Um percurso metodológico nas periferias de uma metrópole brasileira: família, aspirações e mobilidade residencial
A methodological journey in a Brazilian metropolis periphery: family, aspirations and residential mobility
Un trayecto metodológico en la periferia de una metrópolis brasileña: familia, aspiraciones y movilidad residencial
Un parcours méthodologique dans une périphérie d'une métropole brésilienne : famille, aspirations et mobilité résidentielle
DOI:
https://doi.org/10.15446/bitacora.v34n1.112049Palabras clave:
Migração, Família, Aspirações, Método científico, Pobreza (pt)family, residential mobility, metropolitan areas, scientific method (en)
familia, movilidad residencial, áreas metropolitanas, método científico (es)
famille, mobilité résidentielle, zones métropolitaines, méthode scientifique (fr)
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Neste artigo, descrevemos as etapas metodológicas de uma pesquisa voltada para a compreensão da mobilidade residencial e das aspirações em um contexto periférico metropolitano de famílias em um quadro de pobreza. O estudo teve como objetivo compreender as aspirações e as possíveis tendências da mobilidade residencial deste segmento populacional, para fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas. Para atingir os objetivos foram utilizados dados secundários, abordagens reflexivas por meio de trabalhos de campo e aplicação de instrumentos qualitativos, possíveis a partir da composição de uma equipe multidisciplinar. Esses instrumentos foram aplicados em áreas de alta concentração de pobreza, a partir da renda e das condições de moradia, a fim de estabelecer uma reflexão sobre a mobilidade residencial, suas modificações e relações, mensurados via padrões de vida familiares, tipos de domicílio e renda. Os resultados revelaram uma realidade intrincada, na qual as estruturas familiares, as aspirações individuais e os contextos socioeconômicos se entrelaçam de modo complexo e não linear em relação às decisões de deslocamento, com destaque para o papel decisivo do contexto social e espacial na tomada de decisão pela mobilidade residencial.
In this article, we describe the methodological stages of research aimed at understanding residential mobility and aspirations in a peripheral metropolitan context of families in a framework of poverty. The study aimed to comprehend the aspirations and potential trends of residential mobility in this population segment, to provide insights for the development of public policies. To achieve these objectives, secondary data, reflective approaches through fieldwork, and the application of qualitative instruments were utilized, made possible by the composition of a multidisciplinary team. These instruments were applied in areas with high concentrations of poverty, based on income and housing conditions, to establish a reflection on residential mobility, its modifications, and relationships, measured by family living standards, types of households, and income. The results revealed an intricate reality, where family structures, individual aspirations, and socioeconomic contexts intertwine in a complex and non-linear manner regarding relocation decisions, with emphasis on the decisive role of social and spatial context in residential mobility decision-making.
En este artículo, describimos las etapas metodológicas de una investigación orientada a la comprensión de la movilidad residencial y de las aspiraciones en un contexto periférico metropolitano de familias en un marco de pobreza. El estudio tuvo como objetivo comprender las aspiraciones y las posibles tendencias de la movilidad residencial de este segmento poblacional, para proveer insumos para la elaboración de políticas públicas. Para alcanzar los objetivos, se utilizaron datos secundarios, enfoques reflexivos a través de trabajos de campo y la aplicación de instrumentos cualitativos, posibles gracias a la composición de un equipo multidisciplinario. Estos instrumentos se aplicaron en áreas de alta concentración de pobreza, em función de los ingresos y las condiciones de vivienda, con el fin de establecer una reflexión sobre la movilidad residencial, sus modificaciones y relaciones y medida a través de los patrones de vida familiares, tipos de hogar e ingresos. Los resultados revelaron una realidad intrincada, en la que las estructuras familiares, las aspiraciones individuales y los contextos socioeconómicos se entrelazan de manera compleja y no lineal en relación con las decisiones de desplazamiento, con énfasis en el papel decisivo del contexto social y espacial en la toma de decisiones sobre la movilidad residencial.
Cet article nous décrivons les étapes méthodologiques d'une recherche axée sur la compréhension de la mobilité résidentielle et des aspirations dans un contexte métropolitain périphérique de familles vivant dans la pauvreté. L'étude avait pour objectif de comprendre les aspirations et les tendances potentielles de la mobilité résidentielle de ce segment de la population, afin de fournir des informations pour l'élaboration de politiques publiques. Pour atteindre, des données secondaires ont été utilisées, ainsi que des approches réflexives à travers des travaux de terrain et l'application d'instruments qualitatifs, rendus possibles par la composition d'une équipe multidisciplinaire. Ces instruments ont été appliqués dans des zones à forte concentration de pauvreté, en fonction des revenus et des conditions de logement, afin d'établir une réflexion sur la mobilité résidentielle, ses modifications et ses relations, mesurées à travers le niveau de vie familiaux, les types de logements et les revenus. Les résultats ont révélé une réalité complexe, dans laquelle les structures familiales, les aspirations individuelles et les contextes socio-économiques s'entremêlent de manière complexe et non linéaire par rapport aux décisions de déplacement, avec un accent particulier sur le rôle décisif du contexte social et spatial dans la prise de décision en matière de mobilité résidentielle.
Fuente: Autoría propia
Recibido: 8/11/2023
Aprobado: 17/01/2024
Um percurso metodológico nas periferias de uma metrópole brasileira:
família, aspirações e mobilidade residencial[1]
Un trayecto metodológico en la periferia de una metrópolis brasileña:
familia, aspiraciones y movilidad residencial
A methodological journey in a Brazilian metropolis periphery:
family, aspirations and residential mobility
Un parcours méthodologique dans une périphérie d'une métropole brésilienne :
famille, aspirations et mobilité résidentielle
Ednelson Mariano Dota
Universidade Estadual de Campinas
ednelson@unicamp.br
https://orcid.org/0000-0002-8726-0424
Isis do Mar Marques Martins
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
isis.marinha@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-3118-4124
Cimar Alejandro Prieto Aparicio
Universidade Federal do Espírito Santo
cimar.aparicio@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7962-0816
Igor Martins Medeiros Robaina
Universidad de Burgos e Universidade Federal do Espírito Santo
igor.robaina@ufes.br
https://orcid.org/0000-0002-2188-5245
Cómo citar este artículo:
Dota, E. M., Martins, I. M. M., Aparicio, C. A. P., Robaina,
I. M. M. (2023). Um percurso metodológico nas periferias de uma metrópole
brasileira: família, aspirações e mobilidade residencial. Bitácora Urbano
Territorial, 34(I): 83-96.
https://doi.org/10.15446/bitacora.v34n1.112049
ISSN electrónico 2027-145X. ISSN impreso 0124-7913. Universidad Nacional de Colombia, Bogotá
(1) 2024: 83-96
[1] Este artigo é resultado das pesquisas “Dinâmica demográfica familiar e padrão migratório no Brasil: transformações desde os anos 1990”, financiado pela CAPES/SNF, e “Mobilidade residencial, família e desigualdades no espaço intraurbano”, financiado pelo CNPq. As reflexões aqui apresentadas são responsabilidades dos autores e não refletem necessariamente a visão das agências de fomento.
Autores
06_112049
Resumo
Neste artigo, descrevemos as etapas metodológicas de uma pesquisa voltada para a compreensão da mobilidade residencial e das aspirações em um contexto periférico metropolitano de famílias em um quadro de pobreza. O estudo teve como objetivo compreender as aspirações e as possíveis tendências da mobilidade residencial deste segmento populacional, para fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas. Para atingir os objetivos foram utilizados dados secundários, abordagens reflexivas por meio de trabalhos de campo e aplicação de instrumentos qualitativos, possíveis a partir da composição de uma equipe multidisciplinar. Esses instrumentos foram aplicados em áreas de alta concentração de pobreza, a partir da renda e das condições de moradia, a fim de estabelecer uma reflexão sobre a mobilidade residencial, suas modificações e relações, mensurados via padrões de vida familiares, tipos de domicílio e renda. Os resultados revelaram uma realidade intrincada, na qual as estruturas familiares, as aspirações individuais e os contextos socioeconômicos se entrelaçam de modo complexo e não linear em relação às decisões de deslocamento, com destaque para o papel decisivo do contexto social e espacial na tomada de decisão pela mobilidade residencial.
Palavras-chave: família, mobilidade residencial, áreas metropolitanas, método científico
Resumen
En este artículo, describimos las etapas metodológicas de una investigación orientada a la comprensión de la movilidad residencial y de las aspiraciones en un contexto periférico metropolitano de familias en un marco de pobreza. El estudio tuvo como objetivo comprender las aspiraciones y las posibles tendencias de la movilidad residencial de este segmento poblacional, para proveer insumos para la elaboración de políticas públicas. Para alcanzar los objetivos, se utilizaron datos secundarios, enfoques reflexivos a través de trabajos de campo y la aplicación de instrumentos cualitativos, posibles gracias a la composición de un equipo multidisciplinario. Estos instrumentos se aplicaron en áreas de alta concentración de pobreza, em función de los ingresos y las condiciones de vivienda, con el fin de establecer una reflexión sobre la movilidad residencial, sus modificaciones y relaciones y medida a través de los patrones de vida familiares, tipos de hogar e ingresos. Los resultados revelaron una realidad intrincada, en la que las estructuras familiares, las aspiraciones individuales y los contextos socioeconómicos se entrelazan de manera compleja y no lineal en relación con las decisiones de desplazamiento, con énfasis en el papel decisivo del contexto social y espacial en la toma de decisiones sobre la movilidad residencial.
Palabras clave: familia, movilidad residencial, áreas metropolitanas, método científico
Abstract
In this article, we describe the methodological stages of research aimed at understanding residential mobility and aspirations in a peripheral metropolitan context of families in a framework of poverty. The study aimed to comprehend the aspirations and potential trends of residential mobility in this population segment, to provide insights for the development of public policies. To achieve these objectives, secondary data, reflective approaches through fieldwork, and the application of qualitative instruments were utilized, made possible by the composition of a multidisciplinary team. These instruments were applied in areas with high concentrations of poverty, based on income and housing conditions, to establish a reflection on residential mobility, its modifications, and relationships, measured by family living standards, types of households, and income. The results revealed an intricate reality, where family structures, individual aspirations, and socioeconomic contexts intertwine in a complex and non-linear manner regarding relocation decisions, with emphasis on the decisive role of social and spatial context in residential mobility decision-making.
Keywords: family, residential mobility, metropolitan areas, scientific method
Résumé
Dans cet article, nous décrivons les étapes méthodologiques d’une recherche axée sur la compréhension de la mobilité résidentielle et des aspirations dans un contexte métropolitain périphérique de familles vivant dans la pauvreté. L’étude avait pour objectif de comprendre les aspirations et les tendances potentielles de la mobilité résidentielle de ce segment de la population, afin de fournir des informations pour l’élaboration de politiques publiques. Pour atteindre ces objectifs, des données secondaires ont été utilisées, ainsi que des approches réflexives à travers des travaux de terrain et l’application d’instruments qualitatifs, rendus possibles par la composition d’une équipe multidisciplinaire. Ces instruments ont été appliqués dans des zones à forte concentration de pauvreté, en fonction des revenus et des conditions de logement, afin d’établir une réflexion sur la mobilité résidentielle, ses modifications et ses relations, mesurées à travers le niveau de vie familiaux, les types de logements et les revenus. Les résultats ont révélé une réalité complexe, dans laquelle les structures familiales, les aspirations individuelles et les contextes socio-économiques s’entremêlent de manière complexe et non linéaire par rapport aux décisions de déplacement, avec un accent particulier sur le rôle décisif du contexte social et spatial dans la prise de décision en matière de mobilité résidentielle
Mots-clés : famille, mobilité résidentielle, zones métropolitaines, méthode scientifique
Introdução
O método constitui-se como ferramenta primordial na construção e análise de uma pesquisa, sobretudo nas ciências humanas e sociais. Alguns dos pilares foram estabelecidos por referências clássicas como Durkheim (2004), Marx e Engels (1989), Weber (2004) e Boas (2009), bem como contribuições mais atuais como Becker (1993), Lowy (1994), Cook e Reichardt (1979) e Morin (2015). Acerca dos estudos urbanos, migratórios e populacionais, estas contribuições também estiveram presentes por meio de diferentes autores (De Mattos, 1999; Lucas, 1997; Harvey, 2005; Santos, 2013), fortalecendo o entendimento dos fenômenos da realidade.
Husserl (1986) e Feyerabend (2020) questionaram o papel do método: seria uma ferramenta analítica para a realidade ou um mero condicionamento rígido da ciência? Por certo, as reflexões dentro do campo geral das ciências possuem visões bastante heterogêneas, como perspectivas mais transgressoras, a exemplo das propostas por Prigogine (2009) e Benjamin (2015), que sugerem abordagens metodológicas ancoradas nas subjetividades. Atualmente, percebemos uma tensão no uso do método enquanto imposição de um saber proveniente e destituído de uma lógica situada, muitas vezes desvinculado de nossas realidades locais e inserido numa colonialidade do conhecimento (Quijano, 2009; Wallerstein, 2012; Haraway, 2013; Mignolo, 2017).
O debate sobre método é vasto e, embora oriente e esclareça a análise, por vezes restringe a compreensão da multiplicidade da realidade. Da mesma maneira que a metodologia – aplicação do método e da pesquisa – deve ser entendida como recurso, seu suporte e o processo de produção requerem planejamento e consciência de suas etapas para, enquanto recurso, alcançar os objetivos da pesquisa não somente por esse real dado, isto é, o objetivo é alcançar uma análise da realidade, e não o contrário.
Esse artigo trata do processo de construção metodológica aplicada à realidade dos processos de mobilidade, em específico sobre a mobilidade residencial no contexto das famílias brasileiras em áreas metropolitanas, com destaque para a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), no Espírito Santo, Brasil.
Nesta contribuição, objetivamos discutir a construção metodológica da pesquisa, visando superar uma perspectiva dicotômica frequentemente presente nas Ciências Humanas e Sociais, assim como nos estudos urbanos e populacionais. Tal perspectiva muitas vezes contrapõe, de um lado, a riqueza da análise qualitativa, que valoriza diálogos, narrativas, discursos e interpretações dos próprios sujeitos em relação às suas vidas e, de outro, a robustez da pesquisa quantitativa, que abrange dados variados em diversas escalas (local, municipal, estadual, regional, nacional e global), e suas respectivas potências acerca das representações cartográficas. Inicialmente, destacaremos a relevância da mobilidade residencial e as bases metodológicas de investigações tanto qualitativas quanto quantitativas. Posteriormente, apresentamos as contribuições do projeto “Dinâmica demográfica familiar e padrão migratório no Brasil: transformações desde os anos 1990”, financiado pela CAPES e pela Secretaria Nacional da Famílias, que integrou ambas as abordagens, buscando entender as especificidades e interpretações do fenômeno para pensar o contexto brasileiro e latino-americano.
Considerações teóricas sobre mobilidade
residencial, família e aspirações
A mobilidade residencial é abordada de distintas maneiras na bibliografia internacional, a partir do objetivo da ciência de base e do estudo em questão. É possível diferenciar claramente a contribuição derivada de cada ciência, assim como compreender a atenção na delimitação do fenômeno, a depender do direcionamento analítico proposto.
O primeiro aspecto que merece atenção é a amplitude de temáticas relacionadas ao conceito de mobilidade residencial: habitação (Abramo & Faria, 1999; Bayona-i-Carrasco & Pujadas-i-Rúbies, 2014; Cosacov, Di Virgilio & Najman, 2018) e família (Geist & McManus, 2008; Ermisch & Steele 2016; Morris; 2017) são temas muito presentes, seguidos pelo trabalho (Duhau, 2003; Abramo, 2009), a relação com o lugar (Pendakur & Young, 2013; Molinatti, Rojas-Cabrera & Pelaéz, 2014), a dinâmica urbano-regional (Graizbord & Acuña, 2007; Pujadas, 2009; Cunha, 1994; Dota, 2015; López-Gay, Andújar-Llosa & Salvati, 2020) e a saúde (Oishi & Talhelm, 2012; Wood et al., 2023). Os debates teórico-metodológicos também se mostram presentes, cujas temáticas secundárias direta ou indiretamente tocaram em alguns dos outros temas supracitados (Módenes, 2008; Coulter, Ham & Findlay, 2016; Bernard, 2022; Thomassen et al., 2023).
Sobre as temáticas, é possível observar correlação espacial com os países de vinculação dos pesquisadores principais: habitação e trabalho são temas predominantemente abordados por pesquisadores latino-americanos, analisando a mobilidade residencial relacionada às desigualdades sociais a partir da ocupação e da habitação dos indivíduos e famílias. Quanto às análises de família, abordadas principalmente a partir do conceito de curso de vida e dos seus eventos e transições, é observada concentração em países do Norte global, além do México e Colômbia. Tal situação deriva do maior desenvolvimento das pesquisas focadas na família nesses países nas últimas décadas (Martins, 2022) e do impacto da segunda transição demográfica (Lacroix, Gagnon & Wanner, 2020), mais relevante até o momento, além da menor intensidade das desigualdades econômicas e sociais nos países do Norte global.
A definição empregada em muitos estudos costuma se basear na definição de migração dos recenseamentos oficiais (Cf. Cunha, 1994, 2018, 2022; Duhau, 2003; Jardim, 2005; Sobrino, 2010; Dota, 2015). Isso implica em limites conceituais e analíticos, visto que, por motivos operacionais, a definição de migração usa as fronteiras político-administrativas como delimitador para que um deslocamento seja considerado e captado como migração (UN, 1970). Por isso, a mobilidade residencial é abordada como uma modalidade de migração de curta distância, o que significa uma simplificação conceitual nos casos em que se entende como sinônimo de migração intrametropolitana (Dota, 2022).
Entendemos a mobilidade residencial como o deslocamento com fins habitacionais que ocorre em área já conhecida pelo indivíduo ou família (Módenes, 2008), independentemente de fronteiras político-administrativas. Nesse contexto, há uma diferença qualitativa quanto ao conhecimento prévio do espaço urbano, que permite compreender as diferenças do destino comparativamente à origem. Do mesmo modo, o caráter residencial do movimento especifica uma relação diferente não apenas com o espaço urbano, mas com o trabalho, a família e as relações sociais espacialmente estabelecidas (Coulter, Ham & Findlay, 2016).
Essas considerações nos levam a propor a mobilidade residencial como o deslocamento para troca de residência que permita aos indivíduos e/ou famílias manter laços físicos constantes de sociabilidade, tanto com pessoas quanto com instituições e, principalmente, com o trabalho. Essa definição, portanto, exclui os movimentos que, mesmo ocorrendo num mesmo município ou região metropolitana, geram rompimento de laços e modificação drástica na vida cotidiana.
Para sua efetivação, a operacionalização do conceito de mobilidade residencial exige uma abordagem que considere não apenas a localização da habitação no território metropolitano, mas também parte das redes e relações que estão intrínsecas a essas localizações. Uma análise metropolitana considerando esses elementos exige, necessariamente, o uso dos dados quantitativos para caracterizar a região de interesse a partir dos dados secundários disponíveis e da captação de dados primários, mediante atividades de coleta e análise de campo, que permitam aprofundar nas relações, redes e aspirações dos indivíduos.
Diante disso, a perspectiva de De Haas (2010) para a migração internacional foi adaptada para o contexto metropolitano: a família é a instituição em que os elementos de diferentes níveis de escala se encontram e se tensionam, sendo a mobilidade residencial uma das estratégias de ação. Contudo, mais do que olhar o lugar de residência atual e o lugar de última residência, isto é, o último deslocamento, mostrou-se necessário conhecer a trajetória de mobilidade residencial das famílias, compreendendo que cada movimento se inter-relaciona na conformação de uma dinâmica espacial metropolitana que, de certa forma, é parte da dinâmica de reprodução social. As etapas de mobilidade residencial dos arranjos domiciliares podem ser interpretadas pela perspectiva do curso de vida ou, mais especificamente, pelas transições que são observadas ao longo do curso de vida dos membros das famílias (Bernard, 2022).
A literatura dos estudos de população mostra claramente as limitações dos censos demográficos em captar todas as etapas de migração interna, seja de indivíduos ou de famílias (UN, 1970; Rigotti, 2011; Grupo de Foz, 2021). Nesse sentido, uma publicação do Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografía (CELADE, 2013) aponta que, em todos os países da América Latina e do Caribe, os censos demográficos se apoiam na definição clássica de migração interna e, portanto, somente conseguem identificar algumas das etapas migratórias. Considerando a rodada de 2010 dos censos convencionais, somente Brasil e Equador coletaram dados sobre a mobilidade para trabalhar e/ou estudar. Nenhum dos levantamentos identificou as possíveis etapas de mobilidade residencial que ocorrem dentro dos limites administrativos (CELADE, 2013). Assim, para uma análise aprofundada da trajetória da mobilidade residencial nas áreas metropolitanas da América Latina e do Caribe, bem como das motivações e das aspirações a migrar, torna-se obrigatório o recurso a pesquisas quantitativas longitudinais ou a pesquisas retrospectivas de trajetória migratória.
A família como unidade de análise e o conceito de aspiração por nova mobilidade frente à trajetória de mobilidade e ao atual lugar de residência aparecem como elementos diferenciadores e potentes para compreender novas configurações do espaço urbano a partir dos deslocamentos. Na família e nas aspirações, vimos o potencial de agregar o que Giddens aponta como agência e estrutura (Giddens, 2000) das políticas e ações governamentais locais que conformam o espaço urbano, até as estruturas e conjunturas que estão além do controle das pessoas ou instituições locais. O conceito de aspiração, à luz de Carling e Collins (2018), Carling e Schewel (2020) e Carling e Mjelva (2021), adaptado para a mobilidade residencial (Dota & Martins, 2023), permite uma leitura da conjuntura atual através dos planos futuros, ou mesmo analisar esses planos a partir do contexto atual, criando possibilidades de análises diversificadas e inovadoras, além de se utilizar da perspectiva de agência e estrutura de Giddens.
A operacionalização desses diferentes elementos teóricos exigiu não apenas uma equipe multidisciplinar de pesquisadores, como também a abertura dos participantes para novos olhares, leituras e abordagens. A construção dos instrumentos quantitativos e qualitativos de pesquisa, detalhados a seguir, foi marcada por tensões teóricas e conceituais, e apresentou características desses diferentes profissionais na sua composição.
Da Caracterização Geográfica às Primeiras
Aproximações: o Lugar dos Dados Secundários
O estudo “Dinâmica demográfica familiar e padrão migratório no Brasil: transformações desde os anos 1990”, financiado pela CAPES e pela Secretaria Nacional da Família, objetivou propor uma metodologia que forneça subsídios para a elaboração de novas políticas públicas relacionadas à mobilidade residencial de famílias em situação de pobreza nas áreas metropolitanas brasileiras. Centramos nossos esforços em responder: como as transformações nas estruturas familiares brasileiras influenciam o comportamento da mobilidade residencial?
Tendo em vista a amplitude da pergunta, exigiu-se um grupo de pesquisa multidisciplinar, com pesquisadores tanto da Geografia da população, mais especificamente nos estudos de mobilidade e migração frente à dinâmica urbano-regional, quanto da Demografia, Economia e Ciências Sociais.
Considerando a velocidade com que as famílias têm se alterado no Brasil e na América Latina (Laplante, Vieira & Barnabé, 2019), o conhecimento da dinâmica familiar em grandes aglomerações urbanas suscita possibilidades concretas de intervenção em políticas e ações com foco no espaço urbano para redução das desigualdades socioespaciais e de passivos ligados às periferias metropolitanas.
Quanto ao recorte espacial, selecionamos a Região Metropolitana da Grande Vitória para estudo de caso, cientes de que suas características urbano-regionais são similares ao contexto geral brasileiro, permitindo que os resultados aqui encontrados pudessem servir de base às proposições esperadas da pesquisa. Foram estabelecidos como critério de seleção das áreas da pesquisa para os trabalhos de campo a renda, as condições de moradia e áreas de ponderação com aglomerados subnormais. Em paralelo, já ao final da coleta, aplicamos também em áreas de residência de alto padrão em um dos municípios escolhidos (Serra), a fim de uma análise comparativa de como os mesmos processos, principalmente as motivações para os deslocamentos e as aspirações, poderiam se diferenciar quando controlados pela renda e por condições locacionais diferenciadas.
A cidade de Vitória é a capital do estado do Espírito Santo, que está localizado na região Sudeste do Brasil, área de maior concentração populacional do país e historicamente de maiores fluxos migratórios, especialmente a partir do século XIX (Dadalto & Dota, 2023). Apesar de não estar entre as maiores regiões metropolitanas brasileiras em área ou população, a escolha se assentou na possibilidade de maior controle em termos de mobilidade física dos pesquisadores para a realização dos trabalhos de campo, garantindo a abrangência social e espacial das localidades mais importantes frente aos objetivos estabelecidos.
Cabe destacar, ademais, que essa região concentra algumas das maiores empresas do mundo em setores como a mineração (Vale), celulose (Suzano) e aço (ArcelorMittal), e recebeu investimentos relevantes nas últimas décadas do setor de petróleo e gás, que resultou, na década de 2010, em maior crescimento demográfico do que nos estados vizinhos (Zanotelli et al., 2019), confirmado pelos primeiros resultados do censo demográfico de 2022.
A análise quantitativa dos dados secundários dos censos foi o ponto de partida da construção dos instrumentos de pesquisa. As tabulações dos censos foram realizadas a fim de compreender as diferenciações e os processos recentes que indicam caminhos em relação à mobilidade residencial e a sua contribuição para as diferentes partes da região metropolitana. Foram tabulados dados de migração, renda, condição de ocupação do domicílio, valor dos aluguéis, todos a partir das áreas de ponderação, menor unidade espacial para análise dos microdados do censo demográfico. Essa escolha resulta da necessidade não apenas de conhecer volumes e proporções, mas de se analisar a dinâmica espacial de cada uma dessas variáveis e, a partir delas, construir o mosaico que tem contribuído para as transformações territoriais em curso.
Uma informação considerada fundamental para a estratégia de análise dos processos de mobilidade residencial na RMGV foi o nível de migração intrametropolitana em 2010. Nesse sentido, foram identificadas as áreas de expansão urbana com elevada taxa de migração intrametropolitana em nível regional, realizadas por meio da observação de imagens de satélite somadas à análise da variação do tamanho dos setores censitários entre os censos de 2010 e 2022, por meio da análise da malha dos setores censitários[1][2].
Dado o cenário de fragmentação urbana e segregação predominante nas grandes aglomerações urbanas brasileiras, optou-se por selecionar setores censitários de baixa e de alta renda domiciliar para os trabalhos de campo. As entrevistas do primeiro instrumento de pesquisa foram aplicadas a pessoas responsáveis em 300 domicílios de baixa renda de 6 setores censitários e 151 de alta renda de 2 setores censitários, utilizando-se da amostragem por conglomerados, que permite estabelecer comparações entre os grupos residentes nas suas porções.
O Mapa 1 apresenta as áreas selecionadas para aplicação do questionário.
Do Censo aos trabalhos de campo:
instrumentos e perspectivas
O questionário que norteia a pesquisa quali-quanti foi produzido a partir de dois princípios norteadores: primeiro, quanto à ideia de escala e, segundo, quanto às aspirações, conforme quadro a seguir (ver Figura 1):
Presente nos estudos da Geografia, a escala compreende a análise espacial e o olhar geográfico do espaço. A escala não é somente a tentativa de aproximar ou se distanciar de objetos no espaço, mas de um olhar analítico dos fenômenos e relações sociais, na dimensão social per se.
Utilizamos o sentido de escala ao tratarmos da primeira e segunda partes do questionário, no qual obtivemos informações sobre relações familiares, de trabalho, renda, escolaridade, integrantes e constituição da família. As partes iniciais do questionário constituem uma pesquisa quantitativa sobre o perfil familiar e sociodemográfico dos moradores dos arranjos domiciliares, com o título “Características gerais, trabalho e renda”. O estudo das relações familiares nos arranjos domiciliares se apoia nas discussões da literatura da demografia e da sociologia da família, em particular na análise da estruturação das famílias de trabalhadores nas grandes aglomerações urbanas (Montali, 2006; Montali & Tavares, 2008).
Montali e Tavares (2008) apontam a existência de novas características da articulação entre as dimensões familiar e laboral associadas à precarização das relações de trabalho e à consequente queda dos rendimentos do trabalho nos anos 1990 e 2000 na Região Metropolitana de São Paulo. Devido ao elevado desemprego de provedores masculinos decorrente da reestruturação produtiva e da desindustrialização, houve uma crescente importância das mulheres como provedoras e coprovedoras familiares. Assim, a contribuição das mulheres para o rendimento total dos arranjos domiciliares aumentou de 30% em 1992 para 40% em 2009 no país. Existe um predomínio de mulheres entre as profissionais de ciências e artes, nos serviços administrativos e entre os trabalhadores de serviços, conforme análise dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2012 (Bilac, 2014).
De natureza quantitativa, estabelecemos as seguintes análises no âmbito da escala (ver Figura 2):
Das especificidades das famílias brasileiras e latino-americanas, sabe-se da importância das famílias estendidas, sobretudo nas localidades periféricas. A cooperação econômica dos membros do domicílio seria um dos principais instrumentos de proteção social para as famílias de trabalhadores (Bilac, 1983; Montali, 2006; Montali & Tavares, 2008). Desse modo, os domicílios com famílias estendidas em parte expressam a incorporação de parentes nos domicílios pobres, formando uma estrutura familiar complexa associada à manutenção das funções domésticas (Bender, 1967). Nesse sentido, a distinção entre arranjo doméstico e arranjo domiciliar foi pesquisada. Isto se deve ao fato de que em um arranjo domiciliar os grupos familiares podem compartilhar ou não as despesas domésticas.
Acerca da mobilidade residencial, a caracterização dos domicílios em termos das relações de parentesco e da classificação dos arranjos domiciliares, tanto a composição das famílias quanto a quantidade de famílias que vivem em cada domicílio, está integrada à análise das motivações vinculadas com a mudança de residência, pois para cada motivação se pergunta se houve um evento familiar relacionado. Assim, analisou-se, para cada etapa de mobilidade residencial, os motivos principais e secundários para o conjunto de movimentos realizados para cada família. A categorização dos motivos baseou-se no debate de Shapira, Gayle e Graham (2019) a partir do emprego em análises longitudinais no Reino Unido, adaptado ao contexto das desigualdades do espaço urbano brasileiro. Essas motivações, analisadas à luz de cada movimento e das características sociodemográficas dos responsáveis pelo domicílio, permitem apreender a complexidade que envolve a tomada de decisão, cujos impactos geram tensões que estão além da economia familiar e das relações sociais (Shapira, Gayle & Graham, 2019; Wood et al., 2023). Esta abordagem metodológica se adequa a uma perspectiva de análise longitudinal (ou de coorte) da mobilidade residencial, conforme a interpretação de Bernard (2022), que mostra como a mobilidade espacial da população pode ser interpretada como uma sequência de transições da trajetória de curso de vida.
Nesse sentido, o desejo dessas famílias e as aspirações que elas tiveram, que deram forma à sua trajetória, e que ainda têm, compreendem as mudanças e relações espaciais e temporais que aportam relações sociais e políticas públicas nas localidades em que elas habitam. Carling e Mjelva (2021) elaboraram, na perspectiva das migrações internacionais, uma metodologia de utilização de survey pensando essas aspirações e sua importância na elaboração e promoção de políticas para as famílias e compreensão de suas relações socioespaciais. A representação a seguir ilustra a parte da pesquisa que trata das aspirações na mobilidade residencial (ver Figura 3).
Foram construídas categorias de motivações de mobilidade residencial para auxiliar na clareza das informações na análise das variáveis. Sistematizando o questionário, fizemos modificações quanto à coleta de informações do passado, entendendo que nossa intenção era captar as motivações e os eventos familiares, e não necessariamente as aspirações passadas. Assim, ambas as partes do questionário, voltadas à caracterização da mobilidade residencial, consistem na coleta de informações não somente quantitativas, mas também de natureza qualitativa.
O aprofundamento qualitativo consiste em captar a transversalidade entre a mobilidade e a estrutura familiar dos arranjos domiciliares. Essa transversalidade se dá em três aspectos: a partir do trabalho, do domicílio e das aspirações individuais e familiares. Para tal, o método regressivo junto ao progressivo, isto é, uma abordagem que compreenda indissociavelmente passado, presente e futuro, se faz necessário.
Os caminhos que envolveram a aplicação foram pensados em duas etapas: primeiro, para compreender as dinâmicas da mobilidade e, segundo, para entender as dificuldades do cotidiano que promoveram as mobilidades residenciais. Assim, a utilização de um roteiro semiestruturado permite a codificação não só dos caminhos que determinada família elabora, mas das escalas e espacialidades que tais famílias construíram em seu curso de vida.
Além da entrevista semiestruturada, o método regressivo foi utilizado para entender as etapas que precederam a localização atual. Este método se apoia em uma análise retrospectiva da mobilidade residencial, que permite também construir um material mais complexo em relação aos aspectos analíticos e relacionando as etapas e motivações, conforme o contexto familiar e espacial no contexto regional.
Para a segunda etapa da pesquisa, consideramos a inserção de uma metodologia de entrevistas em profundidade. Com uma gama potencial de análises, a abordagem qualitativa não se produz somente a partir dos referenciais numéricos, mas os utiliza como base para aprimorar a reflexão do fenômeno.
Já na previsão de um instrumento de aprofundamento, menos estruturado e com a possibilidade de captar mais lacunas em relação a este primeiro modelo, foi destacada de maneira mais intensa a ideia de aspiração. O instrumento, assim, foi elaborado a partir das experiências do survey, bem como com os mesmos entrevistados, dos que autorizaram contato para retornar sua participação em uma segunda etapa da pesquisa.[3]
Foi possível observar, nas análises dos resultados, que o aprofundamento conseguiu captar de forma muito clara os eventos e motivações que estiveram na base dos deslocamentos e, portanto, conformaram as trajetórias de mobilidade. Com relação aos eventos e motivações do passado se observa as trajetórias desde a formação das famílias e suas respectivas mudanças, vinculados aos motivos e eventos-chave estimuladores da mobilidade.
Um leque de trabalhos que tratam sobre aspiração e mobilidade (Aslany et al., 2021; Carling & Collins, 2018; Carling & Schewel, 2017; Czaika & Vothknecht, 2014) aponta três movimentos distintos, na prática: a aspiração em si, que se trata do desejo e da vontade de migrar, impulsionada por múltiplos fatores; a habilidade de migrar, posterior ao desejo, é o que media a aspiração e a decisão de migrar, ou os recursos materiais e imateriais disponíveis para a mobilidade; e a imobilidade involuntária, decorrente da inviabilidade material e imaterial de recursos e incentivo para pensar sobre as motivações, ou, em curtas linhas, sequer pensar nisso por não ter condições.
Na segunda etapa da pesquisa, revelou-se que as aspirações promovem uma expectativa de melhoria da qualidade de vida, ainda que não haja, na estrutura definida por Carling, a habilidade para migrar. Aspectos e padrões de respostas obtidos na primeira fase da pesquisa contribuíram para o aprofundamento das indagações sobre aspirações e mobilidade residencial, e indicam peculiaridades entre bairros e municípios com diferentes contextos para a aspiração (Dota & Martins, 2023), e, por conseguinte, que falar de mobilidade e propor uma abordagem de análise quantitativa e qualitativa traz novas possibilidades para a pesquisa sobre a dinâmica urbano-regional frente ao aumento de complexidade observado.
Considerações Finais
Como base de conclusão, no decorrer da presente pesquisa trilhamos um percurso metodológico complexo em direção à compreensão das múltiplas relações entre o contexto familiar e a mobilidade residencial de famílias que enfrentam a pobreza urbana nas periferias de uma metrópole brasileira. Como já apontado anteriormente, este estudo foi respaldado pelo financiamento público do Governo Federal brasileiro, com o intuito de fornecer contribuições significativas para a formulação de políticas públicas que compreendam a família como um elo fundamental para a explicação dos fenômenos socioespaciais urbanos e sua inter-relação com as dimensões populacionais no território.
Neste sentido, metodologicamente, um dos maiores destaques residiu na potencialidade de integrar os métodos quantitativos e qualitativos, gerando desde a identificação geoespacial e cartográfica das principais áreas sensíveis ao fenômeno estudado e, paralelamente, compreender em profundidade os substratos narrativos dos próprios sujeitos sobre suas histórias, dinâmicas do presente e expectativas futuras. Ambas as abordagens, utilizadas de modo indissociado, não hierárquico e reflexivo, potencializaram nossa capacidade de captar tanto as tendências generalizadas quanto as nuances individuais do fenômeno em questão.
Além dos movimentos metodológicos referentes a nossa área de análise, o projeto buscou construir um percurso que possibilitasse aprofundar a questão dos recortes espaciais e das escalas geográficas junto ao tema, ou seja, sendo um imperativo situar os contextos metropolitanos de modo mais amplo para pensar o Brasil e a América Latina. A região, rica em diversidade e contrastes, tem experimentado desde fenômenos de expansão, desmetropolização, e uma série de desafios econômicos, sociais e ambientais que ressoam fortemente nas decisões migratórias e nas aspirações dos diferentes grupos e segmentos populacionais. Compreender como esses elementos atravessam e moldam as mobilidades residenciais, em particular nas periferias, é fundamental para formular políticas públicas em termos de planejamento, gestão e ordenamento territorial. De fato, pensando tanto o Brasil quanto a América Latina, não podemos gerar uma determinação que se constitua como um modelo único a ser replicado, mas na importância de estabelecer análises comparativas, estudos de casos e perspectivas que possam confrontar o fenômeno e garantir algum tipo de tendência, padrão ou elemento explicativo.
Um dos pontos centrais da pesquisa revelou uma realidade intrincada, em que as estruturas familiares, as aspirações individuais e os contextos socioeconômicos se entrelaçam em uma dança complexa de decisões para a mobilidade, nem sempre clara e marcada por ambiguidades e contradições. Observamos que diferentes tipos de famílias, desde nucleares até monoparentais, enfrentam desafios e oportunidades distintas quando se trata de mobilidade residencial. Homens, mulheres e crianças desempenham papéis variados nesse processo, cada um moldando e sendo moldado pelas dinâmicas familiares e pelas circunstâncias urbanas, aspectos que acabam se caracterizando como impressões iniciais e merecem aprofundamentos em futuras pesquisas.
Outro ponto fundamental do estudo revelou que a mobilidade residencial não é apenas uma resposta a fatores objetivos, mas também uma busca por aspirações e melhores condições de vida. No entanto, essa busca é frequentemente permeada por desafios e adversidades relacionados à violência, à vulnerabilidade e à pobreza, no acesso a recursos e serviços e aos próprios limites que as famílias enfrentam, que nem sempre são capturados pelos dados quantitativos convencionais.
Um dos aspectos mais enriquecedores deste estudo foi a imersão nas periferias metropolitanas para o grupo de pesquisadores, onde ouvimos diretamente as vozes e as experiências das famílias. Tradicionalmente, os dados secundários de censos demográficos não conseguem capturar os motivos subjacentes às migrações e às mobilidades residenciais, bem como às aspirações das pessoas. Nossa metodologia mista permitiu uma compreensão ampla desses fenômenos complexos. Assim, mediante entrevistas qualitativas pudemos capturar diferentes nuances e questões que passam pela vida e que não estão nas tabelas e dados descarregados dos censos. Essas conversas, marcadas pela preocupação e cuidado com as questões éticas e morais, revelaram estratégias de resistência e enfrentamento às desigualdades e aos desafios impostos pelo próprio quadro urbano.
Além disso, nossa abordagem retrospectiva visou traçar as trajetórias de mobilidade residencial ao longo do tempo, representando um avanço metodológico significativo nos estudos da mobilidade espacial da população tanto para o Brasil quanto para a América Latina, mas também, em alguma medida, mirando futuros horizontes para os países do Sul global.
Ao considerar os próximos passos, propomos a integração desse conjunto de elementos como possibilidade de gerar novas visões para a formulação de políticas públicas. Esses subsídios devem ser direcionados não apenas para a melhoria das condições de vida das famílias nas periferias metropolitanas, mas também para a promoção de uma maior equidade e inclusão de um quadro familiar, reconhecendo o passado, impactando o presente, e, especialmente, a transformação do futuro. É fundamental que as políticas públicas reconheçam e valorizem a agência das famílias, suas aspirações e sua capacidade de moldar ativamente seu próprio destino.
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[2] Os resultados gerais da amostra do censo demográfico brasileiro são divulgados por áreas de ponderação, que são um agrupamento de setores censitários, a fim de preservar o sigilo estatístico. Para os nossos trabalhos de campo com aplicação dos instrumentos, selecionamos setores censitários em áreas de expansão urbana, dentro das áreas de ponderação selecionadas conforme os critérios apontados.
[3] As famílias entrevistadas na primeira etapa da pesquisa foram convidadas, de forma voluntária e confidencial, a participar do aprofundamento, realizado em julho de 2023.
Ednelson Mariano Dota
Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e pesquisador do Núcleo de Estudos da População (NEPO/UNICAMP). Geógrafo, mestre e doutor em Demografia, desenvolve pesquisas em temas relacionados à mobilidade espacial da população, com destaque para mobilidade residencial, migração interna e mobilidade pendular. Pesquisador CNPq.
Isis do Mar Marques Martins
Mestre em Geografia e Doutora em Planejamento urbano e regional, com diversas publicações na área de geografia da família, migração e políticas para migrantes, atualmente realizando pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Cimar Alejandro Prieto Aparicio
Economista, mestre e doutor em Demografia, tem pesquisas voltadas à economia regional e urbana, mobilidade espacial da população, demografia das famílias e dos domicílios, projeções populacionais e surveys.
Igor Martins Medeiros Robaina
Mestre e Doutor em Geografia, dedica atenção aos temas da Geografia da População, mais especificamente àqueles relacionados aos segmentos/grupos marginalizados no espaço urbano – como a população em situação de rua – e ao fenômeno da segregação socioespacial. É coordenador do Grupo de Pesquisa em Geografia, Espacialidades e Cotidiano – GESCOT (CNPq/UFES) e membro do Laboratório de Análises Geográficas, Demográficas e da População (LAGEDEP).
Autores
família, aspirações e mobilidade residencial
Um percurso metodológico nas periferias de uma metrópole brasileira:
família, aspirações e mobilidade residencial
família, aspirações e mobilidade residencial
Esse artigo trata do processo de construção metodológica aplicada à realidade dos processos de mobilidade, em específico sobre a mobilidade residencial no contexto das famílias brasileiras em áreas metropolitanas, com destaque para a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), no Espírito Santo, Brasil.
família, aspirações e mobilidade residencial
família, aspirações e mobilidade residencial
família, aspirações e mobilidade residencial
Mapa 1. Bairros dos setores censitários selecionados. RMGV, 2022
família, aspirações e mobilidade residencial
Figura 1.Metodologia de entrevistas quanti-quali
Fonte: Elaboração própria.
família, aspirações e mobilidade residencial
Figura 2. Metodologia do instrumento quantitativo
Fonte: Elaboração própria.
família, aspirações e mobilidade residencial
Figura 3. Metodologia das perguntas sobre aspiração por migrar
Fonte: Elaboração própria.
família, aspirações e mobilidade residencial
Figura 4. Metodologia do instrumento qualitativo
Fonte: Elaboração própria.
família, aspirações e mobilidade residencial
família, aspirações e mobilidade residencial
família, aspirações e mobilidade residencial
família, aspirações e mobilidade residencial
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