Publicado

2011-07-01

Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento

Evaluation of the environmental sustainability of the Port of Açu industrial complex in face of the socio-environmental changes

Avaliação da sustentabilidade ambiental do entorno do Complexo Portuário Industrial do Açu ante as transformações socioambientais oriundas do empreendimento

Palabras clave:

Evaluación del impacto ambiental, huella ecológica, puerto de Açu, São João da Barra. (es)
Environmental impact, assessment, ecological footprint, Açu port, São João da Barra. (en)
Avaliação de impacto ambiental. pegada ecológica, porto do Açu, São João da Barra. (pt)

Descargas

Autores/as

  • Luiz de Pinedo Quinto Junior Instituto Federal de Educación, Ciencia y Tecnología Fluminense
  • Roger Rangel Coutinho Alcaldía de Campos dos Goytacazes
  • Giselle Andrea Osorio Universidad Nacional de Colombia
Este artículo trata sobre la evaluación de los impactos ambientales del complejo portuario industrial del Açu (São João da Barra), con énfasis en el impacto del proceso de densificación urbano causado por el poder de centralidad innato a este tipo de emprendimientos. Por lo tanto, el presente estudio mide y evalúa los impactos derivados del proceso de concentración de la población del área de influencia directa –AID– del emprendimiento. Para ello, se utiliza la metodología de Ecological Footprint (huella ecológica) como herramienta para evaluar el impacto del continuo crecimiento de la población y sus consecuencias para la capacidad de soporte ambiental de la zona de estudio.
This paper discusses the evaluation of the environmental impacts within the Industrial Complex of Açu Port, (São João da Barra - RJ), with emphasis on the impact resulting from the process of urban density caused by the centralized power inherent in large projects like this. Thus, the present study measures and evaluates the impacts caused by the process of high density of area of direct influence –AID– of the enterprise. The methodology used is named Ecological Footprint, a tool to assess the impact of continuous population growth and its implications on the environmental resistance capacity of the area of investigation.
O presente trabalho trata da avaliação dos impactos ambientais do Complexo Portuário Industrial do Açu (São João da Barra - RJ), com ênfase no impacto oriundo do processo de adensamento urbano, ocasionado pelo poder de centralidade inato de grandes empreendimentos como esse. Dessa forma o presente estudo mensura e avalia os impactos decorrentes do processo de concentração populacional da área de influência direta -AID- do empreendimento. Para isso, é utilizada a metodologia denominada Ecological Footprint (pegada ecológica), como ferramenta para avaliar o impacto do processo de crescimento da população e suas implicações na capacidade de suporte ambiental da área em estudo.

Avaliação da sustentabilidade ambiental do entorno do Complexo Portuário Industrial do Açu*
ante as transformações socioambientais oriundas do empreendimento

Evaluation of the environmental sustainability of the Port of Açu industrial complex in face of the socio-environmental changes

Luiz de Pinedo Quinto Junior
Profesor del PPEA del Instituto Federal de Educación,
Ciencia y Tecnología Fluminense, Brasil.
luizpinedo@uol.com.br

Roger Rangel Coutinho
Servidor público de la alcaldía
de Campos dos Goytacazes, Brasil.
admroger@gmail.com

* Artículo derivado de la investigación “Estratégias Locais para o Desenvolvimento Regional: diagnósticos e proposições”, desarrollada por el Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense y dirigida por Helio Gomes Filho.
Recibido: 16 de abril de 2011 Aprobado: 26 de julio de 2011


Resumen

Este artículo trata sobre la evaluación de los impactos ambientales del complejo portuario industrial del Açu (São João da Barra), con énfasis en el impacto del proceso de densificación urbano causado por el poder de centralidad innato a este tipo de emprendimientos. Por lo tanto, el presente estudio mide y evalúa los impactos derivados del proceso de concentración de la población del área de influencia directa –AID– del emprendimiento. Para ello, se utiliza la metodología de Ecological Footprint (huella ecológica) como herramienta para evaluar el impacto del continuo crecimiento de la población y sus consecuencias para la capacidad de soporte ambiental de la zona de estudio.

Palabras clave: Evaluación del impacto ambiental, huella ecológica, puerto de Açu, São João da Barra.

Abstract

This paper discusses the evaluation of the environmental impacts within the Industrial Complex of Açu Port, (São João da Barra - RJ), with emphasis on the impact resulting from the process of urban density caused by the centralized power inherent in large projects like this. Thus, the present study measures and evaluates the impacts caused by the process of high density of area of direct influence –AID– of the enterprise. The methodology used is named Ecological Footprint, a tool to assess the impact of continuous population growth and its implications on the environmental resistance capacity of the area of investigation.

Keywords: Environmental impact, assessment, ecological footprint, Açu port, São João da Barra.

Resumo

O presente trabalho trata da avaliação dos impactos ambientais do Complexo Portuário Industrial do Açu (São João da Barra - RJ), com ênfase no impacto oriundo do processo de adensamento urbano, ocasionado pelo poder de centralidade inato de grandes empreendimentos como esse. Dessa forma o presente estudo mensura e avalia os impactos decorrentes do processo de concentração populacional da área de influência direta -AID- do empreendimento. Para isso, é utilizada a metodologia denominada Ecological Footprint (pegada ecológica), como ferramenta para avaliar o impacto do processo de crescimento da população e suas implicações na capacidade de suporte ambiental da área em estudo.

Palavras-chave: Avaliação de impacto ambiental. pegada ecológica, porto do Açu, São João da Barra.


1. Introdução

Os novos investimentos na região Norte Fluminense, fruto dos grandes projetos de infraestrutura que já se encontram em implantação, como o Complexo Portuário Industrial do Açu exigem novos instrumentos de avaliação ambiental e urbanística. A concepção do projeto do Porto do Açu aponta para o conceito Maritime Industrial Developed Areas, isso significa que será construído um porto junto com um grande complexo industrial. Segundo estudos divulgados pela empresa LLX1 e pela Prefeitura de São João da Barra, o município que atualmente possui 32090 habitantes (IBGE, 2010), poderá ter sua população elevada para cerca de 200 mil habitantes em um período de 15 anos, ou seja, um crescimento na ordem de 600 %.

Sabe-se ainda, que o Complexo Portuário Industrial do Açu ocupará uma área de aproximadamente 90 km2, onde serão instaladas diversas indústrias, que poderão, em um futuro próximo, ofertar cerca de 50 mil postos de trabalho, fato que por si só já promoveria um significativo aumento na população da região. Mesmo que esse contingente humano não seja residente na área, é possível prever que ocorrerá um grande aumento na demanda por infraestrutura urbana e serviços ambientais.

Diante dos desafios atuais de planejar investimentos concebidos à luz de critérios de sustentabilidade ambiental e econômica, é essencial avaliar a conjuntura socioambiental de cenários considerados como estratégicos para expansão econômica do país, assim como prever as transformações futuras oriundas dos planos de desenvolvimento econômicos hoje adotados.

Desse modo, devido à abrangência e magnitude dos impactos resultantes da implantação do Complexo Portuário Industrial do Açu, tornam-se necessários novos estudos e a utilização de instrumentos capazes de mensurar não apenas os impactos ambientais diretos dessa atividade, mas também o impacto de externalidades, como o processo de crescimento populacional e suas implicações na capacidade de ecosustentabilidade da área diretamente afetada por este empreendimento.

Assim, tendo em vista os ideais de sustentabilidade amplamente discutidos e defendidos pela sociedade em geral, é importante compreender o desenvolvimento além do lócus de crescimento econômico irrestrito. Segundo o relatório Nosso Futuro Comum elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, um novo modelo de desenvolvimento deve ser alicerçado levando em consideração as questões críticas relativas ao meio ambiente e desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento sustentável firmado à época designava o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades (CMMAD, 1991).

Entretanto Diase Tostes (2009) argumenta que o conceito de desenvolvimento sustentável amplamente difundindo, e consolidado principalmente a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento –CNUMAD, Eco 92– apresenta contradições inerentes ao alcance de seus objetivos, já que segundo o autor, um novo modelo de desenvolvimento que não mexa nos modos de produção existentes, responsáveis pelas desigualdades sociais, não será capaz de prover os recursos necessários para sobrevivência das futuras gerações.

Sachs (2004), um dos principais colaboradores para formulação de novas políticas no sentido da elaboração de um novo modelo de desenvolvimento onde a medida do crescimento de um país não seja medido apenas pelo PIB, que o autor considera como um indicador fraco, pois não é capaz de medir com precisão o bem estar da população, e sim um modelo baseado na sustentabilidade, onde a promoção da qualidade de vida seja o ponto crucial, não apenas para esta geração, como também para as gerações vindouras, descreve a complexidade da questão, que difere do modelo simplificado e de conotações mercadológicas, muitas vezes reduzidas à monetarização dos recursos naturais e do bem-estar do ser humano, como hoje difundido.

O termo “Desenvolvimento Sustentável” vem sendo incorporado a diversas políticas corporativistas, que se valem de tecnologias que basicamente atuam na modificação dos padrões de usos, conservação e descartes dos recursos naturais utilizados, sem, no entanto causar redução de lucros para aqueles que as utilizam. Pelo contrário, novos ramos de mercado têm sido criados a partir dos adventos das tecnologias limpas gerando os mesmos lucros com essa política, a qual Porto (2006, apud Cardoso 2010) classifica como “neoliberalismo ambiental”. O próprio relatório de Brundtland2 ao qual focava a sustentabilidade como estratégia para o desenvolvimento admitia o desenvolvimento sustentável numa ótica reduzida, tratando o desenvolvimento mais sob o ponto de vista da economia ecológica. Isto é ilustrado pelas medidas, as quais o relatório colocava para alicerçar o desenvolvimento pretendido: a) limitação do crescimento populacional; b) garantia da alimentação a longo prazo; c) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; e) aumento da produção industrial nos países não industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; f ) controle da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores; g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas (Cavalcanti, 1994).

Todas estas medidas afastam-se dos fundamentos de desenvolvimento sustentável preconizado por Sachs. Segundo o autor o desenvolvimento científico e tecnológico não dá solução para o desemprego e para desigualdade crescente, deturpando o fundamento real do conceito. Para ele o desenvolvimento sustentável é bem mais complexo. Sendo assim, as políticas econômicas desenvolvidas que estejam pautadas na garantia de sustentabilidade, devem observar o crescimento como forma de equilibrar alguns princípios fundamentais, e declara:

O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de critérios de sustentabilidade social e ambiental e de viabilidade econômica. Estritamente falando, apenas as soluções que consideram estes três elementos, isto é, que promovam o crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais, merecem a denominação de desenvolvimento. (Sachs, 2004).

Segundo Sachs o conceito de desenvolvimento sustentável baseia-se em seis aspectos básicos: a satisfação das necessidades básicas; a solidariedade com as gerações futuras; a participação da população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; a elaboração de um sistema social, garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas e a formulação de programas de educação. Esse conceito segundo o autor foi aprimorado trazendo importantes avanços epistemológicos. A sustentabilidade social, por exemplo, tem sido considerada um componente essencial desse conceito. A participação das comunidades locais nestas políticas é prerrogativa indispensável neste contexto, levando em consideração a pressuposição de articulação para o interesse comum. (Layrargues apud Dias e Tostes, 2009).

Em linhas gerais, todas as proposições referentes a novos moldes de desenvolvimento, consideram os direitos das futuras gerações como um princípio ético básico, e defendem que a componente ambiental deva estar imersa nos critérios planejamento econômico assim como nos demais processos políticos decisórios.

Entretanto com relação às políticas de investimentos em desenvolvimento no país, onde neste bojo encontra-se a implantação de grandes portos, é possível perceber a despreocupação com reformulações quanto à sustentabilidade das mesmas. Malvezzi (2009) aponta que o Programa de Aceleração do Crescimento –PAC– possui caráter basicamente expansionista, e critica o modelo de crescimento brasileiro, que segundo o autor, continua beneficiando o grande capital, enquanto pouco tem sido feito para reduzir os impactos ambientais e sociais oriundos destes investimentos, atribuídos a um modelo econômico “essencialmente predador”.

2. Utilização da pegada ecológica como instrumento de medir sustentabilidade

O modo de vida do homem contemporâneo, baseado na lógica do aumento contínuo da produção, e uso intenso dos recursos naturais, vem alterando de forma significativa o equilíbrio do sistema planetário, com aumento da produção de resíduos e provocando um impacto muito superior àquele gerado pelas necessidades básicas de sobrevivência da espécie. Na verdade, isso está intimamente ligado aos padrões de consumo e ao estilo de vida do homem contemporâneo (Dias, 2002).

A sociedade brasileira tem já uma longa história de industrialização, o primeiro “boom” econômico ocorreu no período de 1870 a 1913, lançando todo um processo de modernização, com a construção de ferrovias, portos, ampliação da fronteira agrícola e o surgimento de grandes indústrias. Estas mudanças provocaram profundas alterações na estrutura produtiva, saindo das formas voltadas para subsistência, para uma produção industrial, e a mudança de hábitos rurais para urbanos. Esta industrialização foi caracterizada como uma consumidora intensa de matérias primas, que não se preocupava com a sustentabilidade dos recursos naturais.

De 1940 a 1970 esta concepção atinge o seu ápice, com a grande crise provocada pelo crescimento desordenado das cidades, aumento da poluição atmosférica, e as consequentes mudanças no clima. Dentro deste contexto ocorreu a famosa Conferência de Roma, onde pela primeira vez surgiu a necessidade de um novo conceito de desenvolvimento. Dentro desta percepção surge o conceito de Desenvolvimento Sustentável, e as metodologias preocupadas em avaliar os impactos da atividade humana sobre o meio ambiente (Quinto Jr. e Iwakami, 2009).

Neste contexto na década de 1990, os especialistas William Rees e Mathis Wackernage, procuravam formas de medir a dimensão crescente das marcas que deixamos no planeta. Segundo Parente (2007), o método da Pegada Ecológica (Ecological Footprint Method) é considerado pioneiro entre as ferramentas pensadas para medir e comunicar o desenvolvimento sustentável. Uma vez que contrasta o consumo dos recursos pelas atividades humanas com a capacidade de suporte da natureza, o cálculo da Pegada Ecológica vem sendo utilizado em muitos países atualmente, para mensurar a sustentabilidade de sócios-ecossistemas urbanos, mostrando que seus impactos do homem no ambiente são sustentáveis em longo prazo (Lisboa e Barros, 2010).

Wackernagel e Rees (1996) explicam que a Pegada Ecológica foi criada para nos ajudar a perceber quanto dos recursos da natureza utilizamos para sustentar nosso estilo de vida, o que inclui a cidade, a casa onde moramos, os móveis que possuímos, as roupas que vestimos, o transporte que utilizamos, aquilo que comemos, o que fazemos nas horas de lazer, os produtos que compramos e assim por diante, ou seja, se nossos padrões de consumo e uso dos recursos naturais são ou não sustentáveis.

Assim Bellen (2005) esclarece que:

O Ecological Footprint Method é descrito como uma ferramenta que transforma o consumo de matéria-prima e a assimilação de dejetos, de um sistema econômico ou população humana, em uma área correspondente de terra ou água produtiva. Para qualquer grupo de circunstâncias específicas, como população, matéria-prima, tecnologia existente e utilizada é razoável estimar uma área equivalente de água e/ou terra. Portanto por definição, o Ecological Footprint Method é a área de ecossistema necessária para assegurar a sobrevivência de uma determinada população ou sistema.

Embora o relatório Global Footprint Network3 afirme que a mensuração da Pegada Ecológica não possa responder questões de sustentabilidade em todas as suas dimensões, Wackernagel e Rees (1996) defendem o método como uma tentativa de quantificar os desafios ecológicos e conflitos que a humanidade tem que resolver se quiser atingir a sustentabilidade global. Os autores esclarecem sobre a importância de difundir o uso de ferramentas de planejamento capazes de transformar as preocupações com a sustentabilidade ambiental em políticas públicas e ações proativas.

A aplicação da metodologia numa comunidade prestes a receber um grande investimento, ao qual se assume provocar uma grande alteração em termos populacionais na Área de Influência Direta -AID-, e desta forma também na biocapacidade da área; posiciona-se como um trabalho estratégico devido à criação de parâmetro quanto à realidade dos usos atuais e potenciais do território, e o grau de atuação das possíveis transformações que poderão afetar a sustentabilidade da comunidade trabalhada. Com isso, espera-se disponibilizar a comunidade, bem como aos agentes públicos, informações que fortaleçam a participação popular nas decisões que determinam os usos de seu território, e auxiliar a elaboração de políticas de desenvolvimento que privilegiem a sustentabilidade local.

A determinação da atual capacidade de suporte dessas populações que vivem na AID do empreendimento, vem ainda estabelecer limites à ocupação da área considerando sua biocapacidade, que no caso da região, destaca-se (a grande cobertura de vegetação formada por restingas, bastante representativa, e a riqueza e complexidade do sistema hídrico superficial, onde se destacam as lagoas e canais artificiais).

A metodologia denominada Ecological Footprint Method (Pegada Ecológica) passou a ser reconhecida em todo o globo como um indicador para mensurar e divulgar a sustentabilidade ecológica do planeta. O Relatório Planeta Vivo (WWF, 2006) é um dos trabalhos mais reconhecidos neste sentido: o relatório relacionou a Pegada Ecológica de diversas nações do globo. No Brasil, a metodologia também tem sido extensamente utilizada em trabalhos científicos. Parente (2007) levanta alguns deles: pesquisas que revelam a Pegada Ecológica como uma das metodologias mais lembradas para fins de medir sustentabilidade; a metodologia tem sido utilizada mensurando os mais diferentes itens que caracterizam melhor o uso e fluxo de recursos e energia em dadas regiões. Segundo o autor estudos revelam o potencial de uso da metodologia sistematizada para ser utilizada como instrumento de gestão ambiental.

Utilizando a metodologia da pegada ecológica, o objetivo do presente trabalho é avaliar a situação atual das comunidades adjacentes ao Complexo Portuário Industrial do Açu, com vistas a estimar sua capacidade de suporte físico-ambiental mediante os futuros impactos das atividades do complexo portuário e retroportuário do Açu, sobretudo no que tange o crescimento populacional decorrente de sua implantação, bem como elencar as possíveis ações mitigadoras desses impactos.

3. Caracterização daárea pesquisada

A AID (figura 1) é formada por 12 comunidades dentro de um raio de 20 quilômetros do porto, possuindo uma população total de 10.809 pessoas. O projeto prevê a implementação de algumas medidas compensatórias, como a criação de unidades de conservação na área, salvaguardando uma boa porção da área de restinga do território. Entretanto, as características ambientais e sociais da região revelam que as medidas, estão aquém dos grandes impactos resultantes do empreendimento. Um dos impactos socioambientais mais relevantes, que é muitas vezes negligenciado, diz respeito ao potencial de atração de pessoas, principalmente em busca de emprego, acarretando um crescimento populacional acentuado, que segundo a previsão, pode elevar a população do município de São João da Barra, dos seus cerca de 30 mil habitantes para aproximadamente 200 mil habitantes, em 2025, muito superior ao crescimento vegetativo que elevaria a população no mesmo período a aproximadamente 40 mil habitantes (EIA-RIMA - Estudo e Relatório de Impactos Ambiental MMX/MPC, 2006 e MPX, 2008).

4. Metodologia

No cálculo da Pegada Ecológica da AID do Porto do Açu, foram realizados os passos metodológicos:

1. Foram mensuradas as áreas bioprodutivas4 da AID, com base nos dados de caracterização da AID disponíveis no EIA-RIMA do Porto do Açu5 (MMX/MPC, 2006) do qual foram obtidos os valores referentes à distribuição espacial da AID, especificamente dos seguintes itens: área de cultivo; área de pastos; área de florestas; área de energia.

2. A partir destes dados foi determinada a biocapacidade das referidas áreas multiplicando-se o valor em hectares das mesmas pelos seus respectivos fatores de equivalência, obtendo- se então a biocapacidade de cada área em hectares globais (gha).

3. Com base no quantitativo populacional da AID foi determinado o tamanho mínimo da amostra empregando a metodologia proposta por Barbetta (2002), através das fórmulas:

Onde: N = tamanho da população; E0 = erro amostral tolerável; n0 = primeira aproximação do tamanho da amostra; n = tamanho da amostra.

4. Foram realizadas entrevistas com base no questionário6 (exemplo - tabela 2) proposto por um grupo de pesquisadores da Universidade Católica de Portugal (ESB/UCP, 2008) nas 12 comunidades integrantes da AID.

5. Os dados obtidos nos questionários foram convertidos em unidades de Pegada Ecológica –gha– através de tabela de conversão proposta pela Universidade Católica de Portugal (ESB/UCP).

6. Foi calculado o balanço ecológico da AID.

Para a mensuração da Pegada Ecológica da área em estudo, foram realizadas entrevistas com a população local, por meio de questionários estruturados, em 18 questões subdivididas em 6 grupos de perguntas:

Habitação: formado por 2 questões que levantam informações sobre o tipo de habitação, e o número de habitantes por unidade residencial;

Alimentação: formado por 2 questões que levantam informações sobre quantidade de consumo, hábitos nutricionais e produção de alimentos;

Água: formado por uma questão que levanta informações sobre consumo de água;

Energia: formado por 4 questões que levantam informações sobre consumo de energia (eletricidade);

Transporte: formado por 5 questões que levantam informações sobre o tipo de transporte, a distância média de locomoção e que, indiretamente, estimam o consumo de combustíveis fósseis;

Resíduos: formado por 4 questões que levantam informações sobre a produção e destinação dos resíduos domésticos (lixo).

Desta forma, segundo a metodologia proposta por ESB/UCP 2008 e conforme demonstrado no explicitado na tabela 2, as respostas dos entrevistados recebem valores numéricos, que depois de totalizados são convertidos em unidades de Pegada Ecológica (tabela 3). Cabe, no entanto, esclarecer que o valor da Pegada Ecológica é aproximado, tendo em vista o caráter empírico do processo de mensuração por meio de questionários.

7. Resultados e Discussão

As áreas bioprodutivas da AID determinadas, conforme descrito, podem ser visualizadas no gráfico da figura 2, onde podemos observar uma grande área ocupada por vegetação nativa (área de floresta), que somados as áreas de cultivo e pasto, garante a sustentabilidade atual deste espaço territorial.

A partir dos resultados obtidos na pesquisa de campo, da mensuração da Pegada Ecológica, da biocapacidade e da diferença entre eles, o Balanço Ecológico da AID permitiu a construção de cenários futuros, nos quais podemos analisar o crescimento populacional, o aumento da área construída, a redução da biocapacidade per capita e suas relações com a Pegada Ecológica. Assim percebe-se que a situação de sustentabilidade ambiental da AID parte de superávit ecológico, para uma posição de acentuado déficit ecológico, conforme demonstram, a seguir, a tabela 4 e a figura 4.

Uma vez que uma das principais preocupações da comunidade do entorno do empreendimento diz respeito ao grande crescimento populacional esperado, e todos os problemas associados a este crescimento, neste momento é importante pontuar que medir “Não se trata de definir a população para uma determinada área geográfica, mas sim, calcular a apropriação por uma população de um determinado sistema para que este espaço se mantenha indefinidamente” (Wackernagel e Ress,1996).

Analisando os dados da figura 4, é possível perceber o decaimento da biocapacidade da AID, e consequentemente do saldo do balanço ecológico, à medida que a população aumenta, sendo que este decaimento acentua-se a partir do cenário 3, no qual ocorre uma inflexão, que leva a um saldo negativo de balanço ecológico a partir do cenário 4.

8. Conclusões

O Município de São João da Barra sofrerá grandes transformações, principalmente devido à baixa infraestrutura e à baixa escolaridade da população, fato que tornará necessário importar muita mão de obra, e, por conseguinte, causará um elevado crescimento populacional atrelado a um processo de urbanização espontâneo e desordenado. Desse modo, faz-se imprescindível a avaliação do impacto deste processo de crescimento da população.

A área de estudo, ou seja, a AID, encontra-se atualmente em uma situação de sustentabilidade ambiental; porém, conforme realizarem- se os cenários de crescimento populacional, essa situação tende à insustentabilidade.

Para se evitar a insustentabilidade da região é necessário: a criação de programas de fomento à produção local de alimentos; a implementação de um sistema de gestão de resíduos urbanos; melhorias do sistema de transporte público; implantação de um programa de educação ambiental, que vise promover o uso mais racional de recursos energéticos; a implantação do sistema de coleta e tratamento de resíduos domissanitários; a implantação de um amplo programa habitacional, capaz de impedir, ou, ao menos, reduzir a formação de loteamentos irregulares, que ocupam principalmente áreas de risco e Áreas de Preservação Permanente –APP–.


1 A LLX, empresa de logística do Grupo EBX (Rolding do empresário Eike Batista - http://www.ebx.com.br), foi criada em março de 2007 com o propósito de prover o país com infraestrutura e competências logísticas, principalmente no setor portuário.

2 Relatório Brundtland é o documento intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future), publicado em 1987. Neste documento o desenvolvimento sustentável é concebido como: “O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (s.p.).

3 Disponível em: http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/

4 As áreas bioprodutivas são compostas por: Área de energia fóssil –corresponde a uma área virtualmente necessária para absorver as emissões de CO2–; Área arável –superfície em que o homem desenvolve atividades agrícolas- Área de pastagem –Área dedicada a pastos–; Área de bosques - superfície ocupada pelos bosquesÁrea urbana; Área de mar –A superfície marinha biologicamente produtiva–.

5 Disponível em http://www.inea.rj.gov.br/fma/RIMAS/RIMA_PORTO_DO_ACU.zip

6 Questionário onde são levantadas informações sobre os padrões comportamentais da população em estudo, composto de questões relativas a padrões de consumo, uso de combustíveis fósseis, destinação de resíduos, produção de alimentos e ocupação urbana.

7 Valor aproximado da Pegada Ecológica da AID, conforme tabela de conversão proposta por ESB/UCP (2008) e exposta no na tabela 2.


Bibliografía

BARBETTA, Pedro Alberto (2002). Estatística Aplicada às Ciências Sociais. Santa Catarina: Ed. UFSC.

BELLEN, Hans Michael Van (2005). Indicadores de sustentabilidade: uma análise corporativa. Rio de Janeiro: Ed. FGV.

CARDOSO, Isabel Cristina da Costa (2010). O meio ambiente sob a ótica das políticas de empreendedorismo urbano: a natureza como espetáculo e produto de consumo. Rio de Janeiro: Praia Vermelha.

CAVALCANTI, Clóvis (1994). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez.

CMMAD, Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1991). Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas.

CIDIN, Renata da Costa Pereira Jannes (2003). Pegada Ecológica: sistematização de um instrumento de gestão. Dissertação de mestrado em engenharia urbana. São Carlos: USFC.

CIDIN, Renata da Costa Pereira Jannes; SILVA, Ricardo Siloto (2004). “Pegada Ecológica: Instrumento de avaliação dos impactos antrópicos no meio natural”. Em: Estudios Geográficos . Rio Claro: Junho.

DIAS, Genebaldo Freire (2002). Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia.

DIAS, Guilherme Vieira e TOSTES, José Glauco Ribeiro (2009). “Desenvolvimento sustentável: do ecodesenvolvimento ao capitalismo verde”. Revista da Sociedade Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: SBG.

ESB/UCP. Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Grupo de Estudos Ambientais. Pegada Ecológica. Consultado o 10 de outubro de 2008 em: <http://www.esb.ucp.pt/gea/myfiles/pegada/questionario.pdf>.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE- (2010) Cidades@ Brasil. Consultado o 10 de março de 2011 em: <http://www.ibge.com.br/cidadesat>.

LISBOA, Cristiane Kleba; BARROS, Mirian Vizintim Fernandes (2010). A pegada ecológica como instrumento de avaliação ambiental para a cidade de Londrina. Londrina: Confins. Consultado o 22 de outubro de 2010 em: http://confins.revues.org/6395

MMX/MPC. Mineração Pesquisa e Comércio LTDA (2006). EIA - Estudo de Impacto Ambiental do Porto do Açu. Rio de Janeiro: CAL, Consultoria Ambiental Ltda.

MALVEZZI, Roberto (2009). “Discurso Ambiental Brasileiro X Investimentos do PAC e BNDS”. Em: Simpósio internacional sobre mudanças climáticas. Brasília.

MPX Mineração e Energia Ltda (2008). RIMA – Relatório de Impacto Ambiental: UTE Porto do Açu – Porto do Açu Energia S/A. Consultado o 20 de junho de 2008 em: http://www.feema.rj.gov./rimas/rima20% ute20%porto20%do20%acu.zip>.

PARENTE, Aparecido (2007). Indicadores de sustentabilidade ambiental: um estudo do Ecological Footprint Method do município de Joinville - SC. Dissertação de mestrado. Bigraçu: Universidade do Vale do Itajaí.

PORTO, Marcos Maia (2006). Portos e Desenvolvimento. São Paulo: Aduaneiras.

QUINTO Jr., Luiz de Pinedo; IWAKAMI, Luiza Naomi (2009). Projeto Porto do Açu: frente urbana de um porto privado. Em: Enanpur. Encontro nacional da associação nacional de pósgraduação em planejamento urbano regional, 13. Florianópolis.

SACHS, Ignacy (2004). Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond.

WACKERNAGEL, Mathis; REES, William. (1996). Our Ecological Footprint: reducing human impact on the Earth. Vancouver: New Society Pulisher. Consultado o 22 de novembro de 2008 em: http://books.google.com.br/books?id=N__ujKDfXq8C&lpg=PP1&dq=our%20ecological%20footpr int%20reducing%20human%20impact%20on%20the20earth&pg=PP1#v=onepage&q=&f=false

WWF (2006). Relatório Planeta Vivo 2006. WWF Internacional. Consultado o 16 de julho de 2008 em: http://www.panda.org

Cómo citar

APA

Quinto Junior, L. de P., Rangel Coutinho, R. y Osorio, G. A. (2011). Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento. Bitácora Urbano Territorial, 19(2), 9–20. https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972

ACM

[1]
Quinto Junior, L. de P., Rangel Coutinho, R. y Osorio, G.A. 2011. Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento. Bitácora Urbano Territorial. 19, 2 (jul. 2011), 9–20.

ACS

(1)
Quinto Junior, L. de P.; Rangel Coutinho, R.; Osorio, G. A. Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento. Bitácora Urbano Territorial 2011, 19, 9-20.

ABNT

QUINTO JUNIOR, L. de P.; RANGEL COUTINHO, R.; OSORIO, G. A. Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento. Bitácora Urbano Territorial, [S. l.], v. 19, n. 2, p. 9–20, 2011. Disponível em: https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972. Acesso em: 28 mar. 2024.

Chicago

Quinto Junior, Luiz de Pinedo, Roger Rangel Coutinho, y Giselle Andrea Osorio. 2011. «Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento». Bitácora Urbano Territorial 19 (2):9-20. https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972.

Harvard

Quinto Junior, L. de P., Rangel Coutinho, R. y Osorio, G. A. (2011) «Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento», Bitácora Urbano Territorial, 19(2), pp. 9–20. Disponible en: https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972 (Accedido: 28 marzo 2024).

IEEE

[1]
L. de P. Quinto Junior, R. Rangel Coutinho, y G. A. Osorio, «Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento», Bitácora Urbano Territorial, vol. 19, n.º 2, pp. 9–20, jul. 2011.

MLA

Quinto Junior, L. de P., R. Rangel Coutinho, y G. A. Osorio. «Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento». Bitácora Urbano Territorial, vol. 19, n.º 2, julio de 2011, pp. 9-20, https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972.

Turabian

Quinto Junior, Luiz de Pinedo, Roger Rangel Coutinho, y Giselle Andrea Osorio. «Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento». Bitácora Urbano Territorial 19, no. 2 (julio 1, 2011): 9–20. Accedido marzo 28, 2024. https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972.

Vancouver

1.
Quinto Junior L de P, Rangel Coutinho R, Osorio GA. Evaluación de la sustentabilidad ambiental del entorno del complejo portuario industrial de Açu: Las comunidades frente a las transformaciones socio ambientales oriundas del emprendimiento. Bitácora Urbano Territorial [Internet]. 1 de julio de 2011 [citado 28 de marzo de 2024];19(2):9-20. Disponible en: https://revistas.unal.edu.co/index.php/bitacora/article/view/27972

Descargar cita

Visitas a la página del resumen del artículo

370

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.