumas construções, como a catedral São José, o Colégio Santa Tereza, alguns armazéns, a praça da prefeitura ao fundo e algumas residências, dentre outros.
Como forma de avaliar e comparar o desenvolvimento obtido por meio da produção agrícola no município de Ituiutaba, principalmente devido à orizicultura, a figura 5 mostra parte do centro urbano da cidade, com ocupação intensa de todos os lotes e grande número de prédios verticais ao fundo.
Nesta época a cidade estava em pleno crescimento, tanto econômico quanto demográfico, porém não possuía atrativos de lazer para a população, alguns empresários decidiram inovar, aproveitaram o bom momento que a cidade estava passando e construíram um grande cinema (figura 6), e por meio de uma reportagem feita pela Revista Projeção6, remete-se ao passado ao retratar o momento de construção deste empreendimento na cidade, destacando a seguinte reportagem,
[...] Amador Ribeiro e João Bosco quiseram mostrar a Ituiutaba que era possível ter um novo cinema, com arrojado projeto. Idealizaram então o Cine Teatro Capitólio [...] A casa de entretenimento marcou época e é lembrada até hoje por sua imponência, sendo considerado um dos maiores cinemas do interior brasileiro. [...] As 1.500 poltronas eram comumente lotadas, especialmente quando entravam em cartaz filmes como: Paixão de cristo, Mazaroppi, Jerry Lewis, Elvis Presley [...] E por várias vezes, outras 2.000 pessoas ainda pagavam para assistir determinadas obras em pé mesmo. [...] As poltronas, estofadas, foram adquiridas no Rio de Janeiro, e a aparelhagem era de procedência sueca. [...] Peças teatrais e formaturas eram realizadas no Capitólio. Nessas ocasiões, geralmente as mulheres utilizavam luvas, bolsas e indumentária de gala, assim como os homens, que geralmente iam de terno. (Revista Projeção 2009, 50-51)
Outro importante momento e que representa este período estudado, é por meio da visualização da figura 7, no qual remete as tradicionais exposições de veículo feitas por um grupo revendedor de automóveis de Ituiutaba, denominado de Grupo Cancella7, esta por sua vez mostra a força que este município tinha, pois foi uma das pioneiras a ter a revenda de veículos das marcas Chevrolet e Ford no interior do Brasil.
Estas décadas que o "império do arroz" proporcionou a evolução econômica, o crescimento populacional e a urbanização ao município de Ituiutaba ficaram registradas na história e em algumas construções prediais que ainda resistiram ao atual momento de expansão da economia do município, assim na figura 8 é possível observar a casa de uma família tradicional. Esta foi restaurada, existindo poucas construções desta época.
A produção de arroz não continuou em destaque após algumas políticas de desenvolvimento da região, e demais fatores. Por meio da exposição de dados na figura 9, é visível a redução da área plantada de arroz neste município.
Evidencia-se que não apenas a área plantada de arroz (que foi a principal cultura durante anos em Ituiutaba), assim como também de algodão, milho, sendo essas detentoras de representatividade de produção agrícola em momentos variados, tiveram suas áreas em hectares reduzidas em função da inserção de outras culturas a partir da década de 1970, que na perspectiva da realidade econômica, por meio de subsídios do Estado, condições físico-químicas, e demais contribuições, eram mais rentáveis, pois a partir do cultivo de grãos de maior importância à exportação, e com maior índice de técnicas e melhoramento genético facilita a qualidade do produto final, agregando maior valor a este. O reflexo foi a redução na produção de culturas que não se adequaram nesta nova forma de apropriação do espaço rural e que não possuem tanta importância no mercado externo.
Para melhor apresentar o crescimento de outras culturas em Ituiutaba a partir do ano de 1991, fez-se a figura 10.
Este gráfico revela ainda o aumento na produção da cana-de-açúcar, sendo que esta cultura na atualidade é detentora de grande produção em Ituiutaba e na sua MRG, concomitantemente ao aumento da área plantada de cana, têm-se a redução drástica da produção de outros importantes cultivos, destaca-se também a redução até mesmo da soja, e milho, já que estes outrora também foram detentores de grande produção agrícola, em toda a MRG de Ituiutaba.
Isto se deve à fala de Oliveira, pois a mesma retrata um ponto necessário para a compreensão da redução da orizicultura e o aumento na produção de outros cultivos, a partir dos incentivos de desenvolvimento e ocupação das áreas de cerrado,
Chamam-nos a atenção as resistências encontradas no PTCI8 pois as mudanças impostas pela globalização, nem sempre, são incorporadas no mesmo "tempo" pelas sociedades. Suas raízes, suas culturas, suas tradições, transferidas de geração para geração, por mais que se percam ainda se transfiguram como resistências, principalmente nas cidades do interior do país, como Ituiutaba. (Oliveira 2003, 119)
Antes do desenvolvimento de técnicas, políticas, ocupação por migrantes do sul e de outras regiões, e demais fatores que proporcionaram a inserção de novas culturas neste lugar, constatou-se que se fez forte o arroz, pois o mesmo não possuía grande necessidade de manejos, uso de agrotóxico, dentre outras técnicas para maior produção, quanto às novas culturas inseridas.
Na atualidade, Ituiutaba possui ampla gama de concentração econômica, sendo esta, atribuída pela indústria, agropecuária, prestação de serviços, entre outros. De acordo com dados do IBGE mais de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) de Ituiutaba é atribuído ao setor de serviços, assim, por meio da visualização da figura 11, sendo este um mosaico de fotos, é possível observar as novas funções dadas aos antigos galpões que faziam a armazenagem da produção agrícola.
O crescimento da cultura da cana-de-açúcar neste município foi primordial para que houvesse esta diminuição de área plantada em hectares dos outros cultivos, já que, ainda no ano de 1991, os outros plantios possuíam sua área plantada relevante quando considerada à cana-de-açúcar.
Infere-se que não apenas o arroz teve sua área reduzida, como também outros cultivos, e ao relacionar o arroz e o milho, conclui-se que estas produções agrícolas são muito mais presentes no dia a dia do consumidor brasileiro.
A área plantada de cana-de-açúcar neste município aumentou significativamente a partir da territorialização das usinas sucroalcooleiras nacionais e multinacionais, sendo que neste recorte espacial localizam-se duas, além das demais que são localizadas nos municípios limítrofes, que utilizam das propriedades rurais de Ituiutaba para a produção da cana.
A partir da instalação dessas usinas e o aumento do cultivo da cana-de-açúcar, proporcionou todo um círculo econômico que fez com que o município se adaptasse às novas necessidades. Esta adaptação pode ser visualizada em vários setores, pois com a instalação destas usinas de grande porte na região, houve a migração de trabalhadores rurais que em sua maioria são da região Nordeste do Brasil, ou seja, possuem sua cultura diferenciada à existente no município estudado, com isso, cabem nesta fala, as pequenas e médias empresas que oferecem serviços à população, na qual estas em época de safra, possuem um elevado índice de consumidores migrantes, caracterizando-se, em pequenas mercearias com mercadorias específicas para esta população, além dos bares, supermercados e casas de eventos predominando o forró eletrônico.
Outro fator notório no município é a demolição dos antigos galpões, reflexo da atual forma de uso e ocupação do espaço urbano, a especulação imobiliária, pois estes prédios localizam-se na região central. Esses eram utilizados para o beneficiamento e armazenamento de arroz, que pode ser visualizado na figura 12, sendo que em suas estruturas mostram a arquitetura de determinada época.
E ao considerar as empresas prestadoras de serviços para as antigas produções agrícolas de Ituiutaba, as mesmas não possuem relação comercial com as grandes usinas, dessa forma, a apropriação das terras para o cultivo da cana, possui menor relevância para o setor de vendas de produtos agrícolas existentes, o que ocorreu foi a inserção de escritórios e representantes de novas, maiores e específicas empresas para atender ao novo mercado que está em alta.
Considerações
Com a grande produção de arroz entre as décadas de 1930 a 1970, considerando com maior importância a década de 1950, o município de Ituiutaba tornou-se um dos maiores produtores deste cereal no Brasil. Este tipo de uso e ocupação do solo permitiu o desenvolvimento da economia desta cidade, o crescimento populacional, a urbanização, e consequentemente a evolução do seu espaço urbano e a devastação do espaço agrário para tal cultura.
O desenvolvimento do espaço urbano é possível de ser observado ainda na atualidade por meio das construções que ainda não foram demolidas, que são os antigos galpões que se fazia o armazenamento e beneficiamento de arroz, além dos prédios verticais construídos neste período, e claro na cultura da cidade, que por sinal, até os dias atuais, as famílias que tinham terras produtoras de arroz, ainda possuem certa influência na cidade, tanto relacionado à política quanto à economia, ou seja, estas famílias "tradicionais" monopolizaram os interesses peculiares às suas necessidades na época.
Por meio do desenvolvimento de políticas agrícolas para ocupação e devastação das áreas de Cerrado (com os programas: PADAP, POLOCENTRO, PCI, PRODECER, entre outros, esses em sua maioria criados por volta de 1970), houve também a criação de técnicas, uso de tecnologias, melhoramento genético dos grãos, entre outros fatores que possibilitaram a ocupação desta área e a produção de demais culturas.
As políticas de desenvolvimento do Cerrado tiveram reflexo para Ituiutaba, assim, nesta área a partir da inclusão de novas técnicas houve a redução na produção do arroz e demais culturas, porém teve-se o crescimento de outros cultivos, como a soja, o milho, a cana-de-açúcar, entre outros. O crescimento destes foi proporcionado porque estavam em alta, tanto no mercado interno quanto externo, aliado à boa relação de clima, solo, localização e mão de obra. Fatores indispensáveis.
Com isso, cada vez mais se diminuiu a orizicultura, deixando registrado o "Império do arroz" apenas por meio dos antigos galpões de armazenagem e beneficiamento, e na memória da população.
Em vista dos argumentos apresentados, tanto o cultivo da soja quanto a territorialização de usinas sucroalcooleiras proporcionam nas últimas duas décadas a Ituiutaba a evolução econômica e populacional, fazendo com que o município necessite destes tipos de uso do solo na atualidade.
Portanto, destaca-se que a orizicultura foi primordial para a atual configuração tanto urbana de Ituiutaba quanto rural, pois a mesma proporcionou a este município e à região certa evolução nas características econômicas. Porém, de acordo com as políticas adotadas, e demais fatores, houve a inserção e o aumento na área plantada de novas culturas possibilitando também o desenvolvimento deste município devido às políticas adotadas e aos novos usos da terra.
Pie de página
1Mesorregião Geográfica é "[...] uma área individualizada, em uma Unidade da Federação, que apresenta formas de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante, e a comunicação e de lugares, como elemento da articulação espacial [...]" (IBGE 1989, 2).
2"As Microrregiões são definidas como partes das Mesorregiões que apresentam especificidades quanto à organização do espaço" (IBGE 1989, 2).
3"São formados por árvores espaçadas retorcidas, baixas, com ramos tortuosos e cascas grossas, rimosas ou gretadas. Por entre a parte arbórea, formando o fundo, há um povoamento mais ou menos denso de gramíneas e plantas campestres. No Brasil Central a savana é arborizada ou, mais freqüentemente, arbustiva. Povoam tais elementos solos secos, muito arenosos, ou solos duros, tal como ‘toá’ 4. A densidade e o porte variam muitíssimo consoante o solo, mas, sobretudo, segundo o grau de devastação a que são sujeitos. A flora dos campos cerrados é heterogênea e exibe forte variação local" (Souza 1973, 43).
4Esta denominação refere-se à posição em que as MRG’s de Ituiutaba e Frutal (um total de 17 municípios pertencentes) estão localizadas, estando a Oeste do estado, fazendo divisa com Goiás, Mato Grosso do Sul, e São Paulo.
5O bioma Cerrado ocupa uma área de 2.036.448 km2, representando 22% do território nacional, perpassando pelos estados brasileiros: Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal (Ministério do Meio Ambiente 2012).
6Revista bimestral do município de Ituiutaba, esta mostra algumas personalidades que fizeram história no município e região nos âmbitos políticos, econômicos e que proporcionaram progresso ao Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba.
7"Em 1928, [...] o imigrante português, então construtor Manuel Afonso Cancella, e mais um sócio, abriram uma revenda de veículos Chevrolet. Em dezembro de 1929, tendo comprado a parte do sócio e trocado a bandeira da General Motors pela da Ford, nasce oficialmente a "Sociedade de Automóveis Manuel Afonso Cancella"" (Revista Projeção 2009, 33).
8Denominado por Santos (1985) como "Período Técnico Cientifico e Informacional".
Referências
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