O Manejo das Caiçaras Indígenas: Uma prática agropecuária no Lavrado de Roraima, Amazônia brasileira.
The Management of Indigenous Caiçaras: An agricultural practice in the Lavrado of Roraima, Brazilian Amazonia.
El Manejo de las Caiçaras Indígenas: Una práctica agropecuaria en el Lavrado de Roraima, Amazonía Brasilera
DOI:
https://doi.org/10.15446/ma.v10n1.73186Palabras clave:
agropecuária indígena, sistemas agroflorestais (pt)indigenous farming, agroforestry systems (en)
agropecuaria indigena, sistemas agroforestales (es)
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Esse artigo tem o objetivo relatar aspectos da introdução da pecuária entre os povos indígenas que habitam a região do Lavrado no Estado de Roraima, Amazônia brasileira. Mais especificamente, a partir dos povos Macuxi e Wapixana da Comunidade Aningal, entre os quais situa o relato etnográfico analítico sobre suas atuais formas do manejo do gado, associadas à prática da Caiçara. A pecuária foi introduzida na região no século XVIII, levando muitos grupos indígenas a transformações estruturais em suas formas de organização social, estimulando jovens e adultos a trabalharem na pecuária, manejando o gado e “domesticando” à ocupação extensiva do Lavrado. As comunidades indígenas absorveram a pecuária e adaptaram à sua realidade, revelando um interessante processo de adaptação e controle das relações que os envolviam em contexto interétnico. Na comunidade Aningal, onde o presente estudo foi realizado, houve a criação de Retiros (fazendas) indígenas, construídas em ajuri (trabalhos coletivos), onde o gado é manejado por um “vaqueiro” designado em Assembleias. Os animais são mantidos livres ao longo do dia e confinados à noite em caiçaras, o esterco produzido e acumulado escoa para as partes mais baixas do terreno adubando o solo e possibilitando a utilização das áreas adjacentes às caiçaras onde são cultivadas diversas espécies, com destaque para banana. O manejo das caiçaras evidencia o conhecimento dos indígenas sobre os efeitos do esterco como fertilizante e a prática das caiçaras caracteriza um sistema agropastoril do tipo temporal.
This article has the objective of reporting aspects of the introduction of livestock among the indigenous peoples who live in the region of Lavrado in the State of Roraima, Brazilian Amazonia. More specifically, from the Macuxi and Wapixana peoples of the Aningal Community, among which is the analytical ethnographic account of their current forms of cattle management associated with the practice of Caiçara. Livestock farming was introduced in the region in the eighteenth century, leading many indigenous groups to structural transformations in their forms of social organization, encouraging young people and adults to work in livestock, handling livestock and "domesticating" the extensive occupation of Lavrado. The indigenous communities absorbed livestock and adapted to their reality, revealing an interesting process of adaptation and control of the relationships that involved them in an interethnic context. In the Aningal community, where the present study was carried out, the creation of Indigenous retreats (farms), built in ajuri (collective works), where cattle are handled by a "cowboy" appointed in Assemblies. The animals are kept free throughout the day and confined at night in Caiçaras, the manure produced and accumulated flows to the lower parts of the land by fertilizing the soil and making it possible to use the areas adjacent to the Caiçaras where several species are cultivated, banana. The management of the Caiçaras evidences the knowledge of the natives about the effects of manure as fertilizer and the practice of Caiçaras characterizes an agropastoral system of the temporal type.
Este artículo tiene el objetivo de relatar aspectos de la introducción de la ganadería entre los pueblos indígenas que habitan la región del Lavrado en el Estado de Roraima, Amazonia brasileña. Más específicamente, a partir de los pueblos Macuxi y Wapixana de la Comunidad Aningal, entre los que se encuentra el relato etnográfico analítico sobre sus actuales formas de manejo del ganado, asociadas a la práctica de Caiçara. La pecuaria fue introducida en la región en el siglo XVIII, llevando a muchos grupos indígenas a transformaciones estructurales en sus formas de organización social estimulando a jóvenes y adultos a trabajar en la ganadería, manejando el ganado y "domesticando" a la ocupación extensiva del Lavrado. Las comunidades indígenas absorbieron la pecuaria y adaptaron a su realidad, revelando un interesante proceso de adaptación y control de las relaciones que los envolvían en contexto interétnico. En la comunidad Aningal, donde el presente estudio fue realizado, hubo la creación de Retiros (haciendas) indígenas, construidas en ajuri (trabajos colectivos), donde el ganado es manejado por un "vaquero" designado en Asambleas. Los animales se mantienen libres a lo largo del día y confinados por la noche en caiçaras, el estiércol producido y acumulado fluye hacia las partes más bajas del terreno abonando el suelo y posibilitando la utilización de las áreas adyacentes a las caiçaras donde se cultivan diversas especies, plátano. El manejo de las caiçaras evidencia el conocimiento de los indígenas sobre los efectos del estiércol como fertilizante y la práctica de las caiçaras caracteriza un sistema agropastoril del tipo temporal.
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