Resenha de La serpiente sin ojos (Ospina, 2012)
Review of La serpiente sin ojos (Ospina, 2012)
Reseña de La serpiente sin ojos (Ospina, 2012)
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Resenha de La serpiente sin ojos (Ospina, 2012)
Review of La serpiente sin ojos (Ospina, 2012)
Reseña de La serpiente sin ojos (Ospina, 2012)
Como citar esta resenha: Cárdenas-Espinoza, F.O. (2017). Resenha de La serpiente sin ojos (Ospina, 2012). Mundo Amazónico, 8(1): e64622. https://doi.org/10.15446/ma.v8n1.64622
Andrello, G. (2006). Cidade do índio. Transformações e cotidiano em Iauaretê. São Paulo: Editora UNESP ISA; Rio de Janeiro: NUTI. 447 pp. ISBN: 8571396590.
Editor: Germán Palacio
Fecha de envío: 2017-04-20 Fecha de aceptación: 2017-06-16
Freddy Orlando Cárdenas-Espinosa1
1Máster em Estudos Amazónicos. Professor Universidade Estatual de Amazonas, Tabatinga. fmespinozac@unal.edu.co
O apocalipse do Novo Mundo
Quando a gente chega pela primeira vez à selva, tudo lhe parece diferente a sua terra; calor insuportável, abundante água, úmidas florestas, cores vivas e alegres, sabores e cheiros da natureza, pessoas que falavam e riam diferente, mulheres de olhares misteriosos e cativantes que pareciam princesas persas, frutas agridoces deliciosas e chuvas torrenciais. Mas quando a viagem não é a passeio nem de turismo senão a trabalho, seja este como servidor público ou como imigrante a procura de um futuro quase sempre incerto, o tempo passa rápido. Para estes, a sua adaptação nestas terras calientes será sempre muito difícil. Já vi agentes públicos que vem à Amazônia por imposição ou punição, para eles lhes será complicado ajustar-se ao clima e à cultura desta região, para os incautos e desavisados se deixaram levar pelo curso sinuoso do vaivém da vida. Mas, como teria sido a chegada para esses europeus do século xvi que vieram pela primeira vez ao Novo Mundo? Quais eram suas convicções e ideias para enfrentar este universo inimaginável? Como enfrentariam esta intempérie tropical com vestes pesadas e grosseiras? Como proteger-se de esses invisíveis exércitos de insetos infernais que devoram sem piedade a suas brancas peles pálidas? Onde encontrariam açúcar e sal para condimentar os alimentos insípidos e ácidos deste imenso bosque? Onde orar ou rezar nesta região de mata emaranhada, cuja abobada sagrada é o próprio céu da selva? Onde encontrar o regaço da mãe e colo da mulher amada, pois as daqui são selvagens de pele curtida? A que comparariam esta terra ignota esses guerreiros espanhóis, a maioria analfabeta e ignorante, que nos seus cérebros guardavam imagens de bíblicas misturadas com mitos gregos e lendas bárbaras? Somente um sentido grotesco de poder, gloria e fortuna poderia explicar esse disparate medieval, que causou estranheza e vergonha aos habitantes originários deste longínquo hemisfério.
William Ospina, em seu último romance La serpiente sin ojos, editado pela Mondadori em 2012, conseguiu relatar essa viagem despautério dos espanhóis pelo Grande Río de las Amazonas em 1561, com toda a força verossímil que exige o rigor da história e a mágica imaginação que reclama a literatura. Transcender através do tempo para nos entregar uma nova visão do encontro de dois mundos, numa época em que a globalização nos tem aproximado muito mais no aspecto mercantil que social e cultural, a ponto de nos distanciarmos muito mais da natureza do que desta civilização moderna. Em certo modo, a irrupção deste terceiro romance de William Ospina engaja-se na questão da Amazônia, hoje tão vilipendiada e injuriada pela ação do homem no seu afã de usufrui-la e exauri-la pela ambição neocapitalista dos modernos conquistadores. Para isto o autor vale-se dos hendecassílabos barrocos do jurista, clérigo e poeta espanhol Juan de Castellanos, que Ospina descobre nos estantes da Biblioteca Nacional do Banco da República da Colômbia, praticamente os textos de Castellanos são um roteiro para sua trilogia sobre o descobrimento e conquista do Amazonas.
No entanto, digo eu, William Ospina paga uma dívida de promessa que Gabriel García Márquez fez ao povo da tríplice fronteira em 1984, por ocasião do quadricentenário do descobrimento do rio Amazonas. Gabo visitou Leticia e numa palestra com os estudantes e professores da Escola Normal disse que pretendia rescrever a crônica de Gaspar Carvajal a fim de provar que muito pouco tem mudado o olhar dos conquistadores europeus e a percepção dos habitantes deste mundo. Daí que William Ospina se vale de um narrador mestiço, de sangue indígena e europeu, vital para seu propósito de recriar esse périplo do passado com uma nova interpretação a fim de gerá-la com uma nova língua que amalgamara nomes e topônimos da região, coesos a verbos e tropos latinos para revelar-nos essa viagem fantástica e impressionante que desde sua concepção estava fadada ao fracasso. O autor de La serpiente sin ojos pretende confrontar-nos à questão da identidade do homem latino-americano que se diz europeu, ou seja, que leva no seu arcabouço o conceito da república e a democracia romana, a filosofia grega e a literatura ocidental sem perceber que pelas suas veias corre sangue indígena que leva no seu bojo uma ideia de sociedade que é totalmente oposta à cultura dominantemente materialista, produtivista e consumista deste velho mundo. O autor intenta, através de seu narrador, imprimir essa luta interior na qual pensa com o pessimismo do raciocínio cartesiano, tratando de afogar a sua própria voz de revolta e indignação pelo atropelo indiscriminado de quinhentos anos de supremacia europeia. Mas, talvez, o maior amago de William Ospina seja a história de amor entre a mestiça peruana Inés de Atienza e o nobre europeu Pedro de Ursúa. Um romance de amor numa época de loucura irracional implica descrever a coragem e o horror dos amantes que embriagados pela paixão deixam-se arrastrar pelas forças do destino trágico e violento como um espelho barroco da própria história ibero-americana, dando-nos a impressão de que continua a guerra e o ódio nesta região entre a fronteira da barbárie e da civilização. O romance de William Ospina demonstra-nos que muito pouco tem mudado nesta vasta região amazônica, passados cinco séculos desse triste encontro entre Europa e a floresta amazônica; só resta a ruina e devastação para os habitantes originários desta terra e para os descentes mestiços desses fidalgos europeus.
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