Índice de áreas verdes como estratégia ao desenvolvimento urbano sustentável das Regiões Norte, Noroeste e Meia Ponte de Goiânia-GO, Brasil
The Green Area Index as a Sustainable Urban Development Strategy for the Northern, Northwestern, and Meia Ponte Zones of Goiânia-GO, Brazil
Índice de áreas verdes como estrategia para el desarrollo urbano sostenible de las regiones Norte, Noroeste y Meia Ponte de Goiânia-GO, Brasil
DOI:
https://doi.org/10.15446/rcdg.v29n1.72844Palabras clave:
espaço urbano, índice de áreas verdes, mapeamento, qualidade de vida, verde urbano (pt)urban space, Green Area Index, mapping, quality of life, urban green areas (en)
espacio urbano, índice de áreas verdes, mapeo, calidad de vida, verde urbano (es)
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O trabalho teve como objetivo avaliar o percentual de áreas verdes nas Regiões Norte, Noroeste e Meia Ponte da cidade de Goiânia-Goiás, Brasil. Foi aplicado o Índice de Áreas Verdes (IAV), conforme princípios metodológicos que utilizam indicadores dependentes da demografia, expressos pela relação de superfícies de áreas verdes por habitantes. Para a quantificação do IAV, foram utilizadas técnicas de interpretação de imagens de sensoriamento remoto na elaboração do mapa de cobertura vegetal, associada à técnica dasimétrica de mapeamento da densidade demográfica. Como resultado, obteve-se a avaliação entre a distribuição espacial do iav, o quantitativo populacional e a qualidade ambiental urbana. Observou-se que existe uma correlação de desigualdade entre o nível quanti-qualitativo dos espaços verdes, em que estes estão subordinados à especulação imobiliária e à sua manutenção.
El propósito del estudio fue evaluar el porcentaje de áreas verdes en las regiones Norte, Noroeste y Meia Ponte de la ciudad de Goiânia-Goiás, Brasil. Se empleó el Índice de Áreas Verdes (IAV), de acuerdo con principios metodológicos que utilizan indicadores dependientes de la demografía, expresados por la relación de superficies
de áreas verdes por habitantes. Para cuantificar el iav, se utilizaron técnicas de interpretación de imágenes de detección remota en la elaboración del mapa de cobertura vegetal, asociada a la técnica dasimétrica de mapeo de la densidad demográfica. Como resultado, se obtuvo la evaluación entre la distribución espacial del IAV,
la cuantificación poblacional y la calidad ambiental urbana. Se observó la correlación de desigualdad entre el nivel cuantitativo-cualitativo de los espacios verdes, donde estos son sometidos a la especulación inmobiliaria y a su mantenimiento.
Ideas destacadas: artículo de investigación que consiste en aplicar herramientas de la geotecnología para mapear el índice de áreas verdes en la ciudad de Goiânia y su relación con la calidad ambiental urbana.
DOI: https://doi.org/: 10.15446/rcdg.v29.n1.72844
Fabrizia Gioppo Nunes +
Universidade Federal de Goiás, sede Goiânia - Brasil
Universidade Federal de Goiás, sede Aparecida de Goiânia - Brasil
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Resumo
O trabalho teve como objetivo avaliar o percentual de áreas verdes nas Regiões Norte, Noroeste e Meia Ponte da cidade de Goiânia-Goiás, Brasil. Foi aplicado o Índice de Áreas Verdes (IAV), conforme princípios metodológicos que utilizam indicadores dependentes da demografia, expressos pela relação de superfícies de áreas verdes por habitantes. Para a quantificação do IAV, foram utilizadas técnicas de interpretação de imagens de sensoriamento remoto na elaboração do mapa de cobertura vegetal, associada à técnica dasimétrica de mapeamento da densidade demográfica. Como resultado, obteve-se a avaliação entre a distribuição espacial do IAV, o quantitativo populacional e a qualidade ambiental urbana. Observou-se que existe uma correlação de desigualdade entre o nível quanti-qualitativo dos espaços verdes, em que estes estão subordinados à especulação imobiliária e à sua manutenção.
Palavras-chave: espaço urbano, índice de áreas verdes, mapeamento, qualidade de vida, verde urbano.
Ideias destacadas: artigo de pesquisa que consiste na aplicação de ferramentas da geotecnologia para
o mapeamento do índice de áreas verdes na cidade de Goiânia e sua relação com a qualidade ambiental
urbana.
Abstract
The objective of the study was to determine the percentage of green areas in the Northern, Northwestern, and Meia Ponte zones of the city of Goiânia-Goiás, Brazil. The Green Area Index (GAI) was applied, in conformity with the methodological principles used by indicators that depend on demographics, expressed by the ratio of green area surfaces per inhabitant. The gai was quantified by interpreting remote sensing images to draw the vegetation cover map, and dasymetric mapping was used for demographic density. Results made it possible to evaluate the relation among spatial distribution of the GAI, population quantity, and urban environmental quality. It has been observed an unbalanced correlation between the quantitative-qualitative levels of green areas, which are subordinate to its greenery maintenance and real estate speculation.
Keywords: urban space, Green Area Index, mapping, quality of life, urban green areas.
Main Ideas: Research article that applies geo-technology tools to map the Green Area Index in the city of
Goiânia and its relation to urban environmental quality.
Resumen
El propósito del estudio fue evaluar el porcentaje de áreas verdes en las regiones Norte, Noroeste y Meia Ponte de la ciudad de Goiânia-Goiás, Brasil. Se empleó el Índice de Áreas Verdes (IAV), de acuerdo con principios metodológicos que utilizan indicadores dependientes de la demografía, expresados por la relación de superficies de áreas verdes por habitantes. Para cuantificar el IAV, se utilizaron técnicas de interpretación de imágenes de detección remota en la elaboración del mapa de cobertura vegetal, asociada a la técnica dasimétrica de mapeo de la densidad demográfica. Como resultado, se obtuvo la evaluación entre la distribución espacial del IAV, la cuantificación poblacional y la calidad ambiental urbana. Se observó la correlación de desigualdad entre el nivel cuantitativo-cualitativo de los espacios verdes, donde estos son sometidos a la especulación inmobiliaria y a su mantenimiento.
Palabras clave: espacio urbano, índice de áreas verdes, mapeo, calidad de vida, verde urbano.
Ideas destacadas: artículo de investigación que consiste en aplicar herramientas de la geotecnología para
mapear el índice de áreas verdes en la ciudad de Goiânia y su relación con la calidad ambiental urbana.
Introdução
O levantamento da cobertura vegetal é um elemento importante para avaliar a situação atual da qualidade de vida da população, uma vez que a arborização, de maneira geral, promove o equilíbrio do ambiente urbano. Além da função paisagística, que geralmente é o primeiro aspecto a ser notado, inúmeras são as serventias da vegetação urbana nos aspectos ambientais e sociais de uma cidade; portanto, tem funções indispensáveis ao equilíbrio ecológico e à qualidade de vida da população.
No âmbito das políticas públicas, já é consenso que essas áreas são indicadoras da qualidade ambiental, à medida que sua presença na paisagem contribui para melhorias nas condições de vida da comunidade, sejam a partir de aspectos de saúde pública, sejam de aspectos cênicos (Ramos 2016). Portanto, para que as áreas verdes sejam consideradas um bom indicador da qualidade de vida, faz-se necessária a obtenção de mais informações a respeito de suas funções ecológicas, recreativas e paisagísticas (Martins Júnior 2013).
No Brasil, diversos são os autores que têm adotado os espaços verdes como um dos indicadores da qualidade de vida urbana. Podemos citar os trabalhos realizados por Bargos e Matias (2012), Nucci (2001) e Toledo, Mazzei e dos Santos (2009). Os referidos autores mencionam que os espaços verdes das cidades precisam ser percebidos, pela comunidade, como ambientes de valor cênico, ambiental e/ou recreativo, para sua real eficácia (Ramos 2016). Assim, a comunidade passa a se sentir parte integrante dessas áreas. Tal integração contribui para sua manutenção, decorrente da própria utilização, e evita as áreas abandonadas que podem ser ocupadas por criminosos, vândalos e usuários de entorpecentes, ou seja, os espaços caraterizados como residuais, já men- cionados por Tella e Potocko (2009).
Dessa forma, Ribeiro (2009, 224) alerta para o fato de que arborizar uma cidade não significa apenas plantar árvores em ruas, jardins e praças, criar espaços verdes de recreação e proteger as áreas verdes públicas e particulares. Para a autora, arborizar é também um importante elemento reestruturador do espaço urbano coletivo e deve ser alvo de reflexão de toda a comunidade (Ribeiro 2009). Nessa percepção, e para esta pesquisa, consideramos as áreas verdes intraurbanas como espaços livres, sem construção e constituídas por vegetações arbóreas e arbustivas encontradas em parques, praças, jardins, espaços livres para o lazer, ao longo das avenidas e das margens de rios e lagos, bem como em condomínios fechados, de acesso público ou não, desde que possam exercer funções ecológicas, estéticas e/ou recreativas (Bargos e Matias 2012; Oliveira, dos Santos e Pires 1999; Rubira 2016).
Sua relevância foi caracterizada na Legislação Federal Brasileira ainda na década de 1960 e, atualmente, de acordo com as alterações realizadas na Lei 12.651 de 25 de maio de 2012, o Código Florestal (República Federativa do Brasil 2012), que proíbe a construção de residências nas áreas verdes públicas. Estas podem ser usadas para a recreação, tendo em vista que proporcionam qualidade de vida às pessoas, pois contribuem significativamente para o equilíbrio do ambiente urbano quanto ao conforto térmico, sonoro e paisagístico.
Além disso, inúmeras são as análises de suas funções para promover e valorizar a presença de áreas verdes nas cidades. Como exemplo, destacamos o estudo realizado por Jim e Chen (2009), dos serviços ecossistêmicos de compressão de emissão de carbono, remoção de poluentes atmosféricos, regularização do microclima e das atividades de lazer e recreativas proporcionadas pelas florestas urbanas na China.
Seus benefícios vão desde purificação do ar, melhoria da permeabilidade do solo, proteção dos cursos hídricos contra a erosão e a sedimentação, até redução dos níveis de ruído das grandes cidades. Sem dúvida, medidas como a arborização de vias públicas, praças, jardins públicos, parques urbanos e vazios intraurbanos podem contribuir significativamente para amenizar as temperaturas. Seu papel moderador tem sido explorado em todo o mundo. Kawashima (1991) examinou os efeitos da densidade da vegetação nas temperaturas de superfície das áreas urbanas e suburbanas da Metrópole de Tóquio e observou uma menor temperatura da superfície em regiões próximas de áreas verdes de praças e parques urbanos.
No âmbito internacional, Pafi et al. (2016) apresentam um manual metodológico de mensuração da acessibilidade às áreas verdes urbanas, tendo como base quatro cidades europeias: Amsterdã, Atenas, Praga e Turim. Em sua proposta de mensuração, tanto qualitativa como quantitativa, a referida Comissão busca a valorização da distribuição e da acessibilidade igualitária desses espaços, levando em consideração o preconizado pela Organização Mundial de Saúde - doravante, OMS, na melhoria da saúde pública, quando avalia a distribuição e o quantitativo de áreas verdes per capita.
Assim, a OMS adota parâmetros específicos para a determinação da qualidade ambiental. Um desses parâmetros é a análise quantitativa de áreas verdes disponíveis para cada habitante de determinada localidade, medido pelo índice de áreas verdes - doravante, IAV. Segundo Ramos (2016), tais critérios adotados pela OMS para o cálculo do IAV podem ser encontrados nas literaturas em questão, que recomendam o índice base para a mensuração da quantidade de áreas verdes por habitante, sendo o padrão ideal assumido pela oms, segundo Toledo, Mazzei e Santos (2009), maior que 12 m²/hab.
Porém, de acordo com Lima, Fonseca e Araújo (2011), a mesma organização preconiza, para as regiões do Caribe e da América do Sul, que se adote como padrão mínimo o valor de 9 m²/hab. Alguns autores internacionais, Singh, Pandey e Chaudhry (2010) e Noor, Abdullah e Manzahani (2013), mencionam também que a OMS recomenda que as regiões localizadas dentro de perímetros urbanizados devam ter, no mínimo, 9 m de áreas verdes por habitante.
Desse modo, para quantificar o IAV, considerou-se o valor de 9 m²/hab como o valor de referência para a confecção dos mapas e de suas análises. É importante salientar que são várias as maneiras de se calcular o IAV. Assim, a escolha da fórmula matemática empregada neste trabalho seguiu a proposta de Ramos (2016), por se tratar de uma das mais utilizadas nas pesquisas que envolvem a determinação da quantidade de áreas verdes por habitante. Como referência, podemos citar o trabalho realizado por Jesus e Braga (2005), no qual consta a análise da distribuição espacial das áreas verdes urbanas da Estância de Água de São Pedro, no estado de São Paulo, Brasil. Outro trabalho foi o realizado por de Arruda et al. (2013), que estudaram o IAV e de cobertura vegetal na cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil.
É importante mencionar que a representação do IAV a partir da prática da cartografia é salutar, pois permite identificar o arranjo espacial do verde urbano em uma cidade. Nessa concepção, este estudo teve como objetivo a cartografia do percentual da distribuição da cobertura de áreas verdes nas Regiões Norte, Noroeste e Meia Ponte da cidade de Goiânia, região central do Brasil. Para tanto, aplicou o IAV conforme metodologias já consagradas que utilizam indicadores dependentes da demografia, ou seja, indicadores expressos pela relação de superfícies de áreas verdes por habitantes. Além disso, utilizou-se da técnica de elaboração do mapa temático do quantitativo de superfícies verdes associada à técnica dasimétrica, de mapeamento da densidade demográfica. A técnica dasimétrica supera as metodologias clássicas de mapeamento de dados relativos, pois utiliza dados auxiliares para a identificação da área onde realmente a população reside.
Como exemplo de aplicação do IAV, podemos citar ainda os trabalhos realizados por Lucon, Filho e Sobreira (2013), que calcularam a densidade populacional - doravante, DP, a Porcentagem de Áreas Verdes (PAV) e o IAV para os setores censitários da cidade de Ouro Preto-MG, Brasil, e Gupta et al. (2012), que abordam a importância da utilização da categoria de bairros como unidade de análise do verde urbano, auxiliada por imagens do satélite Indian Remote Sensing e Cartosat-2, na cidade de Deli, Índia.
Área de estudo
Área de estudo A área de estudo corresponde ao recorte espacial das regiões administrativas Norte, Noroeste e Meia Ponte, situadas no município de Goiânia (Figura 1), capital do estado de Goiás e localizada na região central do Brasil. Com extensão territorial de 728,841 km2 e população de mais de 1.302.001 de habitantes, Goiânia possui densidade demográfica de 1.776,74 hab/km2, estimada no último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — doravante, IBGE (2010). De acordo com a mesma instituição, seu perímetro urbano de 256,8 km2 faz com que a cidade seja considerada a oitava metrópole brasileira no ranking de áreas urbanizadas.
Dados: informações cartográficas — base de dados do Centro de Estudos da Metrópole 2010, Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia 2016.
Seus sistemas de distribuição de fluxo por rotatórias, pequenas e grandes praças, avenidas arborizadas, park-ways ao longo dos rios, parques públicos nas áreas de matas exuberantes, além do cinturão verde em todo seu perímetro de entorno, eram propostas que faziam parte do Plano Urbanístico inicial de Goiânia. Apesar do estímulo à construção de uma cidade arborizada e florida, denominada “Cidade-Jardim” (Moraes 2003), o município vem dando espaço a uma cidade demarcada por problemas sociais e ambientais, descaracterizada dos princípios ecológicos e paisagísticos previstos em seu projeto original (Ribeiro 2004).
Um dos fatores que agravam os problemas de desordem social e ambiental é o crescimento populacional não planejado, que é caracterizado pelo rápido avanço das periferias em relação ao próprio núcleo do município (Maricato 2003). Dessa forma, a seleção das três regiões administrativas ocorreu devido à expansão urbana a partir dos anos 1980 e à consequente desigualdade social que as caracterizam como áreas periféricas de maiores índices de segregação socioespacial da cidade de Goiânia (Moysés 2004). Com extensão territorial de 108,021 km2 e população estimada em 429.730 habitantes, essas regiões equivalem, juntas, a 14,82% da área do município de Goiânia. Sua dp, calculada pelo método dasimétrico, varia de 398,24 hab/km² a 56.446,97 hab/km², sendo distribuída, entre os setores censitários, dos menos aos mais densamente habitados (Figura 2).
Dados: elaborado pelo método dasimétrico, IBGE 2010.
As áreas verdes da cidade são constituídas por parques, praças, Áreas de Preservação Ambiental — doravante, APAs, Áreas de Preservação Permanente, — doravante, APPs, e demais tipos de verdes urbanos. Mesmo tendo um bom quantitativo de áreas verdes ainda presente, esses espaços são pouco materializados como valor cênico, ambiental e/ou recreativo junto à comunidade local. Fator derivado do próprio sistema de parcelamento do solo dessas regiões junto à prefeitura, que não tem contemplado, em muitos de seus bairros, a manutenção e a interlocução dos espaços verdes públicos.
Materiais e métodos
A classificação das áreas verdes consistiu, primeiramente, no processo de seleção e mapeamento dessas áreas, em conformidade com as concepções estabelecidas por Oliveira, dos Santos e Pires (1999), Bargos e Matias (2011) e Rubira (2016), definidas anteriormente. A partir desse princípio, constituiu-se a base de dados georreferenciados, provenientes de informações cartográficas e sensoriais de fotografias aéreas, do ano de 2016, cedidas pela Prefeitura Municipal de Goiânia. Os dados dos bairros, do perímetro do município, da malha viária e urbana, e dos espaços públicos (parques, praças, APPs e APAs) originaram-se dos dados oficiais, provenientes do Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia — doravante, MUBDG (2016), das versões 1 a 25, e o limite dos setores censitários, do Centro de Estudos da Metrópole (2010).
A metodologia por dasimetria foi uma alternativa adotada neste trabalho para a confecção do mapa de densidade demográfica, que comumente é realizado pelo método coroplético, distribuído por unidades administrativas. Na avaliação de Bielecka (2005), uma das problemáticas dos mapas coropléticos por unidades administrativas é que estes dão a impressão de que a população está distribuída homogeneamente ao longo da unidade, mesmo quando partes da região são, na realidade, desabitadas.
Por sua vez, o método dasimétrico é tipicamente descrito em contraste ao método coroplético, porque a quantificação acontece em áreas onde realmente os habitantes residem, sendo excluídos os vazios urbanos (Mennis 2009). Nesse processo, a identificação das áreas urbanizadas é realizada por meio de técnicas deprocessamento digital de imagens.
Dessa forma, o mapa dasimétrico foi produzido a partir da operação de análise espacial no Sistema de Informação Geográfica (SIG). Seguindo as técnicas de Ramos (2016), realizou-se a combinação dos vetores dos bairros que possuem o limite do perímetro urbano das três regiões em análise com a área urbanizada propriamente dita, ou seja, a malha urbana habitada e extraída do Processamento Digital de Imagens — doravante, PDI, proveniente de informações suborbitais.
Em síntese, essa técnica foi organizada a partir de quatro etapas: 1) obtenção dos limites dos bairros da área em estudo; 2) sobreposição e adição do número de habitantes, por setores censitários, do último censo demográfico (IBGE 2010); 3) extração das áreas urbanizadas pelo pdi, desconsiderando as áreas onde não há construção urbana, e 4) interseção dos arquivos vetoriais dos bairros que contêm o número de habitantes com a mancha da área urbanizada, proveniente do PDI.
Para a classificação das imagens suborbitais (ortofotos), optou-se pelo método de segmentação por região, utilizando-se da ferramenta computacional Feature Extraction/Segment Only Feature Extraction Workflow do software ENVI 5.0. Assim, o pdi envolveu as etapas de pré-processamento, processamento e interpretação de um mosaico de fotografias aéreas (ortofotos) de 2016, de resolução centimétrica e compatível com a escala de restituição de 1:1.000. A validação das classes mapeadas ocorreu por inspeções feitas in loco com a ajuda de um receptor de sistema de navegação por satélite, no caso, o Global Positioning System (GPS). Foi definido um quantitativo de três classes temáticas para a elaboração do mapa de uso e a ocupação do solo das três regiões em análise, sendo estas: 1) verde urbano (vegetação arbórea e arbustiva); 2) áreas urbanas edificadas e 3) áreas urbanas não edificadas (pastos, gramados, solos expostos, entre outros).
Com o reconhecimento das áreas verdes, por intermédio das imagens suborbitais, e tendo os limites dos polígonos traçados em torno de todos os bairros das três regiões em análise, foram calculadas as áreas verdes em metros quadrados por habitantes. Essa etapa foi realizada no programa computacional ArcMap 10.4.1, que possibilitou não somente a estimativa do IAV, mas também o seu mapeamento.
Para a estimativa do IAV dos referidos bairros, foi utilizado o valor da densidade de áreas verdes (m²/km²) do quantitativo do verde urbano extraído do mapa de uso e cobertura do solo dividido pelo valor da dp (hab/km²), extraída do mapa dasimétrico, conforme a formulação matemática (Equação 1) descrita a seguir.
Em que:
IAV = Índice de Áreas Verdes
Densid. A. Verde = Densidade de Área Verde (copas
das árvores)
Densid. pop. = Densidade Populacional
Unidade = m²/hab (metros quadrados por habitantes)
Resultados e discussões
Para a análise dos resultados, considerou-se a somatória das áreas verdes, expressa em quilômetro quadrado, e de seu percentual, de forma a verificar que as três regiões em estudo possuem, juntas, um montante de verde urbano da ordem de 19,321 km2 em um território de aproximadamente 108,021 km2, ou seja, 17,98% da área. O mapa da Figura 3 revela que a maior ocorrência dessas áreas se encontra situada nas Regiões Norte e Noroeste.
Dados: fotografias aéreas (ortofotos 2016), aparada por imagens do Google TM Earth Servicie Digital Globe 2016.
Tal ocorrência é derivada da notória presença de seus espaços verdes públicos formados pelos parques e bosques e por algumas APPs contidas nas poucas parcelas de matas ciliares, ainda remanescentes do Rio Meia Ponte, Córregos Caveira e Ribeirão João Leite.
A classe de maior expressão está destinada ao perímetro urbano ainda não edificado, que ocupa uma parcela de 55,67% da área em estudo, ou seja, 60,131 km², seguida pelas áreas urbanas edificadas que ocupam 28,568 km², correspondente a 26,45% da área em questão (Tabela 1). A classe de áreas edificadas é mais densa na Região Noroeste e os vazios urbanos, classificados como áreas não edificadas, na Região Norte e em parte da Região Meia Ponte. Os espaços vazios da Região Norte são demarcados por áreas de glebas, especialmente localizadas nas proximidades do aeroporto de Goiânia. Essas áreas podem ser reconhecidas como “terras de engorda”, que, segundo Moraes (2003), são áreas de loteamentos destinadas à reserva de mercado para a especulação imobiliária.
Na Figura 4, é possível observar o percentual de cada classe de uso e ocupação do solo, mapeadas pela técnica de processamento digital de imagens. A referida figura evidencia o predomínio da classe de áreas urbanas não edificadas, o que corrobora com as afirmativas de Moraes (2003), que já revelava preocupações com essas áreas de “terras de engorda”.
No caso do IAV, os valores mapeados foram para a categoria de análise de bairros e identificaram sua su- ficiência ou escassez, conforme preconizado pela OMS. Como resultado, podemos verificar que existe uma pequena mancha de cluster, de padrão espacial contínuo, formada por agrupamentos de bairros com valores de IAV muito baixo, menor que 9 m²/hab, na Região Norte, próximo da Avenida Perimetral Norte/BR-153. Da mesma forma, para o IAV no intervalo de 9,1 a 50 m²/hab, que é a segunda menor classe mapeada, pode-se constatar, juntamente com as áreas de glebas, suas predominâncias nas três regiões em análise (Figura 5).
As áreas localizadas às margens dos eixos de transportes, caracterizados como estruturantes, na Avenida Perimetral Norte/BR-153, são ocupadas por indústrias, empresas logísticas e áreas de serviços do setor terciário, especialmente empresas ligadas às atividades do aeroporto da cidade de Goiânia. Nessas áreas, são identificadas, ainda, zonas úmidas descobertas, provenientes da planície de inundação do Rio Meia Ponte.
O mapa de IAV evidencia que todas as três regiões possuem bairros com índices menores que 9 m²/hab, ou seja, abaixo do recomendado pela oms. A região que possui o maior número de bairros com IAV muito baixo é a Região Noroeste, com um total de 15 bairros; enquanto a Região Norte possui o maior número de bairros com IAV muito alto, em um total de 9 (Tabela 2).
Esses dados vêm a corroborar com outras pesquisas que já assinalavam que, em áreas urbanas, são visíveis os espaços heterogêneos, quando se trata da presença de vegetação. Tella e Potocko (2009) revelaram que, em cidades argentinas, a exemplo de Rosário, há uma carência na distribuição equitativa dos espaços verdes. Fato esse observado também pelos estudos de Gómez e Velázquez (2018), que verificaram assimetria quantitativa dos espaços verdes públicos da cidade de Santa Fé, Argentina, quando relacionaram as áreas verdes com a qualidade de vida urbana.
Os resultados demonstram ainda o processo histórico de formação da cidade de Goiânia, em que a região situada mais ao norte sofre influência do aeroporto, do Campus da Universidade Federal de Goiás e de áreas privadas destinadas à especulação imobiliária. Por outro lado, a região mais ao noroeste era formada por áreas públicas que o próprio Estado disponibilizou para a implantação de habitações populares, o que explica o maior quantitativo de bairros com IAV abaixo de 9 m2/hab.
Segundo Ramos (2016), como áreas que apresentam IAV abaixo do preconizado pela oms, destacam-se os bairros: Residencial Alice Barbosa, Residencial Atalaia, Residencial Morada do Bosque, Residencial Felicidade e Jardim Guanabara II e III, situados na Região Norte; Residencial Barra Vento, Residencial Belvedere I e II, Jardim Fonte Nova I, Parque Aeronáutico Antônio Sebba Filho, Jardim Colorado I, II e III, Residencial Estrela D’alva e Residencial Oreen Park, na Região Noroeste. Na Região do Meia Ponte, destacam-se os bairros: Jardim Gramado, Jardim Santa Cecília, Residencial Itamaracá, Residencial Perim I e II, Loteamento Panorama Parque, Residencial Itália, Residencial Balneário e Setor Urias Magalhães II.
Constatou-se ainda que as áreas verdes cobrem apenas um terço do total das três regiões em análise. Estas estão distribuídas entre praças, parques, APPs, APAs e demais espaços verdes públicos ou privados, de formação arbórea e arbustiva. A Figura 6 revela que as APAs e os parques estão distribuídos de forma isolada, com baixa conectividade com as APPs de cursos d’água, o que dificulta a constituição de corredores ecológicos. Em sua maioria, essas áreas estão localizadas nos extremos das regiões de planejamento, no limite das zonas periurbanas. Foi possível observar também um número reduzido de áreas que ligam as APPs com os parques, ocorrem no extremo sudeste da Região Norte, nas proximidades da br-153 e da Avenida São Francisco (Figura 6).
Nota: APP Prefeitura de Goiânia = 10.039.208,13 m2 APP calculada pelo (IAV) = 3.457.990,07 m2.
O maior número de praças está localizado na Região Norte e de parques e bosques, na Região Noroeste. Entretanto, a continuidade da implantação do projeto do Anel Viário, verificada em sua porção norte, poderá resultar na divisão do Parque Floresta, situado nessa mesma região. Na sequência da análise, identifica-se que as APPs de curso d’água, em geral, estão mais bem conservadas na porção central da área em estudo.
Contudo, o contraste entre as APPs, efetivamentepreservadas e APPs demarcadas pela prefeitura, e quedeveriam estar preservadas, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, é notório em todos os corpos hídricos das três regiões em análise (Figura 6). Constatou-seque, das áreas de APPs de 10.039.208,13 m² demarcadaspela prefeitura, apenas 3.457.990,07 m² possuem vegetação arbórea, portanto somente 34,44% dessas áreasestão preservadas. Tais cenários foram mapeados nas APPs do Ribeirão Guanabara, porção leste, e no Rio Meia Ponte, porção central. Em ambos os casos, a vegetaçãociliar foi parcialmente suprimida, com destaque ao fato de que o Rio Meia Ponte é o principal ponto de captação de água para o abastecimento público da cidade de Goiânia. Situação semelhante é identificada também nos ribeirões Anicuns e Caveiras.
A Tabela 3 apresenta a população total e o quantitativo de espaços verdes mapeados, bem como o IAV calculado para cada uma das três regiões em análise. É possível observar que a Região Norte possui o maior IAV, quase o triplo do valor da Região Meia Ponte e aproximadamente o dobro da Região Noroeste. Sua população total de 140.661 habitantes resulta em um IAV de 128,71 m²/ hab. Valor muito próximo ao encontrado por Martins Júnior (2013) para o município de Goiânia, que foi da ordem de 100 m² de áreas verdes por habitantes. Porém, é importante mencionar que tal valor é um índice médio, estimado para todo o município, o qual não representa sua variabilidade espacial, o que conduz a uma homogeneização da informação.
Nota: *demais espaços verdes: verde arbóreo ou arbustivo que não se enquadra nas classes anteriores.
A Região Noroeste possui 10.604.991,89 m² de superfícies verdes que não coincidem com as mesmas categorias identificadas para a Região Norte, pois não se observam, nessa região, áreas de APAs. Sua população de 163.611 habitantes perfaz um IAV de 64,82 m²/hab. Já na Região Meia Ponte, identifica-se um montante de superfícies verdes de 6.271.474,88 m², com um percentual correspondente a 32,44% do total da área de estudo. A população de 125.458 habitantes gera um IAV da ordem de 49,99 m²/hab, o mais baixo índice das três regiões analisadas.
Como o fator determinante é o número de habitantes pelo quantitativo da extensão das áreas verdes, fica evidente que, das três regiões em análise, a Região Meia Ponte detém o cenário menos favorável, em que 9, do total de seus 48 bairros, foram classificados com índice inferior a 9 m²/hab.
Esses dados corroboram para a afirmação de que o verde urbano na Região Meia Ponte é desigual, já que apresenta o menor IAV. O resultado está relacionado ao fato de que a região possui ocupação urbana já bem consolidada, sendo a mais antiga e a mais próxima do centro urbano de Goiânia. No entanto, é importante mencionar que, mesmo com o menor IAV calculado, observa-se que as áreas verdes públicas destinadas ao lazer, parques e praças, ocupam, juntas, seu maior montante nessa região, o que ressalta a importância da preservação e da manutenção desses espaços.
A Figura 7 ilustra os bairros Conjunto Samambaia e Jardim Gramado, que apresentam o maior e o menor IAV, respectivamente. O Conjunto Samambaia, situado na Região Norte, próximo ao Campus II da Universidade Federal de Goiás, possui 43 lotes (modelo — tipo chácaras de alto padrão social) com área total de 944.285 m² e área verde de 329.070 m². Assim, esse bairro, com população de apenas 17 habitantes, foi o que apresentou o maior IAV, igual a 19.357 m²/hab.
No caso do Conjunto Samambaia, a vegetação gera benefícios ambientais, dos quais podemos destacar aqueles apresentados por Nowak, Crane e Stevens (2006), que avaliaram que a vegetação em áreas urbanas retira do ar gases poluentes como: Ozônio (O3), Dióxido de Nitrogênio (NO2), Dióxido de Enxofre (SO2) e Monóxido de Carbono (CO). Nos estudos conduzidos pelos referidos autores, foi observado que tal benefício resultou em economia para o sistema de saúde em cidades norte-americanas.
Já o bairro Jardim Gramado está localizado na Região Meia Ponte, próximo da Avenida Perimetral Norte, divisa com a Vila Maria Dilce. Com uma área total de 249.486 m², possui um quantitativo de 336 lotes, que variam de 299,99 a 661,17 m². Sua área verde é de apenas 32,87 m², com uma população, contabilizada no último censo demográfico, de 333 moradores, o que faz apresentar o menor IAV, da ordem de 0,987 m²/hab. Os impactos desse baixíssimo índice podem ser variados, dos quais podemos citar aqueles relacionados ao aumento de ruídos provenientes da Avenida Perimetral Norte, que, como mencionada, serve de ligação entre duas rodovias da Região Metropolitana de Goiânia.
Gidlöf-Gunnarsson e Öhrström (2007) observaram as diferenças entre as condições psicossociais de moradores que residem em áreas de alta e baixa intensidade de ruídos provocados pelo tráfego de veículos. Os autores concluíram que, em áreas vegetadas, é reduzido o incômodo gerado pelo ruído dos veículos (independentemente da intensidade) e que os sintomas relacionados ao estresse psicossocial podem ser praticamente ausentes.
Outro fato curioso, a exemplo do bairro Jardim Gramado, é que, em bairros periféricos de formação re- cente, a vegetação é quase totalmente suprimida na fasedo loteamento e da abertura de ruas. Seus habitantes fazem a arborização por iniciativa própria somente apósa implantação das moradias. Dessa maneira, é evidenteque a questão do verde urbano como fator paisagísticoestético e ambiental, nas maiorias dos loteamentos, ainda é deficiente.
Tal deficiência decorre do fato de que as construtoras de habitação popular não investem em projetos de ações sustentáveis. Isso resulta em bairros sem praças e na ausência de parques e bosques. Ademais, a ausência devalor simbólico e cênico pode colocar em risco muitosdos espaços verdes ainda existentes, decorrente da faltade caracterização e de reconhecimento para converter essas áreas efetivamente em espaços de lazer e/ou de preservação ambiental.
Nesse sentido, podemos salientar o uso do índice de distribuição espacial da vegetação arbórea e arbustiva por habitante como um bom indicador da qualidade ambiental urbana. Nas visitas realizadas in loco, constataram-se desmatamento e ocupação de APPs, ausência da manutenção de praças e parques, espaços públicos de lazer descuidados, além da compactação e de construções urbanas em áreas de nascentes (Figura 8), principalmente nos bairros mais periféricos da cidade, o que evidencia a segregação socioespacial do verde urbano no que se refere à qualidade de vida.
Fotografia dos autores, maio de 2016. Nota: a) Praça sem manutenção localizada em área de APP — Setor Guanabara II; b) Escombros de ocupação em APP do Rio Meia Ponte — Setor Guanabara II; c) Lote modelo chácara no Conjunto Samambaia, maior IAV; d) Loteamento no bairro Jardim Gramado, menor IAV.
Conclusões
A metodologia aplicada revelou-se adequada na identificação da desigualdade das áreas verdes urbanas, entre os bairros constituintes das três regiões analisadas. Dessa forma, é conclusivo o mérito dos procedimentos cartográficos adotados na medida em que o IAV mapeado por categoria de bairros e refinado pela técnica dasimétrica culminou em um diagnóstico mais apurado da irregularidade espacial do quantitativo do verde urbano por habitantes das unidades geográficas efetivamente habitadas.
O IAV variou desde valores muito baixos, de 0,987 m²/hab, aquém do preconizado pela oms, a bairros com valores bastante elevados, da ordem de 19.357 m²/hab, representativosde lotes modelo chácaras, de alto padrão social, destinados às atividades de lazer. Essa disparidade dos índices obtidos está diretamente atrelada às diferentes condições decriação, preservação e manutenção desses espaços, quedesvela a desigualdade socioespacial de acesso igualitário aos benefícios proporcionados pelo verde urbano.
Soma-se a essa questão a omissão de fiscalização do Estado, aliada ao capital imobiliário, em que os interesses comerciais se sobrepõem aos interesses dos diversos atores sociais. Desse modo, surgem os conflitos de uso na cidade, bem como a falta de enfrentamento, por parte do poder público, das práticas que privilegiam apenas as regiões mais nobres de Goiânia, e não o bem-estar social.
Além disso, equiparada a outras cidades sul-americanas, essa irregularidade na distribuição e na valoração das áreas verdes de Goiânia pode comprometer o equilíbrioecológico e provocar a carência de habitats saudáveis,confortáveis e capazes de satisfazerem os requisitos básicos de um ambiente urbano sustentável.
Assim, podemos assinalar que a ausência de manutenção dos espaços verdes urbanos poderá acarretar, a curto prazo, a sua redução ou, até mesmo, a sua supressão, comprometendo o índice de qualidade de vida da população goianiense. Nesse sentido, faz-se alusão às análises de Martins Júnior (2013), que previa a redução de 54,4% do índice de áreas verdes para a cidade de Goiânia. Tal redução ocorre pelo aumento da densidade demográfica e pelo sistema da política urbana associada à falta de fiscalização das normativas previstas no Plano Diretor da cidade.
Portanto, a percepção do IAV poderá influenciar, sobremaneira, as ações e estratégias do desenvolvimento sustentável municipal. Assim, torna-se imprescindível recordarmos que a arborização de Goiânia já era prevista no projeto urbanístico inicial da cidade. Contudo, na atualidade, os projetos de arborização vêm sendo esquecidos, não sendo prioridade, pelos atuais gestores administrativos.
Ademais, podemos concluir que os benefícios resultantes da presença dos espaços verdes em uma cidade estão diretamente relacionados com a quantidade, a qualidade e o sistema de distribuição destes dentro da malha urbana. Quanto maior a densidade demográfica em seus bairros, indubitavelmente, maior será a necessidade da presença de espaços verdes para a obtenção de um IAV/hab favorável à melhoria da qualidade de vida da população.
Agradecimentos
O primeiro autor agradece o fomento concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) na modalidade de bolsa de pós-graduação.
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RECEBIDO: 14 DE JUNHO DE 2018. AVALIADO: 14 DE DEZEMBRO DE 2018. ACEITO: 4 DE ABRIL DE 2019.
COMO CITAR ESTE ARTIGO: Ramos, Helci Ferrerira; Nunes, Fabrizia Gioppo; dos Santos, Alex Mota. 2020. “Índice de áreas verdes como estratégia aodesenvolvimento urbano sustentável das Regiões Norte, Noroeste e Meia Ponte de Goiânia-GO, Brasil.” Cuadernos de Geografía: Revista Colombiana de Geografía 29 (1): 86-101. doi: 10.15446/rcdg.v29.n1.72844.
Helci Ferreira Ramos
Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) na linha de pesquisa de análise ambiental
e tratamento
da
informação
geográfica.
É especialista
em Análise
Ambiental
e Geoprocessamento,
ambas
as
especializações
realizadas
na
UFG.
Atualmente,
é
técnico
em
geoprocessamento
do
Ministério
Público
de
Goiás
(Brasil),
atuando
nas
áreas
de
análise
ambientais,
banco
de
dados,
sistema
de
informação
geográfica,
geoprocessamento,
processamento
digital
de
imagens
e georrefereciamento
de
imóveis
rurais.
Fabrizia Gioppo Nunes
Doutora em Geologia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, é professora
adjunta
da
Universidade
Federal
de
Goiás
(UFG),
no
Instituto
de
Estudos
Socioambientais
(Iesa),
Brasil.
Vinculada
ao
Programa
de
Pós-Graduação
em Geografia
(Iesa-UFG),
atua
nas
temáticas
de
análise
e modelagem
de
dados
espaciais
e geoprocessamento
em urbanismo.
Alex Mota dos Santos
Doutora em Geologia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, é professora
adjunta
da
Universidade
Federal
de
Goiás
(UFG),
no
Instituto
de
Estudos
Socioambientais
(Iesa),
Brasil.
Vinculada
ao
Programa
de
Pós-Graduação
em Geografia
(Iesa-UFG),
atua
nas
temáticas
de
análise
e modelagem
de
dados
espaciais
e geoprocessamento
em urbanismo.