Formação e reprodução crítica do microempreendedorismo na periferia urbana de São Paulo no século XXI
Formation and Critical Reproduction of Microentrepreneurship in the Urban Outskirts of São Paulo in the 21st Century
Formación y reproducción crítica del microemprendimiento en la periferia urbana de São Paulo en el siglo XXI
DOI:
https://doi.org/10.15446/rcdg.v34n2.104185Palabras clave:
cotidiano, crise do trabalho, microempreendedorismo, microrrentismo, periferias urbanas (pt)everyday life, crisis of work, micro-entrepreneurship, micro-renting, urban peripheries (en)
Cotidianidad, crisis del trabajo, microemprendimiento, microrrentismo, periferias urbanas (es)
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O microempreendedorismo popular tornou-se uma modalidade incontornável da mobilidade do trabalho para uma grande parcela das famílias moradoras das periferias urbanas de São Paulo, ao longo dos últimos vinte anos. Este artigo discute as múltiplas determinações responsáveis pela formação dessa prática socioespacial, com especial ênfase no papel das moradias autoconstruídas em sua reprodução crítica, associadas à crise do trabalho e à ficcionalização do capital. O trabalho resulta de pesquisas qualitativas sobre a mobilidade do trabalho com membros de vinte famílias residentes no Jardim Ibirapuera e em suas imediações, periferia da zona sul de São Paulo, bem como de revisão bibliográfica sobre o tema. Os resultados indicam que a crescente presença de microempreendimentos populares, viabilizada pelo uso das moradias autoconstruídas nas periferias urbanas, deve ser interpretada como uma forma particular da crise do trabalho, que impulsiona a capilarização de uma racionalidade empresarial no cotidiano, fazendo emergir simultaneamente a figura dos microrrentistas. Apesar do tempo investido pelos microempreendedores em seus negócios, as determinações estruturais de sua existência tornam essa modalidade de trabalho improdutiva do ponto de vista da acumulação de capital, demandando que sua expansão seja considerada como resultante de uma concorrência brutal estabelecida entre uma população já expropriada do trabalho.
Over the past two decades, popular micro-entrepreneurship has become a key mode of labor mobility for many families living in São Paulo’s urban peripheries. This article investigates the socio-spatial dynamics behind this phenomenon, focusing on the role of self-built housing in sustaining these ventures. Drawing on qualitative research with twenty families in Jardim Ibirapuera and surrounding areas, as well as a comprehensive literature review, the study situates popular micro-entrepreneurship within the broader context of labor crisis and capital fictionalization. Findings reveal that these businesses, often operated from self-constructed homes, reflect a particular response to the erosion of formal employment. They facilitate the diffusion of entrepreneurial rationalities in everyday life, while also giving rise to the figure of the micro-landlord. Despite significant time and effort invested, these ventures tend to remain unproductive from the standpoint of capital accumulation. As such, their proliferation should be seen less as evidence of economic agency and more as a symptom of structural precarity and competition among an already marginalized workforce. The article argues that critical attention must be paid to the spatial and economic conditions that reproduce these forms of labor under neoliberal urban development.
El microemprendimiento popular se ha convertido en las últimas dos décadas en una vía predominante de movilidad laboral para muchas familias de las periferias urbanas de São Paulo. Este artículo de investigación examina los factores que configuran esta práctica socioespacial, con énfasis en la vivienda autoconstruida como elemento clave en su reproducción crítica, vinculada a la crisis del trabajo y la ficcionalización del capital. La investigación se basa en trabajo de campo cualitativo con veinte familias del barrio Jardim Ibirapuera y alrededores, así como en una revisión bibliográfica especializada. Los resultados revelan que la proliferación de microemprendimientos populares, sostenidos en viviendas autoconstruidas, expresa una forma particular de crisis del trabajo, que promueve la difusión de una racionalidad empresarial en la vida cotidiana y da lugar a la figura del microrentista. Aunque los emprendedores dedican tiempo y esfuerzo a sus negocios, las condiciones estructurales hacen que esta forma de trabajo sea improductiva desde la lógica de acumulación de capital. En consecuencia, su expansión debe entenderse como el resultado de una intensa competencia entre sectores ya precarizados y expropiados del trabajo formal.
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