Publicado

2024-12-02

¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?

Has the Lula government managed to overcome the anti-democratic siege?

DOI:

https://doi.org/10.15446/cp.v19n37.110698

Palabras clave:

Gobierno de Lula, democracia, brasil, Integración Latinoamericana, bolsonarismo (es)
Lula Government, Democracy, Bolsonarism, South American Integration, Brazil (en)

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Autores/as

Ningún gobierno de la Nueva República había comenzado en un escenario tan delicado. Tras ganar las elecciones con la menor diferencia de votos de la historia, Lula enfrentó un intento de golpe menos de una semana después de asumir el cargo. Contó entonces con la actuación decisiva del Supremo Tribunal Federal para castigar a los responsables y pacificar la relación con las Fuerzas Armadas. Sin embargo, el cerco antidemocrático que marcó el inicio del gobierno de Lula también incluía la presión de la burguesía, vocalizada por los grandes medios de comunicación.

En ocho meses, el gobierno logró calmar la relación con el mercado gracias a resultados económicos positivos y a la habilidad del ministro de Hacienda, Fernando Haddad, quien alcanzó un consenso en la aprobación de la reforma tributaria. Pero, incluso frente a estas importantes victorias, ¿es posible afirmar que el cerco antidemocrático contra el gobierno de Lula ha sido superado? ¿Qué peligros persisten en el camino hacia la integración sudamericana en un escenario político desafiante, y en la construcción de una hegemonía progresista en un país aún dividido? Este artículo propone reflexiones iniciales sobre estas cuestiones decisivas para el futuro de la democracia en Brasil.

No New Republic government had begun in such a delicate scenario. After winning the election with the smallest difference in votes in history, Lula suffered a coup attempt less than a week after taking office. He then counted on the decisive action of the Federal Supreme Court, to punish those responsible and pacify the relationship with the Armed Forces, but the anti-democratic siege that marked the beginning of his government also included pressure from the bourgeoisie voiced by the mainstream media. In eight months, the government managed to pacify the relationship with the market through positive economic results and the political skill of Finance Minister Fernando Haddad, who managed to reach a consensus in approving the tax reform. But even in the face of these important victories, is it possible to say that the anti-democratic siege of the Lula government has been overcome? Which dangers remain in the way of South American integration and the construction of progressive hegemony in a country still divided and facing a very unstable and challenging geopolitical scenario. This article proposes initial reflections on these decisive questions for the future of democracy in Brazil.

Recibido: 4 de septiembre de 2023; Aceptado: 16 de diciembre de 2024

Resumo

Nenhum governo da Nova República havia iniciado em um cenário tão delicado quanto o de Lula. Após vencer a eleição com a menor diferença de votos da história, Lula enfrentou uma tentativa de golpe menos de uma semana após tomar posse. Contou, então, com a atuação decisiva do Supremo Tribunal Federal (STF) para punir os responsáveis e pacificar a relação com as Armadas. No entanto, o cerco antidemocrático que marcou o início da gestão Lula também incluía a pressão da burguesia, vocalizada pela grande mídia. Em oito meses, o governo conseguiu pacificar a relação com o mercado por meio de resultados econômicos positivos e da habilidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que alcançou consenso na aprovação da reforma tributária. Mesmo diante dessas importantes vitórias, é possível afirmar que o cerco antidemocrático ao governo Lula foi superado? Quais perigos ainda persistem no caminho da integração sul-americana em um cenário político desafiador e da construção de hegemonia progressista em um país ainda dividido? Este artigo propõe reflexões iniciais sobre essas questões decisivas para o futuro da democracia no Brasil.

Palabras clave: Governo Lula, Democracia, Bolsonarismo, Integração sulamericana, Brasil.

Nenhum governo da Nova República havia iniciado em um cenário tão delicado. Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), venceu as eleições presidenciais de 2022 por uma diferença de apenas 2.1 milhões de votos dos votos (TSE, 2022) (a menor da história), e a parcela mais radical dos eleitores do então presidente Jair Bolsonaro não aceitou o resultado das urnas. Eles acamparam em frente a quartéis de todo o Brasil, exigindo que as Armadas dessem um golpe que impedisse a posse de Lula e instaurasse uma ditadura militar comandada pelo candidato derrotado.

Financiados por frações fascistas da burguesia, fomentados pelas notícias falsas de uma poderosa máquina de comunicação digital e protegidos pela conivência criminosa do Exército, esses acampamentos se tornaram células terroristas, de onde foram gestadas a tentativa de explosão do aeroporto de Brasília na véspera do Natal e a invasão das sedes dos três poderes que ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023, uma semana após a cerimônia de posse mais tensa desde a passagem de guarda dos militares para os civis, que encerrou 21 anos de ditadura em 1985. O plano envolvia promover um cenário de caos que justificasse a instalação de um regime de exceção, mas a cúpula militar se dividiu e, ao final, decidiu não embarcar na aventura golpista diante da falta de apoio dos Estados Unidos. Ocupava o comando da superpotência hegemônica Joe Biden, ainda ressentido pelo envolvimento direto de Bolsonaro emfavor de Donald Trump nas tumultuadas eleições estadunidenses.

Assim, Lula enfrentou um desafio contraditório: reestabelecer a normalidade democrática e punir os golpistas, enquanto mitigava as tensões com as Armadas, habituadas à impunidade e contaminadas pelo bolsonarismo, como comprovado pela participação de um respeitado general de quatro estrelas em um patético esquema de roubo de joias da União.

Ao desgastar a imagem dos militares perante a opinião pública, a divulgação cotidiana na mídia dos bastidores dos inúmeros crimes cometidos pelo governo Bolsonaro contribuiu para que as Armadas abandonassem as ameaças contra a democracia, enquanto Lula se equilibrava habilmente entre punições e afagos os homens de farda.

O movimento de estabilização institucional só foi possível, contudo, em virtude da atuação enérgica do poder judiciário, que, liderado pelo Ministro do STF Alexandre de Moraes, com o apoio do ministro da Justiça Flavio Dino, segue investigando e punindo aqueles que participaram da tentativa de golpe bolsonarista.

No entanto, os militares eram apenas um dos flancos do cerco anti-democrático que se ergueu contra a volta ao poder do lendário operário tornado presidente, que conseguira sobreviver ao lawfare lavajatista. Liderada pelo rentismo da Faria Lima, a burguesia pressionou desde o primeiro momento através de seus porta-vozes da grande mídia corporativa, mas o governo conseguiu reverter o cenário, mesmo adotando postura de enfrentamento à criminosa política de juros promovida pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Para surpresa das organizações Globo, Lula contou com apoio popular em sua defesa da queda dos juros.

Crescimento econômico acima do esperado, controle inflacionário e aumento substancial dos investimentos internacionais contribuíram para aplacar as desconfianças em relação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que conseguiu reverter de vez o quadro quando articulou com o presidente da Câmara, Arthur Lira, a aprovação de uma reforma tributária que uniu esquerda e direita. O episódio foi a primeira demonstração da capacidade de construção de consenso de um governo que fora eleito prometendo superar a divisão social da qual se alimenta o bolsonarismo.

Somados à retomada de programas sociais e investimentos estratégicos, esses fatores contribuíram para o aumento da popularidade de Lula, que chegou a 60 % de aprovação na Pesquisa Quaest divulgada em agosto (Porto, 2023). Isso mesmo com os ataques diários promovidos pela grande mídia contra a política externa do governo, que defende a neutralidade na guerra entre Rússia e Ucrânia, o questionamento da hegemonia do dólar por meio do fortalecimento dos BRICS e a reintegração da Venezuela à comunidade internacional como fator condicionante para a promoção dademocracia no país e a retomada da integração sul-americana.

É possível afirmar, então, que o cerco antidemocrático contra o governo Lula foi superado e conseguiremos avançar na reconstrução de uma hegemonia progressista que coloque o país de volta no rumo do desenvolvimento socioeconômico?

Ainda é cedo para fazer essa afirmação, pois o cenário continua instável. Vivemos uma conjuntura internacional especialmente desafiadora, que, ao mesmo tempo que oferece oportunidades, traz desafios à medida que crescem as tensões geopolíticas. Os Estados Unidos têm demonstrado bastante insatisfação com a autonomia da diplomacia brasileira, interpretada como ingratidão diante do “favor” feito por Washington de não apoiar o golpe bolsonarista.

Ainda que a opção brasileira pela neutralidade se mostre acertada com o fracasso das ofensivas ucranianas e o desgaste crescente na relação entre o governo Zelensky e a OTAN, tem aumentado a possibilidade de interferência da Casa Branca para desestabilizar o Brasil, como aconteceu com o uso da operação Lava Jato como instrumento de derrubada do governo Dilma Rousseff e de destruição de multinacionais brasileiras, como a Petrobras e a Odebrecht, que incomodavam concorrentes estadunidenses.

A possibilidade de eleição do anarcocapitalista Javier Milei na Argentina e a instabilidade em países como o Equador também trazem dificuldades ao projeto de Lula de integração sul-americana. Isso sem falar nas possíveis pressões inflacionárias que o surgimento de novos conflitos militares na África e na Ásia pode trazer ao maior país da América Latina.

No plano interno, os segmentos evangélicos, que deram muitos votos a Bolsonaro (Partido Liberal), têm sinalizado uma reaproximação com Lula em troca de cargos no governo, mas o bolsonarismo segue contando com amplo apoio popular, apesar da revelação e apuração dos inúmeros crimes cometidos na Presidência, que já levaram, inclusive, à sua inelegibilidade.

Mesmo sem poder se candidatar, Bolsonaro segue sendo o líder hegemônico da direita brasileira, forçando os principais candidatos à sua sucessão a prestar vassalagem a um político que pode ser preso por corrupção a qualquer momento. É o caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Partido Novo).

Essa resiliência do bolsonarismo como força política, se, por um lado, assusta, por outro, também pode servir ao desafio de construção de hegemonia do governo Lula de duas formas: 1) bloqueando o surgimento de uma nova liderança de direita livre do legado de morte, fome e humilhação internacional do governo Bolsonaro; 2) ocupando o noticiário de modo a esvaziar os ataques da mídia neoliberal ao governo do PT, além de preservar o bolsonarismo como ameaça para o eleitorado de centro. Lembrando que muitos antipetistas votaram a contragosto em Lula, empurrados pela destruição causada pelo governo de extrema-direita.

O bolsonarismo, como fenômeno social, foi gestado progressivamente por um movimento comunicacional que, durante anos, promoveu dia após dia a demonização da esquerda no noticiário e nas mídias digitais. Por isso, o seu enfraquecimento só pode ser promovido usando as mesmas armas em sentido contrário.

A superação do cerco que ainda se ergue diante do governo Lula, enquanto ampla aliança das forças democráticas, depende de um esforço diário de construção de consenso que comunique os avanços do governo na melhoria da vida do povo, ao mesmo tempo em que desconstrua o imaginário bolsonarista, expondo suas contradições em linguagem popular, especialmente no que diz respeito ao tema da corrupção, historicamente a pedra angular do fascismo brasileiro.

Leonardo Seabra Puglia

Jornalista formado pela UERJ, pós-graduado em Gestão de Negócios pela ESPM-RJ, mestre e doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio. Trabalhou como jornalista no Globoesporte.com, canal GNT, Rádio MEC, Revista Ferroviária e ONG Escola de Gente, antes de atuar, durante 6 anos, como analista de Marketing da Rede Telecine.

Referencias

Tribunal Superior Eleitoral. [TSE]. (2022, 31 de outubro). 100% das seções totalizadas: confira como ficou o quadro eleitoral após o 2º turno. Tribunal Superior Eleitoral. https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Outubro/100-das-secoes-totalizadas-confira-como-ficou-o-quadro-eleitoral-apos-o-2o-turno[Link]

Porto, D. (2023, 16 de agosto). Pesquisa Quaest: 60% aprovam trabalho de Lula; 35% desaprovam. CNN Brasil. https://www.cnnbrasil.com.br/politica/ esquisa-quaest-60-aprovam-trabalho-de-lula-35-desaprovam/[Link]

Referencias

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Porto, D. (2023, 16 de agosto). Pesquisa Quaest: 60% aprovam trabalho de Lula; 35% desaprovam. CNN Brasil. https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pesquisa-quaest-60-aprovam-trabalho-de-lula-35-desaprovam/

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APA

Puglia, L. (2024). ¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?. Ciencia Política, 19(37), 101–113. https://doi.org/10.15446/cp.v19n37.110698

ACM

[1]
Puglia, L. 2024. ¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?. Ciencia Política. 19, 37 (dic. 2024), 101–113. DOI:https://doi.org/10.15446/cp.v19n37.110698.

ACS

(1)
Puglia, L. ¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?. Cienc. politi. 2024, 19, 101-113.

ABNT

PUGLIA, L. ¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?. Ciencia Política, [S. l.], v. 19, n. 37, p. 101–113, 2024. DOI: 10.15446/cp.v19n37.110698. Disponível em: https://revistas.unal.edu.co/index.php/cienciapol/article/view/110698. Acesso em: 16 nov. 2025.

Chicago

Puglia, Leonardo. 2024. «¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?». Ciencia Política 19 (37):101-13. https://doi.org/10.15446/cp.v19n37.110698.

Harvard

Puglia, L. (2024) «¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?», Ciencia Política, 19(37), pp. 101–113. doi: 10.15446/cp.v19n37.110698.

IEEE

[1]
L. Puglia, «¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?», Cienc. politi., vol. 19, n.º 37, pp. 101–113, dic. 2024.

MLA

Puglia, L. «¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?». Ciencia Política, vol. 19, n.º 37, diciembre de 2024, pp. 101-13, doi:10.15446/cp.v19n37.110698.

Turabian

Puglia, Leonardo. «¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?». Ciencia Política 19, no. 37 (diciembre 2, 2024): 101–113. Accedido noviembre 16, 2025. https://revistas.unal.edu.co/index.php/cienciapol/article/view/110698.

Vancouver

1.
Puglia L. ¿El gobierno de Lula ya logró superar el cerco antidemocrático?. Cienc. politi. [Internet]. 2 de diciembre de 2024 [citado 16 de noviembre de 2025];19(37):101-13. Disponible en: https://revistas.unal.edu.co/index.php/cienciapol/article/view/110698

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